Paulo 12/05/2024
Embora o nome do livro sugira, ele não caminha pela política nem aponta para ela. O teatro pobre que Grotowski propõe (ou conclui) não se trata de situações econômicas, classes sociais, do ator/artista pobre e de sua falta de condição para praticar o que almeja, de uma arte que luta para existir, não, o "pobre" aqui significa, em outras palavras, desnudar o teatro de todos os elementos e estéticas que, para Grotowski, podiam ser desnecessários, supérfluos. O que o grande diretor polonês considerava essencial: o ator, a platéia e a relação entre os dois, ou seja, mesmo o figurino, a maquiagem e os cenários, e até mesmo o texto, poderiam ser removidos, o teatro precisa e pode se bastar com o ator e o espectador.
O livro não é inteiro uma única tese, ensaio ou dissertação somente do próprio Grotowski sobre sua proposição do teatro pobre, ele é quem inicia o livro mas o que se segue são vários outros tipos de textos também de outras pessoas, há entrevistas, ensaios de colaboradores e até análises de peças, elas quase inteiramente reproduzidas aqui com ilustrações dos diferentes tipos de palcos e diferentes possibilidades dos atores se misturarem e circularem pelos espectadores. Mas todos os textos funcionam como adendos de explicação sobre o teatro pobre.
Grotowski criou um grupo/instituição chamado Laboratório, onde ele praticava com os atores essa sua visão do que é ou o que deve ser teatro. Vários dos exercícios que usava para treinar os atores e fazê-los se desprenderem de bloqueios e da vergonha são descritos aqui. São exercícios para voz, para postura, para relaxamento físico, mas são exercícios muito desafiadores, soam cansativos e muito difíceis, especialmente por na maioria das vezes parecerem abstratos demais, quase incompreensíveis para quem lê, realmente devem ser praticados sob supervisão de especialistas no "método Grotowski".
Além dos exercícios, muito interessante é a ênfase que Grotowski dá à disciplina que o ator deve ter, ao rigor do comportamento durante as aulas, do respeito entre os atores, e até mesmo na separação categórica entre vida privada e aula/trabalho (de ator), no sentido de não levar os problemas etc. pessoais para as aulas e tampouco de levar textos e práticas das aulas para a vida cotidiana, sob risco de banalizar as descobertas e a espontaneidade.