ladymetatron 27/07/2023
Me surpreendeu positivamente.
Confesso que a saga de Strike e Robin não me agrada muito. Desde o terceiro volume, Vocação para o Mal, os livros são extensos, muitos diálogos que não levam a nada e descrições cansativas seguidas de parágrafos gigantescos. Mas gosto muito dos dois como detetives e como eles evoluem a cada livro, e me dá muita vontade de saber o que irá acontecer com eles em sua próxima aventura.
Antes de começar, quero dizer que esse livro deu um bafafá enorme no Twitter ano passado após seu lançamento, porque apareceu pessoas dizendo que a autora usou-o como uma forma de se "vitimizar" de suas acusações de transfobia. Eu até lembro de uma pessoa dizer que o livro tinha "1400 páginas de puro desabafo", e eu acabei achando engraçado, não minto, o que se provou, literalmente isso. É um desabafo da autora.
Digo isso porque, ao longo da narrativa, há coisas extremamente específicas: fãs atacando a desenhista o tempo todo nas redes sociais, uma massa gigantesca desses “trolls de internet” organizando ataques, e nisso, fica difícil não enxergar o fandom de Harry Potter ali — porque, acreditem, 90% das pessoas que criticam seus posicionamentos no Twitter são os próprios fãs de Harry Potter e não pessoas de fora.
Não foi uma coisa que me incomodou na leitura, muito pelo contrário. Achei genial como a autora abordou essa massa de hate que é envolta, quase que 95% de todos os fandoms que existem na internet, incluindo grupos de ódio como esses incels e redpills da vida, porém, achei que ela exagerou demais nos diálogos do jogo e de redes sociais, o que acabou deixando a investigação em segundo plano.
Sobre o enredo do livro, posso dizer que me surpreendi muito. Como citei lá em cima, após Vocação para o Mal, acabei achando essa saga chatérrima de se ler, mas com o Coração de Nanquim, foi diferente. Eu cheguei a ler duas a três horas direto, porque eu só ia, querendo saber mais como a história iria se desenvolver. Devo até confessar que essa história, em especial, tem alguns traços que me lembram muito o segundo livro da série “O Bicho-da-Seda”, que é o meu favorito.
Gostei muito da Robin nessa história. O desenvolvimento dela foi perfeito, seja como uma investigadora, ou como personagem, e eu sempre quis que ela tivesse mais destaque, o que, para mim, foi um presente nesse enredo. Sobre o Strike, teve momentos em que ele foi muito canalha e presunçoso, o que pode ter atrapalhado muito na evolução dele. Os dois juntos na investigação também deram saltos positivos, mas fiquei muito irritada por não ter tido nenhuma evolução no possível romance deles (kkkk, ódio).
Sobre o final e a descoberta do Anomia, foi muito corrido e não explicou praticamente nada de como ele e Morehouse se tornaram amigos, como começou o jogo e só ficou nas entrelinhas. Não teve uma explicação grande, só foi um resumo no último capítulo. Fiquei muito decepcionada.
Agora, quero falar de partes que me incomodaram no plot em si, que são coisas particulares minhas. Uma coisa que me incomodou, mas especialmente na construção gráfica do livro foram os diálogos. Eu li no Kindle, porque um livro de mais de mil páginas eu não conseguiria ler com conforto se fosse no físico, e os diálogos de chat do jogo ficaram todos bagunçados e sem sentido. Foi uma coisa que me incomodou muito no início da leitura, mas depois, me acostumei com eles, mas parece que na versão gringa teve esse mesmo problema, a qual a Amazon parece que consertou tempos depois. Só nos resta saber se a versão brasileira vai ter uma revisão.
Outra coisa que vi muitas pessoas no Instagram reclamando foi a mudança repentina de tradutor, e alguns acabaram não aprovando. Sendo sincera, achei que o trabalho do Edmundo Barreiros ficou excelente e profissional, não devendo nada aos trabalhos anteriores da Ryta Vinagre, traduzindo muitos termos de internet para a nossa língua, que ficaria difícil para nós, entendermos se fossem algo traduzidos ao pé da letra, como acontece em alguns livros que usam esse tipo de linguagem. Espero que ele continue nas traduções dos próximos livros.
No mais, gostei de O Coração de Nanquim. Não é o melhor livro da série, e tampouco é o meu favorito, e também não muda muito o que eu penso da série como um todo, mas acho que ele foi a porta de entrada para eu dar uma segunda chance ao enredo, que a autora está evoluindo, principalmente na construção de Strike e Robin. E que venha The Running Grave!