GiSB 05/05/2024
Temos o bem e mal intrínsecos desde tenra idade
Um livro emblemático.
Demorei alguns minutos para assimilar, regurgitar e remoer.
Crianças perdidas numa ilha, após queda de um avião. Inverossímil à primeira vista, e sem nenhum adulto sobrevivente. Mas tudo fazia parte da premissa e da tese do autor.
Mesmo crianças quando em estado de necessidade, mesmo letrados, civilizados, ficam entregues à barbárie.
Tudo vai tomando vulto lentamente, mas continuamente.
Quando então há uma imposição pela força e violência, e em um consentimento geral da força psicológica da manada, as dissidências são vencidas pela dor, cansaço e terror.
A perda da inocência. A maldade em seu estado pleno. O terror, a morte, os assassinatos, a histeria da turba ensandecida. O caos é instalado. A queima do substrato vital. Tudo em busca, perseguição obcecada pela derrota do outro lado político da situação, que precisa ser extirpado, eliminado, morto.
O autor meio que faz de sua narrativa um experimento social com os personagens. Coloca-os enquanto perdidos da civilização, em estado de necessidade e o que se forma são facções, loucura coletiva. O autor emula o mito do "mal selvagem", o oposto do que fora formulado pelo filósofo Rosseau.
No fim, como uma espécie de redenção, os garotos "civilizados" e "bonzinhos" da história conseguem ser resgatados por militares ingleses, enquanto o bando de garotos que se autoentitulavam selvagens e caçadores ficam entregues a sua própria sorte (ou diria, azar, ou karma) na ilha em que eles próprios colocaram fogo em caça ao seu colega tornado inimigo por uma simples divergência de pensamento/ideologia. Gosto de ver o bem triunfar sobre a maldade, nem que seja ao final da história.
Enfim. O livro traz reflexões sobre a sociedade em que vivemos e mostra que estamos todos a um passo da barbárie, bastando que deixemos nossos instintos mais crueis se aflorarem e tomarem conta de nossas ações individuais e coletivas.