spoiler visualizarNatália 19/01/2012
Peguei o livro “A cidade e as serras” de Eça de Queirós na biblioteca por “obrigação”, já que o livro é exigido no vestibular. Assim como me surpreendi e mudei de ideia sobre “Capitães de Areia” de Jorge Amado, esse livro também me trouxe bons momentos.
O livro conta a história de Jacinto de Tormes, de descendência portuguesa que foi criado em Paris. No entanto, o narrador-personagem é o Zé Fernandes, melhor amigo de Jacinto. Gostei muito desse recurso usado pelo autor, pois acredito que se a história fosse contada por Jacinto, talvez o Zé Fernandes fosse dispensável ou não acrescentasse tanto a obra. Mas, ao tornar o último o narrador, o personagem é enfatizado e, sobretudo, conseguimos ter uma visão mais clara sobre Jacinto.
A história gira em torno das diferenças entre o meio urbano e o rural. Jacinto não acredita que possa existir felicidade no campo, pois crê que para ser feliz é preciso ser civilizado e, para ele, civilização seria estar rodeado das novas tecnologias, de prédios altos e de toda a modernidade vigente no século XIX.
Logo no início, Zé Fernandes descreve esse lado do Jacinto, mas por problemas familiares, tem que retornar para Portugal. Sete anos depois, retorna a Paris e encontra um Jacinto diferente do que tinha conhecido. Cercado de modernidades, o pobre Jacinto ou como chama Zé Fernandes “meu príncipe”, vê-se entediado no meio de tantas modernidades e tecnologias. As pessoas são as mesmas, os comentários são os mesmos e nem mesmo sua extensa biblioteca lhe traz mais algum prazer. Uma das frases que eu achei mais marcante no livro é quando Jacinto fala que tem tantos afazeres durante o dia, que ele acaba não sendo útil para nada.
Um acidente com a capela que guardava os ossos dos avós de Jacinto faz com que ele retorne para Tormes (uma cidade fictícia) em Portugal. No início, ele se vê horrorizado pelas situações e assustado quando a casa que mandara mobiliar e modernizar não estava pronta. Talvez fosse esse fator que o fizesse se adaptar a vida no campo. Como todos sabem, Jacinto acaba se apaixonando pela serra e lá ele se sente útil e sua vida ganha sentido... Sempre ao lado de Zé Fernandes.
O livro tem cerca de 200 páginas e metade é para cada lado da moeda, a cidade e as serras. No entanto, a impressão que tive era que os capítulos passados na cidade eram lentos, enfadonhos, entediantes, assim como Jacinto parecia se sentir. Já nas serras, a história se passa mais depressa, com os meses e anos correndo mais rápido. Lembrou-me da sensação de que quando gostamos de algo, o tempo passa rápido, mas quando é o contrário, parece estender-se infinitamente.
Enfim, gostei de “A cidade e as serras”. Só achei que o Zé Fernandes merecia, talvez, algum elemento para a vida dele. Mesmo no fim, a impressão que se dá é que ele continuará seguindo os passos de Jacinto mesmo ele construindo sua própria família. Creio que o nosso querido narrador merecesse outro livro, como “Quincas Borba” o melhor amigo de Brás Cubas, mereceu.