Jess 13/07/2023
Não há de ser nada
Eu demorei MUITO pra escrever essa resenha. Pra se ter uma noção no momento que comecei esse texto eu já terminei os três volumes da série, já tive tempo de ter uma ressaca literária gigantesca e já saí dela. Mas tudo bem, antes tarde do que nunca. Comecemos pelo começo.
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Eu não conhecia Veríssimo. Já começamos por aí. Apareceu como oportunidade de ser uma leitura conjunta, e eu como sou apaixonada por livros grandes (os três juntos passam das 2000 páginas, pra se ter uma noção) e por leitura coletiva, logo falei simbora, é isso aí. E embarquei nessa jornada de cinco meses acompanhando esse pessoal de uma cidade pequena do interior do Rio Grande do Sul. Mas não vamos colocar os carros na frente dos bois.
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O Continente, se eu tivesse que traduzir em uma palavra só, seria talvez Terra; não só o sobrenome da Ana, provavelmente a personagem mais emblemática dessa porção da história, mas também por causa de todo o contato com a terra durante essa primeira parte. Conhecemos um Brasil colonial muito cru, uma região sul bastante hostil com disputas por todos os lados pela TERRA que pertence a um ou a outro. Encontramos uma sociedade muito mais campeira, agricultora e interiorana, um estado em formação. Os Terra são uma família de plantadores de trigo vinda da capitania de São Paulo tentar a vida na estância, tendo sempre que se pendurar entre uma lavoura improdutiva muitas vezes e se defender dos catelhanos, invasores do lado espanhol da fronteira, e que constantemente clamam posse dessa terra.
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Conhecemos também Pedro, o filho de uma indígena adotado por um padre das missões, e que desbravou essa terra até encontrar com os Terra. E é nesse encontro que temos o vislumbre e a perspectiva do núcleo familiar que virá a seguir.
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Mas não falarei muito do enredo em si, até porque teria muita coisa pra falar se fosse só pra fazer um resumo do primeiro volume. A questão é que O Continente tem um teor muito mais místico e aventureiro que os outros dois. Temos em paralelo a vida dos Terra e o cerco ao Sobrado durante uma das revoluções gaúchas do século 19, décadas depois; conhecemos aqui o ilustre Capitão Rodrigo, provavelmente o personagem mais famoso da série inteira (culpa um pouco da mídia, talvez). E, claro, testemunhamos a formação e o crescimento de uma vila que se tornaria uma grande cidade. Se Santa Fé existisse eu poderia muito bem chegar lá e dizer que na minha época ali era tudo mato.
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O Continente não é exatamente o meu preferido dos três, mas ocupa um segundo lugar por detalhes. E sem dúvidas os personagens que eu daria destaque seriam a própria Ana Terra e o Dr. Winter, um médico imigrante alemão que caiu por acaso na cidade, e que serviria para ser o elo de ligação entre os personagens que poderiam parecer desconexos. Além disso, O Continente já dava muitas dicas da genialidade do que ainda estava por vir de Veríssimo.