vanes.rc 21/01/2024
Como uma tempestade
Que livro lindo. A Mary abordou sobre assuntos tão sensíveis e importantes de uma forma tão crua e real, conseguindo transmitir lindamente e também dolorosamente o que os personagens estavam sentindo. A sua escrita transborda emoções, nos faz sentir e entender o que Valerie e Bryan guardavam para si. Tem toda a angústia e desespero, mas tem aquela sensação de conforto como abraçar alguém que nos faz bem. É realmente como a brisa do oceano em seus dias mais calmos, mas tem a revolta dos seus momentos mais tempestuosos. A gente os conhece por inteiro, vagando por suas escolhas, por seus íntimos, onde escondem suas partes mais quebradas e frágeis. A forma como tudo isso foi descrito é emotiva, bonita e profunda. Mexeu comigo de um jeito que nem sei explicar. Eu me apaixonei por cada detalhe, de como foi consciente e respeitoso cada particularidade.
Valerie, tendo um pai alcoólatra, que dificilmente está sóbrio, convive com discussões recorrentes entre ele e sua madrasta. É um lar desgastado, que exige muito de Valerie. Um esforço sem retorno e reconhecimento. Ela precisou amadurecer desde muito cedo para lidar com a situação viciosa do seu progenitor. É um cenário que exauri tanto dela quanto de sua madrasta, que também está cansada e desistiu de lutar pelo casamento depois anos tentando salvá-lo; Bryan precisou assumir as responsabilidades dos seus pais, crescer precocemente para cuidar do seu irmão mais novo, ele que só era uma criança na época lidando com outra criança. É um lar negligenciado, sem vínculos, como estranhos vivendo sob o mesmo teto e um abismo existindo entre eles. A família, que deveria ser sinônimo de lar, de conforto, na verdade, para eles gera um mal-estar, os sufocam com o peso de ter que guardar para si tudo que os preocupa, sem ter com quem desabafar e demonstrar como estão quebrados. Bryan encontrou nas drogas a válvula de escape para se manter ?firme? e continuar vivendo naquela casa que tanto se fecha contra ele e que, sim, aos dezessete anos, ele é um viciado.
Em Uma Tempestade no Oceano, temos o ponto de vista tanto de Valerie quanto de Bryan, o que eu achei ótimo porque nos ajuda a se conectar com cada um deles e nos dá uma visão mais ampla de seus pensamentos e emoções. Sentimos com eles, acompanhamos seus momentos de vulnerabilidade e seus momentos de calma e equilíbrio. Foi um livro que me emocionou de muitas maneiras, eu chorei, surtei, senti conforto, angústia, leveza, tudo na mesma proporção. O Bryan, com certeza, encontrou na Valerie alguém em quem confiar, que o escutava e lhe fazia bem, a pessoa certa para contar sobre suas dores mais profundas, sobre seus problemas quando não conseguia fazer isso nem com os seus melhores amigos por medo de se afastarem. Na minha perspectiva, o Bryan se ancorava, mesmo que inconscientemente, na Valerie, porque com ela não sentia vontade de usar, mas quando estava sozinho tudo ruía. Ele precisava, antes de tudo, querer ajudar a si e não buscar em alguém essa ajuda quando nem ele percebia que precisava de um profissional para auxiliá-lo.
O que falar do grupinho de amigos? Eu amei eles com suas personalidades completamente diferentes, mas que se completam de maneira única e bonita. Quando todos estavam juntos, eu sentia uma coisa tão boa, como um pertencimento, sabe? A cumplicidade entre eles, as conversas, brincadeiras, risadas, até os desentendimentos, tornava tudo real.
O final foi lindo. Fiquei muito feliz com a maneira como terminou. Foi necessário e emocional. Muito obrigada, Mary, por essa história.
ps: cuidado com os gatilhos, pesquisem antes de ler.
@vanesleituras.