Stella F.. 04/11/2021
Deliciosos!
Contos simples, diretos e curtos, uma característica de Tchekhov, “podendo ser considerado um dos criadores da verdadeira shortstory, o conto minúsculo”. Nos primeiros anos de sua atividade literária, seus contos são cômicos, mais tarde tornam-se uma sátira a Rússia de sua época, para então atingir o tom poético e dramático, lírico e melancólico, onde ainda existe o humor, mas mais sutil. (modificado de Sobre o Autor)
Gostei da grande maioria dos contos. Alguns com um fechamento completo, redondo e outros, às vezes, a meu ver, interrompidos bruscamente. Todos muito interessantes e de fácil absorção.
O conto que abre essa coletânea, A Senhora com o Cachorrinho, já nos mostra uma grande quantidade de diálogos e uma crítica feroz à sociedade, e seus costumes, ao nos falar da roupa como mostra de status social e nos falar da moral como balizadora dos costumes.
“Sua expressão, seu andar, a roupa, o penteado, lhe diziam que ela era de boa sociedade, casada.” (pg. 10)
“Nas histórias sobre a moral duvidosa dos costumes locais havia muitas inverdades, ele as desprezava e sabia, que, na sua maioria, eram histórias inventadas por pessoas que gostariam de pecar elas próprias, se soubessem como.” (pag. 10)
Os Contos que marquei como preferidos foram: A Senhora com o Cachorrinho, A Morte do Funcionário, Vanka, Brincadeira, Senhoras, Gricha, O Vingador, A Mulher do Farmacêutico, Camaleão, Veraneio, Sobrenome Cavalar, inimigos, A Corista, O Marido, Libertinagem, O Investigador, Zínotchka, O Bilhete da Loteria, Inadvertência, A Duquesa e a A Aposta.
No conto Vanka vemos o tom melancólico do contista: Um menino, aprendiz de sapateiro sofre maus tratos, escreve uma carta ao avô em uma noite de Natal e sonha com esse encontro. “Querido vovô, faz uma caridade pelo amor de Deus, me leva daqui para casa, para a aldeia, eu não aguento mais de jeito nenhum”. (pg. 38)
Mas um dos meus preferidos foi Libertinagem. Um homem é ameaçado por uma mulher, sua ex-amante e chega à sua casa e encontra lá uma criança. Pensa logo tratar-se de seu filho bastardo e sai pela rua querendo dar um destino a ele, mas vai fazendo conjecturas e começa a pensar na possibilidade de ficar com ele. Ao resolver voltar com a criança casa, e contar tudo à família, descobre que tudo não passou de um mal-entendido, era o filho da lavadeira. A culpa o transtornou, mas ao mesmo tempo trouxe sentimentos “nobres” que se dissolveram logo que soube que o filho não era seu. Que alívio! Já pensou ter que contar tudo à esposa? Cômico, trágico e reflexivo.
“Eu, carregando uma criatura humana debaixo do braço, como se fosse uma pasta. Uma criatura humana, viva, com alma, com sentimentos, como todo mundo.” (pg. 132)
“Por que razão estamos atirando a desgraçada criatura de uma soleira para outra? Será que ela tem culpa de ter nascido?