Evy 26/03/2024Triste e difícil, mas necessário!Meu segundo contato com a narrativa de Cibele Laurentino e posso dizer que gosto muito da maneira como ela constrói as histórias. Esse livro em especial, retrata um tema importantíssimo que é a maternidade e de uma forma real e dolorosa, mas que acontece e a sociedade tem dificuldades para aceitar. Nem toda mulher nasce para ser mãe, como já dizia Lya Luft e complementa: "e nem toda mãe é mártir. Muitas são algozes, aliás.“.
Dito isso, vamos à essa narrativa importante. O livro é um mergulho profundo na psique de Madalena, marcada por uma infância permeada por abandono emocional e violências verbais e físicas. A autora Cibele Laurentino constrói habilmente a narrativa, explorando as cicatrizes deixadas pela mãe narcisista de Madalena e como essas feridas moldaram sua jornada de autodescoberta e busca por amor e aceitação.
Desde a tenra idade, Madalena é confrontada com a cruel realidade de ser chamada de "inútil" por sua própria mãe, um rótulo que se torna uma sombra sobre sua vida. Crescendo distante do pai e enfrentando a solidão e a falta de apoio emocional, ela entra tardiamente no mundo da educação formal aos oito anos, carregando consigo uma bagagem emocional pesada que afeta sua capacidade de se relacionar e construir uma autoestima saudável.
O cerne da narrativa reside na jornada de Madalena para superar as amarras emocionais impostas por sua mãe narcisista. À medida que ela enfrenta seus demônios internos, confrontando as memórias dolorosas e os padrões disfuncionais de relacionamento, o leitor é levado a muitas reflexões importantes, pois aborda questões universais de identidade, pertencimento e redenção. A luta de Madalena para se libertar das correntes do passado e encontrar sua própria voz e identidade é comovente e inspiradora.
A autora consegue entrelaçar temas complexos como abandono emocional, autoestima, relacionamentos disfuncionais e busca por amor e aceitação, através de uma prosa sensível e introspectiva, dando vida aos dilemas internos de Madalena e nos levando a várias reflexões importantes. O que me leva a ressaltar um ponto que muitas vezes é negligenciado: a presença de uma voz poderosa de culpabilidade em relação à mãe. É comum, quando algo dá errado, atribuir à mãe o papel de maior vilã da história. Entretanto, é importante reconhecer que Madalena tem um pai, um pai que durante anos não tomou medidas para protegê-la, deixando-a à mercê das crueldades perpetradas pela mãe. Somente mais tarde é que ele decide se envolver, oferecendo ajuda significativa. Contudo, não podemos deixar de considerar como a situação poderia ter sido diferente desde o início se ele tivesse assumido seu papel de pai de forma mais ativa.
Sempre que leio algo sobre maternidade busco refletir sobre esse ponto, pois é crucial reconhecer que ambos os pais têm responsabilidades iguais na criação e no bem-estar dos filhos. Nesta história, é verdade que o pai repensou suas ações e buscou corrigir seus erros do passado, desempenhando um papel importante e necessário no futuro de Madalena. No entanto, vale lembrar que essa realidade nem sempre é tão otimista.
Essa história também nos ajuda a refletir sobre como as expectativas de gênero moldam nossa percepção das responsabilidades parentais e como isso pode afetar diretamente a vida e o desenvolvimento das crianças. Em suma, "Eu, Inútil" é uma obra necessária que mergulha fundo nas complexidades da alma humana, oferecendo uma narrativa emocionante e envolvente que ecoa muito além das páginas do livro.
Super recomendo a leitura!