JPHoppe 26/05/2024
A Ciência possui diversos corpos de conhecimento que são nomeados a partir de seus descobridores: as Leis de Newton, as Equações de Maxwell, a Constante de Planck, o Princípio de Pauli. Enquanto alguns casos são realmente produtos de um único indivíduo, frequentemente o que ocorre é que dezenas e centenas de pessoas que participam, ativa ou indiretamente nas descobertas, ficam na obscuridade. Por vezes, seus nomes são conhecidos por aqueles que estão na mesma área. Em outras, o nome jaz apenas nas páginas da História.
"Lost Science" é um livro bem leve e cativante, fruto de um convite para escrever sobre as histórias perdidas da ciência. A autora escolheu 10 pessoas, de diferentes locais e períodos, e traz à tona suas contribuições que estavam perdidas nas areias do tempo.
Houve uma intenção de fugir de lugares-comuns: Rosalind Franklin ser frequentemente omitida da descoberta da estrutura do DNA, por exemplo. No entanto, há um capítulo dedicado à Alfred Wallace e outro a Johannes Kepler.
Talvez seja meu background em biologia, mas acho difícil a ideia de uma teoria tão central da área ter Wallace, um de seus principais colaboradores, ofuscados. Uma história mais interessante (não que a de Wallace não seja) é a de Pattrick Mathew, que em 1831 publica um artigo sobre espécies apropriadas para fins navais e arboricultura onde, nos anexos, essencialmente escreve os princípios da Seleção Natural. Por algum motivo, ele nunca desenvolveu a teoria, que veio a ser minunciada quase 30 anos depois por Charles Darwin.
Sobre Johannes Kepler, também fico um pouco impressionado com ele ser considerado perdido. As leis de movimentos planetários recebem seu nome, afinal. Também é conhecido por apreciadores de ficção científica como um dos pioneiros, com seu "Somnium". No entanto, confesso que não sabia das repercussões desse livro, com sua mãe passando por uma caça às bruxas e possivelmente falecendo pelo stress do processo, mesmo absolvida da acusação.
É visível também que essencialmente todos os biografados são europeus, com a exceção de dois, e mesmo assim um fez sua história na Europa. O título poderia ser "Lost (Western) Science". Não é um problema per se, e se a autora quiser, pode facilmente publicar volumes seguintes focando na história da "ciência árabe", ou "ciência chinesa" (aspas porque ciência é ciência), que se desenvolveram de forma independente no tempo e espaço.
Todos os capítulos trazem algum fato ou surpresa novos, mesmo para aqueles que conhecem a história dessas pessoas. Pessoalmente, foi uma coincidência prazerosa descobrir que o "Englischer Garten", que passeei dias antes, foi idealizado por Benjamin Thompson, apresentado no segundo capítulo.
Livro muito agradável, e recomendado para essencialmente todos.