Peleteiro 19/10/2024Comprei O morse desse corpo, de Ricardo Domeneck, após pela leitura do poema A Timidez do Linho, que, na minha opinião, é o melhor do livro. A expectativa era alta, e logo percebi que Domeneck é um mestre da técnica e possui um vocabulário riquíssimo. Porém, ao avançar pela leitura, senti que o livro, em grande parte, não me tocou da maneira que esperava. Muitos dos poemas parecem fissurados em experimentações formais e questões técnicas que certamente impressionam estetas e acadêmicos, mas que, para mim, acabam criando um distanciamento emocional.
Apesar disso, adorei os poemas finais, especialmente aqueles em diálogo com a senhora enfermeira. Estes textos, junto aos mais curtos e pessoais que compõem o livro, como Coordenação Motora, A Progressão dos Sentidos, Notícias de Mim Mesmo, e, claro, A Timidez do Linho, me conectaram de maneira mais imediata, justamente por se afastarem da preocupação excessiva com a forma. Nesses momentos, a poesia de Domeneck ganha uma sensibilidade mais direta, mais íntima, e foi aí que realmente me encontrei no livro.
No geral, reconheço o valor da obra e a habilidade técnica de Domeneck e saio da leitura torcendo por uma antologia que reúna os poemas da vasta obra dele escritos nesse tom que menciono.