Em um com o impulso

Em um com o impulso Vladimir Safatle




Resenhas - Em um com o impulso


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Jess.Carmo 20/07/2023

Em um com o impulso
A crítica à abstração é reacionária: "[...] certas correntes estéticas herdarão da política conservadora e reacionária essa desconfiança em relação à abstração. Pensemos, por exemplo, na afirmação de críticos de arte contemporâneos que terão em vista a defesa de alguma forma de 'realismo', como Pierre Restany, ao afirmar que: 'a arte abstrata recusava por definição todo apelo da realidade exterior: a arte de evasão e recusa do mundo, ela correspondeu à manifestação extrema de uma visão pessimista da condição humana" (p. 22)

"[...] para a experiência estética, não haverá outra alternativa a não ser fazer a gramática da linguagem ordinária desabar, impedir que ela nomeie o que quer que seja, para que outro campo de experiência seja possível. A arte mostrará saber, melhor que qualquer outra práxis, que 'César é também senhor da gramática', que o exercício do poder encontra-se fundamentado na elaboração das condições sintáticas da vida social, na imposição de uma gramática que regulará o sentido das ações, o horizonte dos problemas, a configuração das soluções, a estrutura dos sujeitos agentes, a urgência das decisões." (p. 37)

"Poderíamos nos perguntar qual o interesse em afirmar a existência de uma linguagem do povo, a não ser para aqueles que se colocam como seus porta-vozes, com a legitimidade e a pretensa autoridade que tal autoenunciação implicaria. E no contexto sócio-histórico que é o nosso, não é tarefa difícil perceber que normalmente tal tarefa é assumida pela indústria cultural e seu sistema de produtos. Ou seja, há que admirar que o mais profundamente 'popular' seja atualmente tão facilmente traduzível na lógica cultural do Capital, de suas aspirações monopolistas e sobretudo de seus dispositivos de personalização proletária. O 'popular' tornou-se, por alguma dessas coincidências fantásticas próprias a nosso tempo, o mais profundamente monetizado e que mais facilmente se traduz em um modelo espetacular de apresentação. Uma tradução sem resistência e sem decomposição. O que nos coloca questões sobre como efetivamente se produz o popular em uma era histórica como a nossa, sobre quais são os interesses por trás da enunciação da unidade da linguagem popular ou de sua pretensa tradutibilidade genérica de base." (p. 40)

"Tudo se passa como se a autonomia estética fosse a realização da autonomia moral por outros meios. A submissão da autonomia estética à matriz moral da autonomia está principalmente enraizada na absorção dos princípios reguladores de certa noção de emancipação ligada às temáticas do autogoverno, da autolegislação, da jurisdição sobre si mesmo. Ou seja, da liberdade como capacidade de ‘dar para si mesmo sua própria lei'" (p. 50)


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