Flávia Menezes 28/12/2021
A Brontë que era senhora de si mesma!
Após ler ?O Morro dos Ventos Uivantes?, de Emily Brontë, e ?Jane Eyre?, de Charlotte Brontë, eu tinha muita curiosidade para conhecer a escrita da mais nova das irmãs, Anne Brontë, e tenho que dizer: fui imensamente surpreendida!
?A Senhora de Wildfell Hall?, publicado em 1848, foi uma obra que desafiou as convenções sociais do século XIX, ao trazer uma protagonista feminina muito à frente do seu tempo, por ser uma mulher forte e independente, que tem para si o comando da sua própria vida. E é claro que toda essa quebra de paradigmas, resultou em duras críticas à sua autora.
Muito embora cada uma tenha características singulares, algo em comum na escrita das irmãs, é que todas utilizam de suas histórias para denunciar os excessos e vícios da sociedade da época, com narrativas ousadas, e protagonistas mulheres que não se calam diante de uma sociedade onde imperava o direito dos homens. E muito embora todas tenham uma escrita impecável, das três, confesso que a Anne foi a que me agradou mais.
A história é contada por dois narradores, Gilbert Markham e Helen Huntingdon, com uma diferença de ritmo entre elas. As partes narradas por Gilbert, em alguns momentos, acabam se tornando um pouco mais lentas, pois são mais voltadas a expressar os sentimentos e impressões do personagem. Com essa característica mais descritiva, é de se esperar que a leitura se torne um pouco mais lenta, porém nada que nos faça querer abandonar a história. Porém, preciso advertir que Gilbert é um personagem bastante emotivo.
Já as partes narradas por Helen são as que mais prendem, especialmente pela coragem da narração de uma história de vida difícil e de muitos sofrimentos!
Através dela, conhecemos seu relacionamento desde o momento em que se conheceram, até o instante em que se casam, e como se dá essa vida em comum. Conhecer como era um casamento em uma época como aquela, por uma autora que vivia os costumes, é algo tão rico! Me senti transportada para um ano muito diferente, e pude ver como as pessoas pensavam e agiam.
A cegueira da paixão... Os casamentos feitos por conveniência... A pressão da sociedade para que as mulheres se casem... Por mais que o nosso mundo tenha mudado, a verdade é que concepções como essas ainda existem. Ou talvez eu deva dizer, que ainda resistem, apesar de todas as transformações que a nossa sociedade sofreu ao longo dos anos.
A protagonista desta história é uma mulher muito corajosa e bastante decidida. A verdade é que não há como não admirar os diálogos da Helen, porém, isso não quer dizer que ela seja algum modelo de perfeição, muito embora seja descrita dessa forma no livro.
De fato, Helen Huntington é uma mulher dura demais, e que constantemente se coloca muito acima dos outros, como se fosse um ser beirando à perfeição. E quer saber o que é o mais curioso nessa história? É que no final, tudo isso é facilmente perdoável, porque por trás de toda essa dureza e arrogância existe uma mulher sábia que nos conquista porque sua causa é justa, e ela nos faz acreditar nela.
Minha última leitura finalizada no ano de 2021 foi uma grata surpresa. E levo comigo todas as lições de uma mulher que viveu séculos antes de mim, mas que conseguiu me mostrar o quanto não devemos nunca abandonar nossos valores enquanto mulheres, buscando acima de tudo sermos respeitadas, para que possamos fazer a nossa voz ecoar sem medo em todos os cantos do mundo, e para todas as gerações.