Beatriz Machado 19/07/2022
Uma Rússia distópica!
Foi meu primeiro contato com Vladímir Sorókin, autor russo moderno-contemporâneo, conforme descrito no posfácio. Neste livro, nós acompanhamos o dia a dia de Andrei Danilovich Komiaga, um Oprichnik, de uma divisão da Rússia chamada Oprichnina.
Publicado em 2006, o livro trata-se de uma distopia de uma Rússia de 2027 (só há 5 anos nos separam), ou também chamada de "Santa Rússia" ou "Nova Rússia". Nesse país, o tsar Ivan (O Terrível) ressurge e retorna à história com os seus Oprichniki (sim, o plural é esse), que serão responsáveis por lhe cultuarem, protegerem-lhe e, ainda, trazerem a ordem e impedirem a subversão russa, principalmente vinda do ocidente.
Para a distopia de Sorókin, a monarquia russa foi restaurada. a necrópole onde descansavam os soviéticos honrados foi destruída, o corpo embalsamado de Lênin foi enterrado, as muralhas do Kremlin foram pintadas de branco e a Rússia futurista tornou-se isolada do ocidente, separada por uma grande muralha (equivalente a da China), permitindo somente que o terceiro gasoduto do país (que não existe, obviamente) aquecesse boa parte da Europa Ocidental.
E como esquecer dos chineses? Eles passaram a habitar fortemente uma parte da Sibéria, na divisão que hoje leva o nome de planície Ocidental Siberiana. Os chineses não só passaram a habitar, como também passaram a participar do vocabulário russo, além de participação ativa no mercado eslavo e muito dos produtos consumidos pelos russos eram chineses. Somente na Sibéria Ocidental já habitavam quase 30 milhões de chineses!
O Estado Russo, na distopia do autor, é sagrado e a crueldade é uma arte, tudo passa ser resolvido na base do sangue e a sexualidade passa a ser um fio condutor da violência. Quem mente ao Estado, quem subverte a ordem, quem trai a Rússia pode pagar com a vida, ou até com a violação do próprio corpo (gatilho de vocês sabem o quê). Portanto, os Oprichniki não estão em nenhuma piada, é a famosa guarda de elite cruel de Ivan, O Terrível que realmente existiu e está de volta e o livro traça o cotidiano de um deles, em uma Rússia high-tech e ao mesmo tempo muito medieval.
Como diz no posfácio: 'Daí resulta a figuração da 'velha nova Rússia' como um país 'do futuro no passado', na expressão acertada por Marina Aptekman (1995)."
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