Cris Lasaitis 08/06/2020
Uma análise do Brasil 2020 no calor da hora
Acabo de fazer uma “leitura de emergência” se é que posso dizer assim.
Trata-se do livro “Ponto-Final: A guerra de Bolsonaro contra a democracia” do professor Marcos Nobre.
Decidi lê-lo assim que vi a entrevista do professor para a BBC (link nos comentários), explicando com uma lucidez atordoante o projeto de Bolsonaro e os perigos de tentar um impeachment sem ter formado a base de apoio necessário.
“Ponto-final” foi escrito no mês passado (maio de 2020) e é o mais atual que um livro consegue ser.
Nele Marcos Nobre disseca a anatomia e a fisiologia do governo Bolsonaro — as condições que pavimentaram sua eleição; a criação de sua base de apoio e seus principais eixos; seu projeto de poder autoritário; seu método de manter-se presidente sem governar e sustentar-se no colapso permanente, vendendo-se aos correligionários como a solução para a crise que ele mesmo cria.
Discorre também sobre o atropelamento que a pandemia do coronavírus significou para seu projeto de poder, e como a opção de Bolsonaro diante desse cenário foi recrudescer o seu discurso e ser fiel a seu projeto, ou seja, não governar e atacar as instituições, igualando o próprio exercício da governança e as instituições da República ao “sistema” com cuja promessa de destruição foi eleito.
Enquanto o restante do Brasil — os governos estaduais, Congresso e STF — estão dedicados a suprir o vácio de governança e combater a ameaça da pandemia que o presidente não combate (mas sabota de todas as formas), Bolsonaro aproveita para criar seu “governo de guerra”, preenchendo os cargos da República com uma inundação de militares, aproximando-se do Centrão para barrar a possibilidade de um impeachment, e, na perda de popularidade, acenando para seus apoiadores mais aguerridos, que são cerca de 12% de fanáticos dispostos a tudo. Em suma, está apressando seu plano de governo autoritário.
Marcos Nobre alerta que abrir um processo de impeachment precoce, — isto é, sem a formação de uma base ampla da sociedade e dos partidos que lhe deem sustentação — é uma hipótese fadada ao fracasso e perigosa, pois Bolsonaro pode sair fortalecido. No entanto, a formação dessa base é necessária, demanda uma concatenação política ampla e intensa, pois mesmo que o perigo de Bolsonaro seja afastado, nenhum governo futuro conseguirá de fato governar o Brasil sem que antes remendemos nossa democracia fraturada.
É um livro curto, que pode ser lido em duas horas.