Yasmin O. 25/12/2023A pequena louca de M. DurasUm livro que li envolta em nuvens de clonazepam e mirtazapina (2023 me deixou em um estado incapacitante ainda em tratamento), o que provavelmente, mas não necessariamente, intensificou o sentimento labiríntico e de desorientação que ele deixou em mim, pois Lol é uma personagem insondável, que emana obscuridade mesmo em plena luz do sol da baía. Um livro hermético e hipnotizante ao mesmo tempo, que me fez sentir mais do que entender.
Fui arrebatada pelas deambulações de Lol, a pequena louca, enigmática, melancólica, obstinada e falsamente resignada, em suas idas e vindas que se assemelham ao movimento das marés do cenário em que se passa a história.
Acompanhamos a fragilidade psíquica de Lol, intrincada com sua "alegria bárbara', com sua dor silenciosa, sua aparente opacidade, em uma eterna tentativa de recriar o momento do arrebatamento no baile, quando seu noivo também foi arrebatado por outra mulher, numa dupla acepção dessa palavra.
Uma personagem durassiana fascinante, que me deixa a sensação de compreendê-la sem compreender de fato, que me traz um reconhecimento e entendimento que não consigo transformar em palavras, apenas sentir. Certamente muitas releituras virão. Se tornou um dos meus queridinhos junto com Moderato Cantabile e O amante.
"Ela ainda se pergunta onde deveria estar esse corpo, onde exatamente colocá-lo, a fim de que pare de se queixar.
- Estou menos longe de sabê-lo do que antes. Passei muito tempo colocando-o em lugares diferentes de onde deveria estar. Agora acho que estou chegando mais perto de onde ele seria feliz". - O arrebatamento de Lol V. Stein - Marguerite Duras