Vania.Cristina 28/07/2024
Combate cotidiano: esse título já diz tudo
Escrita e desenhada pelo francês Manu Larcenet, essa história em quadrinhos foi publicada pela primeira vez em quatro volumes, entre 2003 e 2008. Nessa edição brasileira temos a história integral, que é contada a partir da perspectiva do fotógrafo de guerra Marco. Amargurado com a vida e com a profissão, ele abandona tudo e muda-se para o campo, contando apenas com a companhia do seu gato temperamental.
Marco está sofrendo de depressão e ataques de pânico e isso é retratado de uma forma bem interessante no livro.
Buscando ressignificar sua arte e sua vida, ele começa a fotografar os ex colegas de seu pai, que conhecem Marco e seu irmão desde a infância. São trabalhadores das docas, que atuam num estaleiro que pode fechar as portas a qualquer momento.
A narrativa linear, com arte colorida e traços caricatos, é intercalada por páginas em preto e branco com desenhos mais realistas, que funcionam como mergulhos na mente do protagonista. As cores são trabalhadas de forma bastante expressiva em vários momentos do livro.
Além de abordar temas como saúde mental, família, paternidade, velhice e relacionamentos, a obra fala também sobre política, conflitos trabalhistas, fascismo e fantasmas da guerra.
Na verdade, apresenta inúmeras camadas que discutem com profundidade até questões sobre a finitude e a arte: pessoas partem, lembranças são perdidas, profissões deixam de existir, ídolos são derrubados... E o papel da arte nisso tudo? Devemos separar a arte do artista? O que de fato a arte deve buscar? Onde está sua beleza e sua relevância?
O trabalho de Larcenet tem fôlego e potência, recomendo inclusive para quem quer começar a ler quadrinhos e busca temáticas mais complexas e maduras.