Autora Nadja Moreno 18/11/2015
Excelente!!!
Se existem níveis, ou escalas de complexidade para a literatura, penso eu que fantasia épica está lá no topo desta pirâmide. Por isso então, o autor que se aventura nesta vertente tem de ter uma imaginação que foge à regra. E o leitor que se propõe a gostar do gênero tem de ser sagaz. Caso contrário detalhes passam despercebidos no emaranhado de especificidades, tanto de ambiente, quanto de personagens, quanto de jogos de interesses ou ainda de relações entre pessoas, tribos, clãs ou raças. Caso o autor não seja inventivo ao extremo, pode perder uma excepcional oportunidade de inserir elementos únicos e inusitados. O campo da fantasia épica é magnanimamente fértil. Não se pode tratá-lo de qualquer forma.
Gaian foi escrito por uma destas mentes. Férteis e cheias de elementos. Apesar de não ser excepcionalmente grande – 370 páginas – o livro traz tudo aquilo que é essencial ao gênero. Há combates, magia, reinos sendo ameaçados, guerreiros e vilões, seres incríveis, segredos e mistérios, traições, morte e surpresas, lugares mágicos e lindos, que fazem o leitor viajar.
A história já começa com o relato de um combate de peso. Em seguida um capítulo rápido em primeira pessoa que soa como que um pensamento, uma sensação… faz uma abertura para o que pode vir em seguida. A partir daí a história se desenvolve. Tudo corre bem em Arinon. É uma cidade pacífica e tranquila. E se comemora o período da colheita, extremamente fértil. Mas é claro que esta calmaria não vai durar muito tempo. Em dado momento surgem rumores de guerra, e rapidamente a calmaria se desfaz e batalhas, muitas batalhas se travam. Guerreiros se apresentam, a magia se mostra e a coragem se torna a mais forte arma de muitos. Percebe-se que há muito o que fazer, para que a paz e tranquilidade possam retornar. A “Profecia de Gaian” começa a se fazer presente.
A escrita de Cláudio, o autor, é fluída, mesmo que detalhista. Notei nele um “quê” de leveza, de “escrita pensante”, uma leve divagação poética em determinados pontos que gera uma sensação de maciez à obra. Ao mesmo tempo ele busca alimentar os detalhes para que tudo fique claro, real, facilmente observável ao leitor. É bastante descritivo, mas sem ser moroso, coisa que notamos vez ou outra nas publicações dos célebres autores do gênero.
Outra característica é a, também comum, inserção de vários personagens. Conhecemos vários e nenhum insignificante. Todos eles doam ao leitor a sensação de “este tem alguma coisa a acrescentar aqui”. Se tenho ressalvas neste sentido, seria apenas pelo fato de não enxergar muito sentimentos entre eles, tais como amor profundo, ou ainda um mal-estar extremo, ou mesmo uma relação de amizade arrebatadora. Note bem, estes elementos existem, Arffek, por exemplo, é um personagem de sentimentos, além da dureza de combatente, mas o que senti é que isso não era o foco do autor e o “sentimentalismo” foi posto de lado. Não desabona, mas senti falta.
A ambientação é incrível. Os detalhes descritos praticamente fazem o leitor sentir o cheiro de terra ou a aspereza das pedras. A princípio as magias que precisam ser pronunciadas podem soar pouco imagináveis, porque nem sempre dá pra saber logo de cara as consequências que dada magia gera. Mas depois tudo fica claro, se não pela própria descrição na sequência, se esclarece pelo apêndice, que traz explicações detalhadas de vários pontos da trama, inclusive das magias. Inclusive, ponto mega interessante da obra… tá lá no finalzinho. 😉
A história possui muitas batalhas, muitos confrontos. Muitos mesmo e todos bem detalhados. Riqueza de detalhes em cada um dos confrontos é algo que não vai faltar ao leitor de Gaian. Posso dizer que um ou outro me soou detalhado demais, poderia ter sido descrito com menos palavras… porém em alguns há que se ler letra por letra, absorvendo cada detalhe da narrativa. Quando se inserem seres como dragões, por exemplo, a vontade é de ler e reler, para visualizar cada detalhe descritos ali, apaixonante para que se interessa por estes seres incríveis.
Fios soltos são deixados para dar o link do próximo volume. Nada tão grande que deixe a sensação de corte brusco no livro 1, mas instigantes o suficiente para dar água na boca. É preciso que o autor seja rápido no lançamento do livro 2. Fiquei muito curiosa!
Em se tratando da publicação, gostei muito da capa e a revisão está boa, notei que passaram alguns erros que provavelmente na próxima edição serão corrigidos. Eles não me incomodaram. A diagramação segue o comum no gênero, fonte um ponto menor que o comum – eu nunca li uma aventura épica que tivesse fonte maior, juro! rsrsrs. As margens não são generosas mas dá para abrir sem precisar forçar o livro, mantendo-o “imaculado” após a leitura.
Enfim, recomendo! Sem dúvida. Nacionais se destacando… não sabem como isso me alegra!!!
site: http://www.escrevarte.com.br/2015/11/gaian-o-reinicio-de-claudio-almeida-novo-seculo.html