Luiz Pereira Júnior 01/12/2021
Poesia é se identificar com algo, alguém ou até consigo mesmo...
Nunca é fácil fazer uma resenha de um livro de poemas. Sempre parece que vou cair no velho roteiro gostei-não-gostei e, melhor dizendo, sempre caio nesse esquema. Afinal, digam o que disserem, usem as palavras que usarem ou os argumentos que desejarem, uma resenha sempre acaba caindo, de uma forma ou de outra, nesse mesmo esquema.
Então, vou ser direto como sempre: gostei e tome isso como um enorme elogio, já que poesia não é meu gênero favorito. Sempre escrevo aqui que sou professor e poesia é um gênero que leio, muitas vezes, por obrigação profissional. Em resenhas anteriores, já escrevi como me identifiquei tão pouco com autores premiados com o Nobel que acabei por me perguntar como esses referidos escritores ganharam o prêmio máximo da literatura mundial (ou, ao menos, assim considerado).
Dito isso, repito: gostei. E uso tal verbo principalmente por ser um poema longo, porém compreensível; sensível, porém não piegas; romântico, mas não se afastando da realidade e, talvez, pelo maior motivo de ser um poema narrativo (sim, isso existe. Basta imaginar Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica, duas canções com longos poemas narrativos. Bem, se Bob Dylan ganhou o Nobel pelo mérito das letras de suas canções, por que não o Legião Urbana pode ser citado como exemplo?).
Relatando um caso de amor ao mesmo tempo em que mostra a futilidade, a decadência e o dolce far niente das classes privilegiadas russas, Pushkin acaba nos mostrando um sentimento universal (sim, a velha história de se queres ser universal, então conta a vida da tua aldeia). Na Rússia do século XIX ou no Brasil do século XXI, permanecemos humanos, monstros de escuridão e rutilância, se me permitem a referência a outro poeta magnífico.
Também uma narrativa de amadurecimento, Eugênio Oneguin acabou por me fazer relembrar minha juventude e o quanto passei para me tornar um cinquentão. E você deve ter observado que não uso a palavra nós, pois não posso dizer que todos os leitores dessa obra-prima de Pushkin sentirão o mesmo que eu ou que perceberão o presente como mais do que o fruto de um passado distante.
E, ao se apaixonar pela mesma mulher que ele rejeitou, Eugênio me fez relembrar o que aconteceu há quase trinta anos, quando não me apaixonei por quem se apaixonou por mim (e também relembrar que me apaixonei por quem sequer notou que eu existia)...