Inalba 05/09/2024
Comunicação rende profundidade
Não sei se foi por estar tanto tempo sem ler livros de romance que, quando finalmente peguei um, fiquei surpresa pelos diálogos bem construídos, realistas e profundos.
Começando do início, essa foi minha primeira experiência com a autora e fico grata pela surpresa: Melissa Wiesner é espetacular e extremamente feliz na sua escrita. Regada a profundas personalidades dicotômicas, os protagonistas de Tudo Me Leva de Volta a Você apresentam uma relação embasada no diálogo (difícil de achar hoje em dia) e constroem, milagrosamente, um relacionamento saudável. No entanto, seus segredos começam cada vez mais a pesar no que edificaram ao longo dos anos e, tijolo por tijolo, começa a ruir com pequenas evidências. Porém, apesar da conotação negativa, Melissa consegue estabelecer Anna e Gabe pelo que eles realmente são: humanos. E essa é uma das minhas partes favoritas do livro.
Desde o princípio Anna esconde um segredo e afasta quem quer que se aproxime. Por infortúnio - ou sortilégio - ela esbarra em Gabe, um garoto popular da faculdade que possui uma bússola moral quase inquestionável. Isso por si já chama a atenção da garota, mas quanto mais ele adentra na sua vida e acredita protegê-la é que as coisas ficam piores. Invariavelmente, as atitudes de um são consequências da outra e, ligados nesse Ying e Yang, ambos são emboscados por uma química discutível.
Digo discutível, porque foi complicado torcer pelo casal quando a própria autora não recuava no senso moralista de Gabe. Os sentimentos de Anna são perceptíveis, mas os de Gabe são como os anos que atropelam os personagens: amadurecem. Não é rápido, nem forçado, mas exige uma dose de paciência. Para quem gosta de slow burn, esse é um prato cheio, ainda mais depois que descobri que todo o lenga-lenga vale a pena. Você não sente o fogo do casal, mas é convincente o bastante para ser satisfatório. Só por causa disso não dou a última estrela.
Aliás, fugindo um pouco do núcleo central, Melissa provou que bastam alguns parágrafos observacionais para compreender a psique de cada personagem. John, Elizabeth, Leah, Matt e Rachel se encaixam perfeitamente na classificação de personagens secundários clichês. Porém, suas nuances e carisma torna tudo tão real que você acredita mesmo que vai virar a esquina e encontrar um deles por aí, apenas caminhando. Foi uma aventura gostosa conhecer cada um deles e muito confortável.
Para encerrar, digo com alegria que Wiesner terminou o livro com todos os pingos nos is, mas sem ser um devido fim. A vida daqueles personagens vai continuar e podemos até imaginar, mas não precisamos saber nem mais nem menos.