Lurdes 17/07/2024
A telepatia nacional foi uma leitura, posso dizer sem medo de errar: desafiadora.
O que parecia ser "apenas" a história da criação de um zoológico humano na Argentina, com espécimes de indígenas peruanos contrabandeados, nos anos 1930, vai se transformando em um quase thriller onde a opressão e dominação através do controle da mente vão se aprimorando de forma assustadora.
Em 1933, dezenove indígenas peruanos são sequestrados e enviados para a Argentina, com o objetivo de serem expostos em um zoológico humano que estava sendo criado. A ideia dos organizadores liderados por Amado Dom era, com o tempo, ampliar o empreendimento trazendo seres "diferentes" de outros locais, esquimós, asiáticos, etc, com o cuidado de evitar os negros, já que a escravidão havia sido abolida e poderia ter interpretações equivocadas.
A viagem de 40 dias, no porão imundo de um navio, encerra quando chegam à Argentina.
Tudo é muito bizarro, caótico e surreal.
Como as acomodações não estavam prontas, eles são levados para o apartamento de Dom, onde coisas estranhas começam a acontecer e vão alterando o rumo do projeto.
Junto com os indígenas, chegou em um estranho compartimento, quase futurista, um bicho preguiça que, ao arranhar as pessoas, causava uma condição que permitia uma espécie de telepatia entre brancos e indígenas.
Daí por diante, as coisas tomam rumos imprevisíveis e os poderes, não só telepáticos, mas de intrusão aos pensamentos e aos corpos dos outros, vão sendo dominados e utilizados de formas aterradoras.
Apesar de flertar com o surreal e o insólito, as metáforas estão presentes durante todo o tempo e nos faz perceber a sombra de governos fascistas, dominação das massas, e até tortura.
A narrativa segue até os anos 1950, mas poderia seguir até os dias atuais, percorrendo todos os governos totalitários argentinos, até a lavagem cerebral do atual presidente, Milei.
Leia com todos os sentidos em alerta.