Lucas Muzel 18/07/2024Aperitivo dos pesadelosEssa edição mostra a primeira vez em que a LJA teve a formação dos “great seven” desde a cronologia pós crise. Achei curioso o texto introdutório feito pelo Grant Morrison. Ele afirma que os anos finais da década de 1990 seriam um tipo de retomada do ideal super-heroico, abandonando a brutalidade e tentativa de emular apenas pedaços de clássicos como Watchmen e Cavaleiro das Trevas. O que o otimista roteirista não imaginava era que essa “era sombria” iniciada em 1984 estava longe de acabar. De certa maneira, continua até hoje. O começo dos anos 2000 foi a época dos trajes de couro preto, do cinismo e da desconstrução pós-modernista autorreferencial. Alguns anos depois, a Crise de Identidade causou um estilhaço moral na DC Comics que reverberou por muito tempo, ao tentar imitar a Marvel. Na década seguinte, os anos 2010 levaram a um tiro naágua chamado Novos 52, e por aí vai. O que dá para notar é que o escritor calvo seguiu nessa linha com as suas obras. E nesse encadernado, ele ainda não atuou.
O roteiro das três primeiras edições é compartilhado entre Fabian Nicieza e Mark Waid. Tem alguns momentos onde ocorrem diálogos entre Batman e Superman, onde ambos fazem contrastes e comparações. Isso me parece muito mais Nicieza do que Waid.A parte do Kyle Ryner tem um leve elemento de metalinguagem. Conta com referências às HQs da época. Mulher-Maravilha do Byrne e Flash do Waid. Seria curioso se o próprio Waid tivesse vontade de fazer uma referência a si mesmo.
A história do primeiro arco é bem manjada, mas bem executada. Os integrantes da LJA estão em um tipo de ilusão mental. Um cenário muito semelhante ocorreria mais pra frente com o vilão O Chave. Cada integrante nota que há algo de errado, e começam a se acordar. Batman e Superman, os Melhores do Mundo, são os dois primeiros. Achei muito bem sacado a ideia de Bruce Wayne criar uma rede de centenas de protegidos, despejando muito dinheiro para evitar que seu trauma se repetisse com alguém. É uma maneira diferente de criar diversos Robins. Achei também muito a cara do Batman a maneira como ele “despertou” o Aquaman. Essas aventuras contrastam os modos do Superman e do Batman em diversas ocasiões.
Aí tem a revelação de quem está por trás de tudo. É um vilão cósmico não muito memorável. Do tipo que poderia aparecer em um filme da Marvel. A única relevância dele é a sua ligação com os Malthusianos de Oa, a referência ao Vandal Savage, e, principalmente, a tal profecia que ele faz. De que há uma grande ameaça vindo no futuro. Já sabendo de antemão o que ocorrerá, resta apenas especular do que se trata. Um primeiro palpite pode indicar que seja o Starro, que marcaria já a próxima história. Outra possibilidade seria a famigerada Terceira Guerra Mundial. A segunda teoria faz mais sentido se considerarmos as diversas referências plantadas por Grant Morrison nas edições que virão a seguir.
A última história é mais curta, mas ainda assim interessante. Tem uma parte que é “O que aconteceria se…?”, usado como dispositivo argumentativo do Espectro. Quando a argumentação falha, nada melhor que usar poderes praticamente divinos para mostrar o que, certamente, acontecerá. A LJA resolve esse impasse pensando no bem comum. Como é uma história de “origem secreta”, obviamente tudo se resolve no final, e espanta o temporal. Pelo que me lembrava anteriormente, era o Sandman que fazia algum tipo de argumentação com a Liga sobre uma ameaça. Talvez eu tenha misturado a história com outra história do tipo “Arquivos secretos” onde Daniel apareça, e os avise de um cenário possível. Possivelmente é a que virá também mais pra frente.
Esse primeiro encadernado serve apenas como aquecimento. É parte Waid e pouco Morrison. Para quem não conhece direito a equipe, serve como uma apresentação para quem são os personagens, e o básico sobre suas características e atuações dentro da equipe. Os motores esquentam realmente na próxima edição.