Roberto 29/12/2021
Lilia Moritz Schwarcz, antropóloga e historiadora brasileira que já acompanho há algum tempo, costuma falar muito sobre a obra de Lima Barreto, autor negro da nossa literatura e de quem não tinha lido nada até o momento. Decidi, então, iniciar minha leitura desse autor pela Carta de um Defunto Rico, um conto distribuído como e-book originalmente pela Livraria Leitura no Kobo, mas que está disponível também no Kindle.
Neste texto, que me lembrou muito Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, vemos uma carta escrita pelo defunto José Boaventura da Silva a seus entes queridos que ficaram em vida. O sujeito, em tal missiva, comenta sobre seu funeral, sobre seu pós vida e sobre a vida que vivia nesta terra, antes de falecer. A pegada do autor é irônica na crítica à vida de aparências que todos são forçados a levar do lado de cá da existência. Essa vida de aparências se manifesta na necessidade de ostentar para parecer rico, que vai além da própria riqueza que as pessoas possam ter, e na própria realização das cerimônias funerárias, que, segundo Lima Barreto, servem mais aos vivos do que aos mortos, que logo são esquecidos após as exéquias. Há também uma crítica contundente à escravidão, praticamente recém abolida no período da escrita do conto, que não deveria ser esquecida, segundo o autor. Por fim, o personagem alfineta a suntuosidade de seu funeral, em contraste com o estado dos cocheiros que conduziram seu esquife, afirmando que melhor seria vesti-los bem em vez de gastar com outros luxos, o que abrilhantaria mais o cortejo e representaria também uma obra de caridade.
Achei a obra bem interessante. A leitura é super rápida e pode ser feita em uma sentada só, ou em pé em alguma fila, tal qual a proposta da coleção de e-books de que faz parte, que se chama Coleção pra Ler em Pé. Me instigou bastante a correr atrás de outras obras de Barreto que são clássicas da literatura brasileira, como O Triste Fim de Policarpo Quaresma.