spoiler visualizarlahmot 23/03/2023
Li logo após terminar O Médico e o Monstro e me surpreendi com o quão mais carregada essa história é. Não digo isso por achar a leitura cansativa nem arrastada, mas é muito mais detalhada por ser contada em primeira pessoa a partir do ponto de vista do personagem central (Victor Frankenstein), enquanto O Médico e o Monstro é contada, da forma como gosto de chamar, "por meio de fofoca", que nesse caso se refere às descobertas de um narrador de fora que não está diretamente envolvido nos acontecimentos principais da trama. Os autores dessa época gostavam bastante desse meio de narrativa, o que não é necessariamente ruim, mas fiquei feliz que Frankenstein fugiu disso.
Gosto de interpretar que Victor Frankenstein é um narrador não confiável, daí você me pergunta "Mas por quê?", e eu te digo, porque eu passo todos os panos possíveis para o monstro.
Essa criatura, que sequer um nome tem (ele é referido como monstro, diabo, entre outros títulos pejorativos), comeu o pão que o diabo amassou. Sabe aquela frase "O homem nasce bom, a sociedade o corrompe"? É basicamente isso o que acontece com o bicho. Ele é abandonado por seu criador e vive meses observando uma família e ganhando conhecimento a partir de seus costumes, a partir do carinho que os membros um tem pelo outro, ele ganha um afeto simbólico por cada um deles, os considerando até como "amigos", porém a partir do momento em que ele tenta se comunicar com eles, pedir sua amizade, ele é recebido com horror, com a única exceção do velho cego, afinal, era o único membro que não julgaria o monstro por sua aparência. No fim, ele é atacado e a família se muda dali. Claro que a atitude stalker do monstro não é muito de bom tom né, mas as intenções dele no fundo eram boas, e ele só queria ser amado da mesma forma que a família amava uns aos outros. Ao perceber que ele jamais seria compreendido por algo além de sua aparência, ele surta e busca vingança, e é aí que entra o ponto de vista de Victor.
Victor Frankestein é um sujeito que nasceu em uma família rica e que possuía grande capacidade intelectual, um dia ele fica meio maluco e decide que é uma boa ideia tentar criar vida do zero, e é aí que surge nosso querido. Ele se tranca por meses para criar o bicho, mas quando o bicho ganha vida, ele simplesmente se apavora e foge, deixando ele ao deus-dará. Quando o reencontra, a criatura está enfurecida com ele, e por bom motivo, daí ao invés do Victor reconhecer o erro e cumprir a única promessa que fez a ele, ele foge novamente.
Na minha opinião, os dois estavam fadados à desgraça, mas dava pro Victor ter ao menos evitado a morte de boa parte da família dele, se ao menos tivesse cumprido sua promessa.
O final do livro mostra muito bem que o "monstro" não era monstro coisa nenhuma, era apenas uma criatura perdida, cega pela raiva de seu criador. No fim, ele não é tão diferente do ser humano médio; ele é o espelho daqueles para quem a sociedade deu às costas, para quem o mundo não quis ouvir, daqueles que não receberam uma chance.
Não dou 5 estrelas porque o Victor é um chato, mas ótimo livro.