Josi 01/07/2024
Nessa, que é uma das obras menos conhecidas de Machado de Assis, um padre decide escrever um livro sobre o Primeiro Reinado de D. Pedro I e, para iniciar sua pesquisa, consegue acesso à biblioteca de um ex-ministro, já falecido.
Enquanto segue seu trabalho, o padre acaba se aproximando da família e se envolvendo em seus problemas. A viúva, D. Antônia, tenta a todo custo afastar o filho, Félix, de Lalau, uma agregada da casa, criada desde a infância como se fosse da família, mas sem posição social, e se mostra disposta a qualquer artimanha para impedir um relacionamento entre os dois, a despeito da afeição genuína que sente pela garota.
Apesar de ter sido publicado em folhetim já na fase realista do autor, senti que o enredo se aproxima mais de sua fase romântica. A história é curtinha, assemelhando-se a um conto, e narrada em 1ª pessoa pelo padre, que aos poucos tem sua mente tão ocupada pelos problemas da família, que deixa sua pesquisa em segundo plano, acabando por ser ludibriado pela viúva para colaborar com seu intento.
Apesar de simpatizar com o casal, apoiar a relação e admitir seu próprio encantamento e afeição por Lalau, reprimidos por sua condição de padre, essa manipulação a que ele se sujeita é determinante para o desfecho da história.
Ainda que contenha o característico teor de crítica social presente nos trabalhos do autor, percebi a ausência de alguns elementos marcantes de sua escrita, como a linguagem mordaz e o humor irônico, o que talvez se justifique pelo narrador-personagem ser um padre bastante ingênuo.
Em contrapartida, o forte peso da hierarquia social na sociedade da época é muito bem retratado, sendo a diferença de classes um elemento considerado intransponível pela casta proprietária e o preconceito ricamente abordado em todas as suas sutilezas.
No geral, é uma leitura fácil e envolvente e que pode ser uma boa porta de entrada para quem quer conhecer a obra de Machado de Assis, ainda que não contemple toda a riqueza, complexidade e genialidade de sua escrita.