Dri 20/03/2022
Distopia com Terror
Até onde vai a capacidade da mente humana? Cientificamente falando, não usamos nem 10% dela. Do que, de fato, seríamos capazes, é um mistério alvo das ficções científicas da vida. Até que ponto nossa capacidade inata de lutar pela sobrevivência, não influencia na perspectiva dos fatos? Até que ponto a crença em fantasmas, espíritos, anjos, demônios, não estão correlacionados a nosso próprio instinto?
A psiquê dribla constantemente a realidade, para nos proteger, nos motivar ou nos deprimir. Está sujeita a tantos aspectos, que se torna imensurável o seu real alcance. Até que ponto as fantasias e as crenças vividas são mera imaginação ou experiências verídicas? Ou tudo será apenas ilusão?
Mesclando culturas, nacionalidades diferentes, a história perspassa pelo mundo pós-apocalíptico, onde o homem finalmente se destruiu, a superfície terrestre tornou-se inabitável, obrigando os sobreviventes a refugiarem-se nas linhas de metrô subterrâneo.
Conhecedores de um pouco de História e Filosofia, vão estabelecer algumas conexões. A trama tem uma construção de mundo pormenorizada, que lentifica o ritmo narrativo, principalmente nos primeiros capítulos, trazendo mais movimento por volta da metade do mesmo. Não foi um livro escrito para ser lido corrido.
Desfruta-se a jornada, aos conflitos existencialista, ou simplesmente a vontade humana ensandecida de continuar vivendo, sejam lá quais sejam as condições para tal. Tudo depende da forma como se vê, abrindo margem interpretativa para a maioria das situações.
É uma ficção científica, mais precisamente, uma distopia, com toques de realismo mágico voltado para o terror, onde observa-se a clássica jornada do herói, um tanto quanto ingênuo, cujo amadurecimento ocorre bem devagar. Não percebi um real avanço, é algo que poderia ter sido mais trabalhado, aproveitando o rico contexto. Confesso que acabei cansando, mesmo gostando bastante. É algo pra se levar com uma leitura paralela totalmente oposta.
O livro é bem escrito e significativo de várias formas, PORÉM, um ponto forte negativo, que me incomodou, me perturbou, é a incapacidade do autor de construir personagens femininos, de imaginar uma realidade menos machista, menos degradante e cruel com o gênero.
Um livro contemporâneo, sobre uma história no futuro, com uma visão tão desprezível, em alguns momentos, indiferente em outros, das mulheres, é angustiante e mostra o quão distantes ainda estamos da igualdade tão arduamente defendida pelo verdadeiro feminismo. Nem ao menos ficou claro na trama o porquê do número diminuto de mulheres, nem o porquê as que restaram, foram submetidas a costumes tão arcaicos e pequenos.