Bordado em Ponto Corrente

Bordado em Ponto Corrente Rute Ferreira




Resenhas - Bordado em Ponto Corrente


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Beatriz2268 21/12/2023

Belo e dolorido
Me surpreendi positivamente com esse livro, particularmente com a história. Cada detalhe tão bem pensado, a mistura com a mitologia sem deixar de lado os traços da cultura brasileira é simplesmente magnífica.
Uma história de mulheres que se passa no século passado, mas tão atual que continua se encaixando no dia a dia, infelizmente.
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Costa193 13/09/2023

Meu olhar sobre o bordado
Em Santana da Solidão o tempo parece ter se esquecido de passar e é nesse cenário alheio, repleto de mistério e segredos, que vemos os fios da vida serem tramados e entrelaçados pelas Moiras, figuras mitológicas, três irmãs, responsáveis pela tarefa de cuidar do fio da vida de cada pessoa, da fabricação ao corte final. Elas nos contam tudo.

Na trama avançamos aos poucos pelos caminhos dos personagens, que travam suas guerras entre si e consigo. Conhecemos a história sofrida de Tereza e suas filhas Isadora e Inês, que morre dando o pontapé inicial à tudo o que é contado em meio à enigmas e vidas perdidas pela maldade.

Rio das Almas, que também é um personagem, trata-se do rio que banha a cidade e troca a benção da fertilidade da terra, por vidas, seca misteriosamente após a morte de Inês e os corpos que são tomados e desaparecem em suas águas como sacrifícios, são expostos em decadência e podridão, deixando Santana da Solidão entregue às preces e orações para que o leito volte a submergir décadas de corpos que empesteiam o lugar.

Bordado em ponto corrente conta com personagens que vão se revelando, e tendo os seus destinos alinhavados nesse ponto que prende desde o nome. Uma grande tapeçaria, onde por fim, enxergamos a história intrincada desse lugarejo esquecido pelo mundo.

Explorando o realismo mágico, a linguagem e cultura regional, Rute Ferreira lapidou uma história que mistura mistério, romance e o insólito, pontuando essas grandes vertentes com temas como violência de gênero, o poder do homem sobre a mulher e a vingança.
Usando passagens de descrição que nos ambientam muito bem durante a história, a autora nos oferece o belo e o sublime, nos trazendo uma mescla de assombro e beleza. Li tudo ontem e indico muito!
 
?Em Santana da Solidão, esquecer era um ato de fé.???
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Ana Lícia - @livroedelirio 20/07/2023

Conheci a escrita da Rute através do seu livro de contos “A estranha mania das abelhas”, que se tornou um favorito por aqui. Em seu primeiro romance, Bordado em ponto corrente demonstra que independente do gênero, Rute possui uma enorme potência em encantar e prender a atenção do leitor.

Bordado em ponto corrente se passa em 1967 no interior do nordeste, na cidade fictícia de Santana da Solidão. Apesar de ser um povoado invisível e fantástico, me senti como uma leitora onipresente, acompanhando os personagens e suas caminhadas tristes e angustiantes.

Neste livro, há um personagem fundamental: o Rio das Almas, um curso de água que exige sacrifícios para continuar vivo. Entretanto, ele seca por justiça quando uma mulher é encontrada morta e é retirada do rio.

A podridão que marca o rio é de morte, uma vez que corpos apareceram a céu aberto ao longo da cidade. Porém, o pequeno vilarejo também mascara outro tipo de podridão: a dos vivos, cercada de violências, abusos físicos, sexuais e psicológicos. Em um trecho, a narradora descreve que “O povoado estava se acostumando à podridão”, e eu me questiono, qual?

É notório que Santana da Solidão estava se acostumando com as violências e agressões vindas de um homem extremamente bárbaro e cruel. Quantas vezes nós silenciamos as vítimas? Bem, fica o questionamento.

Bordado em ponto corrente é narrado por moiras, mulheres responsáveis pelo destino dos seres humanos, e, assim como o título, a narrativa faz referências à tecelagem e fios, como se a nossa vida fosse uma linha e pudesse ser cortada agora. E de fato, a nossa existência pode cessar a qualquer instante.

Bordado em ponto corrente é um livro potente e real, e pude sentir as angústias das personagens, a violação dos seus corpos e a hipocrisia de uma sociedade, como se tudo isso estivesse acontecendo comigo. Foi sufocante, e por isso tive que pausar a leitura na metade para poder respirar. No entanto, este livro também fala sobre relações familiares, machismo, abuso de poder, cristianismo, amor e aromas. Ah, falando em aromas, eu adoro quando um livro me permite sentir cheiro de chá, limão e de odores do interior - e isso aconteceu.

A narrativa da Rute te transporta para dentro do livro, e, de forma cruel misturada com realismo mágico, ela te ganha.

Nessa resenha eu não citei nomes, acho que estragaria a sua experiência de leitura. Mas espero ter passado todo o sentimentalismo que vivi lendo esse romance.
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