Marcella.Pimenta 08/09/2024
O inferno está cheio de boas intenções
Como textos introdutórios, logo no começo, há um texto de H. G. Wells, que apoia Sanger, e um de Anthony Horvath, contra as ideias da autora.
O "eixo da civilização" (pivot of civilization), segundo Sanger, é o controle de natalidade. Apenas com a implementação dele a sociedade avançaria positivamente.
Em nenhum momento ela explica ou define o que seria isso. No apêndice, ela elenca rapidamente (1 página) objetivos desse controle, que incluem a esterilização de doentes mentais (feeble minded) e a realização de pesquisas que relacionam essas pessoas à criminalidade.
Nos primeiros capítulos, ela ilustra a difícil vida de mulheres pobres com muitos filhos (rotina exaustiva de trabalho, alta mortalidade das crianças, falta de informação para cuidar dos filhos...) e das crianças, com foco no trabalho infantil.
Embora isso indique que Sanger se preocupe com a vida das pessoas, no decorrer da obra, fica claro que o desejo dela não é dar condições melhores de vida aos mais necessitados (ela acha até que isso ajuda pouco), mas impedir que eles existam.
Ela acredita, por exemplo, que o dinheiro gasto com pessoas deficientes é um desperdício, que elas atrasam o desenvolvimento da sociedade. Tanto que suas ideias se alinham mais à eugenia do que a tese malthusiana da superpopulação, citada no início para criticar as famílias numerosas.
Sanger também aponta convergências e divergências com o socialismo e com o cristianismo.
O discurso da responsabilidade parental e da liberdade da mulher só mascara o real pensamento de Sanger: só algumas pessoas merecem nascer. Os "desajustados" (unfit) são um fardo para a sociedade, um desperdício de dinheiro público.
Ela não cita o aborto como uma forma de controle de natalidade (na verdade, ela não cita nenhuma), mas considerando a preocupação explícita dela com a concepção e que ela fundou a clínica de aborto mais famosa dos Estados Unidos (Planned Parenthood) primeiro num bairro pobre (e de maioria negra. aliás, o passado racista dela envolve até um discurso na Ku Klux Klan), é lógico concluir que ela não quer eliminar a vulnerabilidade, e sim os vulneráveis. Mas, é claro, para o "bem" deles e da sociedade. ?