Peleteiro 15/09/2024Um nome que merece ser seguido de pertoAo ficar sabendo do lançamento de A Conferência dos Pássaros, de René Duarte, fui imediatamente levado de volta à sensação que Torre de Tormenta havia me provocado. O realismo mágico, tão bem construído em seu romance de estreia, deixou boas lembranças na minha memória, e a expectativa por este novo livro de contos foi inevitável. O que encontrei foi um conjunto de histórias que faz jus à promessa de seu primeiro livro, demonstrando uma maestria narrativa e uma sensibilidade única ao tratar as diferentes feridas da América Latina.
Cada conto de A Conferência dos Pássaros é uma janela para uma dor histórica ou social que ainda reverbera na pele dos povos latino-americanos. René Duarte não apenas escreve sobre a América Latina; ele a disseca, revelando suas cicatrizes com uma linguagem que é ao mesmo tempo poética e visceral. Ele faz disso a sua incumbência, de modo que é impossível não reconhecer a marca da Editora Peabiru em cada página, reafirmando o compromisso do escritor e editor em dar voz a uma luta histórica, com a qual se alinha tão bem. Os contos de Duarte parecem uma espécie de reunião de memórias que não podem ser esquecidas, como um esforço literário para impedir que as feridas do passado caiam no esquecimento.
Devo confessar que, em certos momentos, tive a impressão de que os contos foram escritos com a intenção de tratar determinados temas, como se o autor tivesse um roteiro temático pré-estabelecido antes de deixar que a narrativa tomasse vida. Essa sensação de que os temas conduziam os contos, e não o contrário, me causou um certo desconforto. A espontaneidade das histórias parecia, por vezes, subjugada por essa necessidade de tratar questões políticas ou sociais. Embora os temas abordados sejam importantes e até urgentes, senti que essa imposição poderia ter tirado um pouco da fluidez natural das narrativas.
Ainda assim, à medida que me aproximei dos contos finais, essa sensação começou a se dissipar. Os últimos textos trouxeram uma coesão maior, como se finalmente houvesse um encaixe entre a proposta e a execução, e eu terminei o livro com a impressão de que, no fim, o conjunto fez valer a leitura. Aqui, René Duarte reafirma seu talento e se mantém como um nome que merece ser seguido de perto.