Nina Souza 05/09/2024
Um livro impecável
No primeiro volume da duologia “A Flora e o Mar”, o leitor é introduzido ao planeta Aurora, onde quatro semideusas deixaram de herança aos povoados a manipulação de quatro magias distintas: flora, mar, fogo e vento em distintos povoados cujas magias coexistiam lado a lado, mas que, ao serem misturadas, poderiam trazer consequências irreparáveis.
Aprofundando e consolidando referências incas e indígenas, “O Fogo e o Vento” apresenta as possibilidades de um futuro que potencializa a união de castas e povoados e o retorno de uma harmonia há muito tempo esquecida pela rivalidade, pelo medo e pelas imposições ancestrais. Uma das coisas mais bonitas nessa leitura, é a complexidade do universo apresentado pela autora: tem uma mitologia própria tão rica, pautadas em detalhes tão significativos e singelos que se entrelaçam ao excelente fluxo narrativo e ao quebra-cabeças que definem que, independentemente da magia e das diferenças, tudo está conectado.
O enredo é sólido, potente, original e com tramas inimagináveis que ultrapassam os limites da magia e apresenta personagens de espíritos inquietos e ávidos pela vida – e isso evoca, por si só, sentimentos diversos durante a leitura e uma imersão espetacular que transpassam o sentimento de humanidade presente durante toda a obra.
É muito interessante perceber a linha tênue entre a individualidade e o coletivo na duologia, pois mesmo que cada personagem tenha suas complexidades culturais, instintivas e comportamentais, estão inseridas em um coletivo que evoca limites, regras, tensões e (re)descobertas em duas linhas temporais distintas que compõem um quebra-cabeça rico em contrastes que, em um determinado momento da trama, se fundem.
O cuidado da autora em proporcionar momentos singelos e significativos durante a trama faz total diferença na carga dramática, identitária e nas representatividades apresentadas na obra, fazendo com que a experiência de leitura seja harmônica e suave entre os momentos de tensões, reviravoltas, batalhas externas e internas.
Eu não tenho palavras para descrever o quanto gostei de vivenciar esse universo, a construção das relações, o emaranhado de mistérios e segredos, e, claro, os personagens. Todos eles são cativantes, possuem suas bagagens, seus traumas e suas dores. Todos têm suas motivações, seus anseios e suas vontades que pulsam e fazem com que o desfecho seja impactante e reconfortante.
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