shelukessonarry 19/02/2022
Intimations: a janela pro invisível que todos conhecem
Eu não sei por onde começar para convencer você a ler este livro. Porque ele me chamou para lê-lo. Espero que faça o mesmo com você. É definitivamente aquele livro que precisa ser lido no momento certo, que caso você leia quando não te agrega, tudo que é dito passará batido. No meu caso, ficou na minha TBR por meses, até que em surto, esta semana, assisti a um vídeo do mesmo booktuber que indicou ele, e ele o citou novamente. E precisei pegar pra ler.
Não veja as 91 páginas na ficha técnica e ache que será uma leitura leve. Por isso eu disse que você vai encontrar o que precisa ouvir. No meu caso pandêmico, tudo se encaixou como uma luva para que eu não tivesse que retornar às atividades presenciais no susto. Sei que não sou a única, mas prestes a completar dois anos com a vida em pausa, me sinto muito sozinha ultimamente, ansiando por lugares e pessoas que não passam de memórias, porque nada está mais lá. Ansiando pelas intimidades, pelos detalhes do meu dia-a-dia que não existe mais, o invisível que me era caro, a pessoa que eu não sou mais.
Este livro é um retrato dos primeiros momentos da pandemia, diria que de março a maio de 2020, quando o "daqui duas semanas a gente volta" parecia real apenas na formalidade social, porque no íntimo, no invisível visível a todos, já sabíamos que não seria assim, mas não queríamos falar em voz alta para não garantir o acontecimento. É o encerramento do antigo mundo alternativo em que vivíamos, o momento no qual ele nos passou a ser estranho, repulsivo e o qual, dois anos depois, achamos absurdo (a autora menciona sair de casa sem máscara porque ainda não era algo comum e eu fiquei em choque). Zadie volta pra verdadeira cidade fantasma em nossas mentes, eternamente inacessível e quase incrédula hoje em dia. A cidade que nunca deixaremos de sentir saudade, mas que viverá no nosso íntimo para sempre.
Não consigo falar um detalhe técnico desse livro, apenas tentar convencer você de que o leia. Zadie não parece argumentar algo, é como uma conversa, uma história que se desdobra em nossas mentes aquecidas por todos os debates políticos trazidos à tona pelo vírus, e ironicamente (ou de maneira muito inteligente), a dormência e paralisia do estranho acabam, junto com o livro, no primeiro grande choque político após o início da pandemia: o assassinato de George Floyd e a emergência do movimento Black Lives Matter.
Deixem que Zadie invada seu íntimo e ponha em palavras o que sentimos até hoje e não conseguimos verbalizar. Dói, mas ao mesmo tempo aquece o coração e supre uma saudade insaciável pelo que foi e não será nunca mais.