Paulo 22/12/2022
Os volumes sete e oito são duas edições bem diferentes e até é necessário falar de ambas separadamente mesmo. O sétimo volume é mais tranquilo e voltado para conhecermos mais alguns personagens ao mesmo tempo em que entramos em um novo arco de histórias. Por ser um mangá claramente slice of life, muitas vezes não nos damos conta disso porque o autor até entrega boas cenas de ação quando assim deseja. E até momentos meio tensos até porque a vida de um caçador não é repleta de flores. Mesmo assim, metade da edição é voltada para o aprofundamento de determinados personagens da história e até o último momento, focado em Lee, é um ponto de conexão com o próximo arco já que ele tem interesses particulares lá. Se levarmos em considerações certas situações, até mesmo o capitão Croccus tem um pedaço importante aqui. É curioso mas quase não vimos nada a respeito dele até então.
Quero poder falar bem da arte do Kuwabara, mas ele não me ajuda nessa parte. As primeiras histórias me mostraram um autor que está mais maduro em como ele vai usar sua pena para trabalhar certas situações, mas no momento seguinte, tudo fica inconstante e algumas escolhas que faz me incomodaram. Por exemplo, ele melhorou muito na representação de interiores e no fundo. Por exemplo, o capítulo em que se passa a história da Mayne é muito legal e ele representa bem os componentes da nave como pistões, engrenagens e a cabine principal. Mesmo os dormitórios ficaram bem legais com elementos particulares dentro de cada um deles. Lá na frente quando chegamos a Harley, a cidade é uma mescla boa de influências ocidentais e orientais. Então temos casas nitidamente inspiradas nas habitações da China antiga ao mesmo tempo em que padrões claramente italianos se espalham pela paisagem. Mas, daí ele começa a carregar subitamente nas benditas hachuras. Carrega tanto na hora de representar as nuvens ou o próprio Quin Zaza que chega a ficar feio e distorcido. A imagem é suja e não me permite discernir bem o cenário. O pior é que ele faz isso em quadros de página dupla, o que me deixa "duplamente" abismado. Vou comentar mais sobre aspectos relacionados à ação algumas linhas abaixo porque ela está presente mais no oitavo volume.
O primeiro capítulo é dedicado ao Soraya, um malandro da nave que está junto da turma que curte uma birita. É festeiro, curte ir para o bairro da luz vermelha, um choppinho e gnhar dinheiro fácil. Ou pelo menos essa é a aparência externa que ele gosta de apresentar a todos. O capítulo tem como motivação Takita tentando aprender a atirar melhor com o rifle. Por ela ser mais franzina, o coice da arma não permite que ela tenha uma boa mira. Soraya se mete a tentar ensiná-la, mas seus métodos são bastante reprováveis. A partir daí temos alguns flashbacks da vida de Soraya e como ele chegou na nave. Ele é aquele tipo de personagem que usa uma máscara de indiferença para esconder seus verdadeiros sentimentos, semelhante ao que o próprio Mika também faz. Mesmo assim, ele se preocupa com seus amigos e com conselhos bastante malucos, consegue dizer lá no fundo como sair de certas situações. O final é bem divertido e representa bem o que é esse personagem.
A seguir temos um capítulo sobre Mayne, a mecânica da nave ao lado de Doug e outros membro da parte da engenharia. Por ela ser bastante inteligente e esforçada, acaba se tornando uma espécie de faz-tudo e sendo responsável por todos os pequenos consertos, desde uma pia pingando até o leme do Quin Zaza estando duro e dificultando uma caça. Seu trabalho é árduo e nem sempre é valorizado, mas a personagem tem bastante orgulho do que faz. Mesmo que a situação pareça não ter nenhum tipo de solução, Mayne precisa arrumar alguma saída. E estando em uma nave com poucos recursos, sua capacidade de improvisar se torna essencial para que todos possam sobreviver. E sem a mecânica, não é possível conseguir o seu ganha-pão. Quero ver mais da Mayne em outras edições porque ela parece ter ainda muita história a ser contada. Ao final, temos um momento divertido com as mulheres da nave: Capella, Vanney, Mayne e Takita.
Antes de passar para o oitavo volume é bom comentarmos sobre o capítulo do Lee que serve como um prelúdio para esse novo arco. Ele é o contador da nave e é responsável por manter o negócio funcionando com uma razoável saúde econômica. E percebemos o quanto isso exige malabarismos da parte de Lee, já que manter uma nave como a Quin Zaza funcionando, por mais que muitos de seus equipamentos sejam mais econômicos, é bastante custoso. O capítulo tem como mote uma má notícia que Lee precisa dar aos demais tripulante: o salário de todos vai ser reduzido pela metade esse mês porque ele precisa pagar a última parcela do empréstimo que permitiu à nave continuar existindo. É claro que a revolta é geral e Lee vai precisar de toda a sua sagacidade para conseguir manter todos na linha e com motivação suficiente para continuar trabalhando. Mesmo que isso exija demonstrar algumas de suas habilidades secretas. Descobrimos que Lee vem de uma poderosa família de mercadores que tem sua sede justamente na cidade de Harley, para onde eles estão indo. Também vamos descobrir mais sobre os motivos que o levaram a abandonar uma vida burguesa e cheia de riquezas para abraçar objetivos tão nebulosos e audaciosos.
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