A mão esquerda da escuridão

A mão esquerda da escuridão Ursula K. Le Guin...




Resenhas - A Mão Esquerda da Escuridão


556 encontrados | exibindo 121 a 136
9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 |


Maisa @porqueleio 07/02/2023

Motivos para ler / A mão esquerda da escuridão /@porqueleio
O livro foi escrito há 50 anos, um marco na literatura de fantasia e ficção científica, aborda temas importantes como: a polarização política, conflitos religiosos e a inevitável discussão sobre a igualdade entre os sexos.

O romance ganhou os prêmios Nebula e Hugo de Melhor Romance. Em 1987, a revista Locus colocou-o em segundo lugar entre romances de ficção científica, atrás de Duna e Harold Bloom afirmou: "Le Guin, mais do que Tolkien, elevou a fantasia à alta literatura, para o nosso tempo."

Listei alguns motivos no Instagram: https://www.instagram.com/p/Cn5LIOEp2RW/

site: https://www.instagram.com/p/Cn5LIOEp2RW/
comentários(0)comente



Ingrid 21/04/2021

Ficção Científica de 1969 com questionamentos de gênero totalmente atuais, aqui, somos convidados assim como antropólogos, a entrar em uma cultura diferente e testemunhar suas distinções, hábitos, vocabulário. Nesta história acompanhamos Genly Ai um mensageiro que vai ao planeta Gethen em uma tentativa de persuadir os governantes a entrarem para o acordo do Ekumen que propõe trocas de tecnologias e também culturais entre planetas.
É incrível como a autora criou culturas tão complexas em um livro com pouco mais de 300 páginas. Por diversas vezes a leitura é nebulosa e confusa, é totalmente desafiador tentar compreender a dinâmica desse planeta, mas ao mesmo tempo instigante. É engraçado como a capa de publicação da editora Aleph em 2019 é exatamente como me sinto sobre a leitura desse livro.
O que me incomodou foi que a história em si não foi tão interessante quanto a complexidade do mundo que a Le Guin criou. Queria muito ter entendido as motivações de Genly Ai para ir em uma expedição sozinho com poucas oportunidades de comunicação com o planeta de origem, poder ler relatos de como o tratado funcionou em outros planetas e como iria se ajustar em Gethen e outros assuntos. É definitivamente uma obra para releitura e quem sabe assim fazer novas interpretações.
Tati 24/04/2021minha estante
Pensei a mesma coisa ao ler! O mundo que ela criou é incrível e teria sido interessante um enredo mais complexo. Mas da mesma forma também penso que releitura seria importante pra perceber coisas que não vimos numa primeira leitura.




Naty__ 13/03/2020

É impossível não desejar ler uma obra que foi escrita há 50 anos. Trata-se de um marco na literatura de fantasia e ficção científica. Para quem não sabe, o livro ainda ganhou o prêmio Hugo e Nebula. É realmente uma obra que precisamos ter na estante.

Pela sinopse você perceberá que Genly Ai é enviado a uma missão intergaláctica, uma organização com aproximadamente 80 planetas, que tem como objetivo compartilhar conhecimento e comércio sem fins lucrativos. Genly é enviado para persuadir os governantes do planeta Gethen a se unirem a uma comunidade universal. Entretanto, esse humano, mesmo depois de anos de estudo, percebe que está despreparado para a situação que lhe aguardava.

Ao entrar em contato com uma cultura complexa, rica, quase medieval e com outra abordagem na relação entre os gêneros, Genly perde o controle da situação. É humano demais, e, se não conseguir repensar suas concepções de feminino e masculino, correrá o risco de destruir tanto a missão quanto a si mesmo.

Uma das dificuldades do nosso personagem é se adaptar às condições climáticas. O planeta Gethen ficou conhecido como Inverno, pois, acreditem, lá é capaz de nevar ainda que esteja no verão. Mas não apenas esse obstáculo ele precisa enfrentar, ainda tem de encarar os conflitos políticos.

Confesso que o início é bem empolgante e fiquei animada para continuar. Porém, infelizmente lá na página 80 o rumo muda e me desanimei, a leitura se arrastou um pouco e depois todo o foco retomou. Por esse fator acabei demorando para finalizá-la, mas valeu a pena ter dado um tempo para voltar com todo vigor.

Posso afirmar que é um livro que eu esperava muito, então fui com muitas expectativas. A sede ao pote foi o suficiente para encontrar o copo meio cheio e meio vazio, mas isso não tira o fato de a obra ser considerada o que é. E ela é mesmo, mas talvez eu tenha embarcado na hora errada, com muita ansiedade e acabei não dando a devida atenção que ele deveria. Talvez isso se deva ao fato de que precisamos de um pouco mais de tempo e concentração.

A leitura é densa, nem tudo nos é explicado logo no início, então pode ser que você considere a narrativa um pouco arrastada, como disse anteriormente. De fato é e não é. O início me prendeu bastante, mas na metade do livro senti que estava um pouco cansada. Acredito que meu erro tenha sido querer lê-lo numa sentada só ou até mesmo sem intercalar com outras obras. Então, já vale como dica para você. Não queira ler afobado, agoniado, pensando em terminar logo. Não estamos numa leitura de suspense ou de romance policial. Às vezes o que nos impede de gostar de um livro ou de não gostar 100% é o momento que lemos, a forma como estamos… Acredito até que esse assunto dê um bom tema para a coluna Devaneando e, assim, possamos refletir o que faz com que um livro não ganhe 5 estrelas. Topam?

A obra como um todo é excelente para quem gosta de ficção científica e para quem se atrai por assuntos polêmicos e atemporais. Gênero, feminismo, alteridade, filosofia, antropologia… tudo isso encontramos em A mão esquerda da escuridão. Leiam, ainda que aos poucos, ainda que sem compromisso, ainda que sem muitas expectativas. Apenas leiam e tenho certeza que a coisa vai fluir melhor. Em 2020 pretendo relê-lo sem muita agonia e certamente será diferente. Digo por experiência própria em outros livros.

Sobre a edição:
A edição comemorativa da Aleph está belíssima e conta com uma capa dura pintada, prefácio do Neil Gaiman. As folhas são amareladas e apresentam um conforto à leitura.

site: http://www.revelandosentimentos.com.br/2019/12/resenha-mao-esquerda-da-escuridao.html
Angela Cunha 05/04/2020minha estante
Penso eu que esse livro seja o tipo de livro que ou você o ama com paixão ou não o quer por perto. Eu como sou uma confusão em se tratando de clássicos, penso que teria muita dificuldade em ler a obra.
Mas é impossível negar sua importância, por isso, quem sabe um dia, minha mente se abra né?rs
Beijo


Priscilla 23/04/2020minha estante
Ótima resenha. Tenho me surpreendido com esse livro também!! Gostando muito


Michelle 03/07/2020minha estante
Incrível como um livro escrito há 50 anos, consiga ser tão atual.
Mérito da Úrsula!
As vezes nossas expectativas em relação a uma leitura podem não ser algo positivo. Já passei muito por isso.




Matheus.Andrade 26/06/2020

Úrsula K. Le Guin deixou um legado para a ficção científica, e eu não poderia demorar nem mais um segundo pra ler a sua obra mais famosa. Em A mão esquerda da escuridão, Le Grin usou questões de gênero e assuntos antropológicos para construir uma história refinada, um universo que se tornou muito influente dentro do gênero.
Pouco tempo atrás eu li Orador dos Mortos e fiquei impressionado com as ideias da história. O que mais me surpreendeu, agora, foi perceber que a base principal deste livro já havia sido criada, na verdade, por Úrsula Le Grin. E o principal ponto que ela antecipara foi a ideia de uma confederação intergalática que regula as relações comerciais e diplomáticas entre os diversos mundos que os humanos colonizaram.
A mão esquerda da escuridão recebeu a alcunha de "ficção científica feminista" porque fala de uma missão diplomática de um homem em um mundo com população andrógina, onde simplesmente não existe a lógica patriarcal da Terra e nem a separação por gêneros. As pessoas do planeta Inverno não sabem o que é mulher e homem.
A jornada árdua dos protagonistas em meio às intrigas dos governos e ao clima implacável do planeta Inverno se confunde com a escrita densa de Le Guin. Uma história pra lá de complexa, que só se tornou possível pelo profundo conhecimento de geologia, astronomia, mecânica - uma ficção científica das mais bem elaboradas.
Essa complexidade não prejudica a imersão na história, por isso não se acanhe. Vá ler, que vai ser sucesso!
comentários(0)comente



Clau ð» 18/06/2023

Confesso que não é um tema que me agrada. Comecei a ler por curiosidade. Apesar de não ter me encantado e eu ter sentido muito frio por conta das inúmeras referências ao planeta (que é pura neve e gelo), me levou a algumas reflexões bem interessantes sobre a construção de uma sociedade cuja base não esteja ligada ao sexo e ao gênero. Pra quem gosta da temática, recomendo.
comentários(0)comente



André 19/02/2020

Um dos melhores livros de sci-fi que já li, sem dúvida. É um ficção de extrapolação, cria um "e se..." para nos fazer refletir sobre nosso próprio mundo, nossas práticas, nossa sociedade.

O primeiro ponto que chama atenção é a inventividade da autora em conseguir criar um mundo substancialmente diferente. A biologia, a organização social, a política, as religiões, os costumes e a filosofia de Gethen são próprias dela, não apenas uma cópia do que já temos na Terra, mas disfarçada de alienígena.

A diferença mais gritante desse novo mundo é que as pessoas são ambissexuais, ou seja, só assumem um "gênero" em um período específico do mês. Só com isso o livro já cria uma reflexão fundamental sobre a nossa maneira de lidar com as questões de gênero, sobre todo o preconceito e machismo envolvido em como decidimos responsabilidades e direitos, como impomos fardos, até em como "classificamos" o gênero de alguém pela sua genitália.

Além disso, o livro aborda vários outros temas. A xenofobia é bem presente no livro, já que Genly Ai é um enviado alienígena, que causa preocupação aos governos justamente por ser diferente, por temerem perder poder com a sua proposta. Também entre a população ele é visto com receio, tratado mais como uma aberração de circo. Também se vê xenofobia na maneira como as diferentes nações de Gethen se tratam. Obviamente, td isso é facilmente comparável com a xenofobia tão presente em nosso tempo.

Outro tema bem abordado é sobre os governos e suas políticas. A autora, como anarquista, faz críticas precisas sobre o papel que o Estado exerce na vida de seu povo, em como controla a população com violência policial, como manipula a opinião pública pra apoiar seus intentos nada democráticos. Já a organização popular das comunidades de Karhide mostra uma organização mais centrada no bem estar de seus membros, todos compartilhando responsabilidades e direitos.

A amizade entre Genly e Estraven também é muito bem trabalhada, um desenvolvimento que vemos pelo livro todo. E durante as últimas 100 páginas reflete sobre solidão, desespero e esperança.

Um último ponto importante a ser falado é que os habitantes de Gethen e o enviado, Genly Ai, são todos não-brancos, gerando uma reflexão sobre racismo, já que a maioria dos livros de sci-fi são protagonizados brancos, sendo fundamental essa representatividade.

Não é a toa que A Mão Esquerda da Escuridão é um clássico da ficção científica. Mesmo escrito na década de 60, continua atual e revolucionário.
comentários(0)comente



julia 30/04/2020

Se eu fosse avaliar esse livro exclusivamente pela minha experiência da leitura, eu seria obrigada a dar um 4,5. Pelo simples fato de que eu sinto que eu vou aproveitar essa história muito mais quando eu a revisitá-la, então eu preciso dar uma nota que tenha espaço para crescer no futuro.

Dito isso, eu não tenho como não dar nota máxima para isso daqui. É de uma genialidade, em tantos níveis diferentes. A começar pela própria Introdução (que eu honestamente espero que esteja presente em todas as edições). Em tradução livre do meu e-book em inglês:

"Sim, de fato as pessoas [no livro] são andrógenas, mas isso não significa que eu estou prevendo que em mais ou menos um milênio nós seremos todos andrógenos, ou anunciando que eu acho que nós devemos ser andrógenos. Eu estou meramente observando, do jeito peculiar, ardiloso, e através de um experimento mental próprio da ficção científica, que se você olhar para nós em certas horas singulares do dia em certas condições metereológicas, nós já o somos. Eu não estou prevendo, ou prescrevendo. Eu estou descrevendo. Eu estou descrevendo certos aspectos da realidade psicológica do jeito de um romancista, que é inventando mentiras circunstanciais e elaboradas."

É sobre isso que é esse livro: sobre uma experiencia humana universal. Sobre enxergar o outro para além de gênero, pátria ou etnia. Sobre o que nos faz verdadeiramente humano.

Eu chorei muito lendo essa introdução. A Ursula entende a ficção exatamente como eu: uma metáfora, sempre uma metáfora.

Quando eu comecei a ler esse livro, contudo, eu achei que essa mensagem poderia se sobrepor aos personagens. Já sabia que a construção daquele universo ia ser impecável, não apenas pela minha experiência anterior com Os despossuídos, mas pelos primeiros capítulos que apresentam aquele planeta e aquela sociedade de maneira majestosa. Ao mesmo tempo, por estar em um momento muito delicado da vida (alô, quarenteners!), eu deixei algumas coisas passar. Então demorei um pouco pra entender os personagens. Por isso que eu digo que a minha experiência de leitura poderia ter sido melhor. Eu com certeza vou apreciar esse livro muito mais da próxima vez.

Foi na segunda metade do livro que as coisas começaram a se encaixar pra mim. Em vários momentos, tive que voltar um pouco nos capítulos anteriores, reler alguns trechos pra organizar na minha cabeça o que eu já deveria saber sobre aquelas pessoas. Cheguei no último capítulo chorando, apegada, e as lágrimas não pararam de cair por vários minutos depois de já ter terminado a leitura.

O texto dessa história é uma coisa maravilhosa. Eu destaquei a primeira frase do primeiro capítulo no meu e-book, porque determina que 1) o narrador está fazendo um relatório, mas que 2) ele optou por escrever um relatório como se contasse uma história. E isso está presente em todo o texto. Os capítulos que não são narrados pelo Genly Ai, são postos como reproduções de documentos, transcrições de mitos ou trechos do diário de Estraven, o que alimenta a ideia de que temos em mãos um documento. Mas que não deixa de ser profundamente pessoal. Ao mesmo tempo, a Ursula escreveu uma ficção científica como se fosse uma fantasia, não só na construção das duas sociedades em conflito naquele planeta, mas também nas palavras que ela escolheu pra descrever aquele mundo. Eu fico tentando entender isso na minha cabeça: é uma ficção científica em forma de relatório escritos como se fosse uma história com um texto que parece o de um livro de fantasia. E funciona.

Enfim, leiam esse livro. Por favor, leiam esse livro.
comentários(0)comente



JuPenoni 03/12/2022

Me surpreendeu
Leitura com o clube da leitura.
Por ser uma ficção científica, e não ter muito contato com esse tipo de leitura, não sabia muito o que esperar. Mas foi uma grata surpresa. O livro é envolvente e a história muito bem construída.
Fiquei curiosa para ler mais da autora!
comentários(0)comente



giovannalukesic 28/05/2020

Faz a gente pensar
É um dos meus livros favoritos. Mistura ficção científica e questões de gênero, além de tratar de disputas políticas e religiosos. É da década de 60, mas o debate é super atual. A história te prende bastante e, mesmo quando você não está lendo, fica pensando naquele(s) mundo(s). Não é muito longo e vale muito a pena.
comentários(0)comente



Lurdes 17/05/2022

Quando ouvia dizer que A Mão Esquerda da Escuridão era inovador, diferente, arrojado, instigante, inteligente eu pensava: Ah, mas já li muitos livros com estas qualidades/características.
O que ele pode ter de tão especial?
Mesmo assim, fiquei curiosa e me joguei na leitura deste grande e premiado clássico da Ficção.

Foi meu primeiro livro da Ursula K. Le Guin e só tenho que, humildemente, concordar com tudo que já foi dito.
A autora constrói uma estória sci-fi, não baseada em máquinas, robôs, tecnologia e invenções mirabolantes.
NÃO!
Úrsula se vale da invenção de mundos diversos baseada nas relações.
As diferenças entre os planetas e seus habitantes não são apenas de ordem tecnológica, comparando quem possui mais avanço científico ou mais armas. (Armas, inclusive, quase inexistem na narrativa).
As diferenças são comportamentais e fisiológicas.

O livro conta a estória de Genly Ai, um terráqueo em missão ao planeta Gethen, antigamente conhecido como Inverno.
Genly foi enviado pelo Ekumen, entidade que coordena as relações comerciais entre os inúmeros planetas existentes.

No intuito de não parecer hostil, Genly foi enviado sozinho, e ele precisa, não só convencer os líderes gethenianos a aceitarem a aliança com o Ekumen, como entender as características muito peculiares do planeta e seus habitantes.
Em Gethen, não existe divisão de gênero como conhecemos. Todos os seres são homens e mulheres, e não são nenhum dos dois. Apenas durante o "Kemmer", existem encontros sexuais e um dos parceiros assumirá a função de genitor.
A junção de características masculinas e femininas em um único gênero cria igualdade total entre os habitantes e toda uma dinâmica diferente da que estamos habituados.

Acompanhamos, ainda, a tortuosa amizade de Genly com o getheniano Estraven.
Ambos se alternam como narradores, sempre tentando compreender o universo um do outro e expondo seus pontos de vista e seus estranhamentos.

A discussão de gênero era ainda muito incipiente e Ursula, mais uma vez, foi pioneira.
Temas super atuais nesta edição especial da @editoraaleph que está um escândalo de linda.

Uma leitura incrível. Super recomendo
Thais645 17/05/2022minha estante
Que resenha boa! Me deu vontade de ler esse livro!




Julio.Cesar 03/12/2022

Um ensaio sobre a alteridade
A Mão Esquerda da Escuridão é meu primeiro contato com a obra de Ursula K Le Guin e não imagino que pudesse haver melhor porta de entrada. Não é de hoje que o seu nome é tido como um dos mais célebres da literatura moderna e sua genialidade seja reconhecida dentro e fora do campo da ficção científica, mas finalmente ter a chance de me aprofundar no trabalho de Le Guin foi algo que me permitiu compreender em alguma medida a grandiosidade de suas ideias, de modo a ser arrebatado por sua escrita e me ver encantado por sua capacidade de criar universos tão singulares e tangíveis.

O próprio entendimento de Le Guin quanto à ficção científica já é suficiente para situá-la dentro do circuito do sci-fi e elucidar seus interesses enquanto escritora. Para Ursula, a ficção científica não está incubida de prever o futuro através das ?profecias? de escritores, mas de descrever a realidade por meio de ?mentiras?, mentiras que em suma consistem em metáforas e analogias para as questões sociais, políticas e de qualquer âmbito pertinente à humanidade de seu tempo. Um exemplo muito cabível desse tipo de abordagem é o da obra de Margaret Atwood, outra gigante da ficção científica que busca tecer reflexões acerca de feminismo e gênero a partir de fragmentos da realidade, utilizando do caráter especulativo da ficção distópica para denunciar situações de desigualdade recorrentes no presente.

Um dos aspectos mais surpreendentes desta obra de Le Guin, é a habilidade em abordar tantos temas num curto espaço de tempo (estamos falando de um livro com menos de 300 páginas) sem cair em discussões superficiais ou subdesenvolvidas. A autora consegue equilibrar as discussões ao passo que desenvolve o universo e seus personagens, de modo a conduzir com maestria tudo que se propõe a debater tal como estivesse dissertando um ensaio filosófico. Por meio dessa engenhosidade sem tamanhos, Ursula faz com que as questões de seu interesse tornem-se intrínsecas ao universo dos personagens, permitindo que os debates quanto à sexualidade, gênero, etnocentrismo e patriotismo transpareçam uma organicidade sem igual.

Agora? voltando a atenção para a história, pode-se dizer que dentre as tantas coisas que o livro é, temos aqui um ensaio sobre a alteridade. Num estilo bem familiar ao sci-fi utópico e planetário de Star Trek, Ursula nos leva a acompanhar a jornada do terráqueo Genly Ai frente à civilização do planeta Gethen. Enviado pelo Ekumen, uma organização de civilizações interplanetárias da qual a Terra faz parte, numa missão pacífica com vistas a estabelecer um canal de conexões, Genly Ai se vê confrontado por questões que até então nunca haviam sido pertinentes a sua vivência e busca estabelecer diálogos a fim de conhecer e compreender a realidade tão distinta do povo getheniano.

O choque cultural mais imediato se dá pela morfologia das espécies gethenianas. Ambissexuais e visualmente andróginos, os habitantes de Gethen possuem um ciclo sexual distinto dos seres humanos. Periodicamente, os gethenianos entram no ?kemmer?, uma espécie de ?cio? voltado para a fertilidade e troca de afetos, que faz com que seus corpos sofram transformações hormonais e anatômicas responsáveis por evidenciar características femininas ou masculinas temporariamente.

O estranhamento de Genly Ai para com o Kemmer só não é maior que o choque dos gethenianos para com os corpos humanos, que além de não estarem familiarizados com o conceito de binariedade vigente na sociedade terráquea, se veem escandalizados com a possibilidade de um indivíduo estar em ciclo sexual constante. Além das particularidades biológicas, a ausência de papéis de gênero dentro da civilização getheniana os distancia de qualquer aproximação com as convenções heteronormativas que regem a sociedade humana, gerando assim um clima crescente de desconfiança e dúvidas quanto ao protagonista e às intenções de sua expedição. 

Além do campo do gênero e sexualidade, Ursula começa a trazer à tona questões de xenofobia e patriotismo ao desenvolver as tramas de conspiração dentro do sistema político getheniano, que sofre com a rivalidade das duas principais nações do planeta, Karhide e Orgoreyn. O medo do outro é constante. Em meio à iminência de novos conflitos decorrentes de sua chegada, Genly Ai se vê sob o fogo o cruzado e une-se ao ex-nobre Estraven, personagem envolto por controvérsias e nuances que vem a ser exploradas ao longo do romance (em capítulos próprios, por vezes), que guia o protagonista em uma fuga pelo Planeta Inverno. Nesta jornada, as discussões de alteridade ganham corpo à medida que as diferenças culturais são acentuadas, permitindo que as personagens troquem conhecimentos entre si sobre aquele mundo vasto e opulento.

O mergulho etnográfico promovido por Ursula é admirável não somente pelo êxito em estabelecer as regras e detalhes do universo que criou, mas por apresentar as informações deste universo sem se restringir a estruturas convencionais. Durante a leitura, a autora alterna os capítulos regulares para dar lugar a documentos de expedições, relatos de personagens que visitaram o Planeta Inverno em outras épocas, contos e lendas folclóricas que realçam a beleza da cultura getheniana, abordando não apenas a história daquela civilização de maneira objetiva, mas também de imergindo o leitor em passagens com forte caráter poético e lírico.

O trabalho de Ursula em desenvolver uma geografia própria para seu universo é outro espetáculo à parte. Sem se ater unicamente às descrições de mundo detalhistas que por vezes podem ser cansativas, como nos universos de Tolkien e Martin, aqui a autora une o ofício cartográfico à contação de histórias e ao lirismo, fomentando uma visualização das paisagens, fauna e flora de forma verossímil, ao passo que estabelece certas concepções visuais menos tangíveis, abrindo assim mais espaço para o exercício imaginativo do leitor.

Mesmo quando volta a atenção para a apreciação dos aspectos físicos e biológicos, a autora traça comentários pertinentes à etnografia e se interpõe entre as personagens de Genly Ai e Estraven. Genly, apesar de não estar em uma missão colonizadora, carrega preconceitos e uma visão de progresso civilizatório que justificam o medo e a desconfiança por parte da população nativa. Seus conceitos de pátria e territorialidade são muito vagos para os habitantes do Planeta Inverno, e em certo momento chega a ser questionado quanto ao significado de amor ao próprio país, quanto ao conceito de um lugar marcado pela delimitação espacial, à imposição de uma fronteira. ?O que é o amor pelo seu país? É o ódio pelo seu não-país? Então não é uma coisa boa. É apenas amor-próprio?[...]?.

Apesar dos feitos brilhantes de Le Guin em demarcar a alteridade por meio da dualidade dos personagens principais, a obra apresenta limitações (muitas delas por conta da época em que foi escrito), limitações estas que posteriormente viriam a ser reconhecidas e repensadas pela própria Ursula. Apesar de estar trabalhando com conceitos de não-binariedade, a autora ainda se encontra presa a muitas convenções que partem de um olhar masculinizado, desde de os pronomes aos estereótipos de gênero (que diga-se, são válidos na medida que contribuem para a constituição no campo diegético mas se tornam vazios ao continuarem reproduzindo concepções sexistas), e no tocante à heteronormatividade do presente no kemmer, que suprime muitas possibilidades dentro do conceito apresentado pela autora.

Mas ressalvas à parte, o universo construído por Ursula e a história desenvolvida aqui continuam atemporais. Apesar de ser um livro de ficção científica denso em certa medida, a obra de Le Guin não deve ficar restrita aos entusiastas do gênero, uma vez que a escritora perpassa uma série de convenções e pôde ter ao longo de sua vida o prestígio de atravessar diversas áreas do conhecimento, mostrando-se relevante dentro e fora do sci-fi. Ano que vem completam-se cinco anos desde sua partida, e uma das formas de honrar seu legado é lendo sua obra e fazendo o possível para que mais leitores e leitoras possam ter a experiências de serem atravessados pela genialidade de Ursula.
comentários(0)comente



luiza lima 06/06/2020

Grande expectativa para quase nada
Não sei se criei muita expectativa, mas eu não consegui gostar do livro. Me pergunto até mesmo se li ele todo de maneira errada.

É claro que considero o contexto histórico em que o livro foi escrito, nos primórdios da luta feminista e o quão revolucionário deve ter sido para a época escrever sobre um universo em que sua sociedade não foi construída em função dos gêneros, já que nessa sociedade eles basicamente não existem.

Porém, o livro já começa com uma frase machista, dizendo que uma pessoa sem gênero parecia uma fêmea por alguma característica negativa. E pelo livro tem várias dessas analogias ao sexo feminino quando os personagens são fofoqueiros, ou apresentam alguma característica ou comportamento negativo. Não consegui interpretar de outra maneira que não de cunho machista, não consegui ver uma crítica da autora nessas partes.

Por ser apresentado como uma obra tão revolucionária nesses aspectos de gênero, eu realmente me decepcionei com o que li e não achei nada demais, apesar de ainda achar válida a reflexão sobre essa questão, apenas não acho que tenha sido construída de maneira tão incrível assim.

Quanto a história em si, achei lenta e não fluida. Os capítulos são longuíssimos, sem pausas, os acontecimentos arrastados. O meio foi quando me interessei mais, mas o final foi decepcionante.

No geral acho que foi uma leitura válida, pois pôde me fazer refletir sobre todos esses aspectos de gênero e até mesmo da evolução do feminismo, do quanto coisas bobas que antigamente passavam despercebidas hoje em dia já não passam mais. Então, apesar de não ter gostado da obra em si, não acho que foi perda de tempo.
Leticia.Revitto 04/07/2020minha estante
falou tudo!
é a primeira resenha sobre o livro que concordo. não entendi como pode ser considerado uma obra tão feminista, se o tempo todo me incomodei com a maneira como o gênero feminino era abordado.
faço parte de um clube do livro em que apenas 2 de 7 integrantes (mulheres!) conseguiram concluir a leitura. e, quando fomos procurar outras opiniões, nos surpreendemos com as avaliações extremamente positivas. parecia que tínhamos lido o livro errado.
estou profundamente contemplada ao encontrar a sua resenha. obrigada.
se quiser depois conferir, vamos fazer uma resenha pela página no Instagram (@webook.club) falando nossas opiniões. seria ótimo te ter como parte dos nossos seguidores - foi de fato um alívio encontrar alguém de fora com quem concordamos tanto!


Jessica1248 06/01/2021minha estante
Me sinto igualmente contemplada kkkkkk estou em 60% e não entendo o hype desse livro. O tempo todo os seres são chamados de ?homens? e ?ele?, o que a própria autora admite que pode ter sido um erro. Mas fora isso, eu esperava que a ambissexualidade dos indivíduos influenciasse na política, religião e etc, e essa relação não acontece. O livro é basicamente gente andando de um lado pro outro.




arthur.1 15/04/2023

Achei a ideia mt interessante
Curti bastante a criação de mundo proposta. A escrita da autora é boa e muito imersiva, mas os termos acabavam me confundindo muito e eu me senti perdido em alguns momentos. Não sou um leitor ávido de ficção científica, e pra funcionar pra mim, eu preciso que seja tudo bem mastigadinho — o que eu não achei muito no livro.
Mas adorei a forma de sociedade proposta, o Genly foi muito divertido em alguns momentos e a história com o Estraven foi realmente inesperada. Não é um livro feito para ser chocante e extraordinariamente incrível, ele foi feito para ser digerido, analisado de pouco em pouco. Eu não tenho costume de ler ficção científica, mas a leitura desse livro que veio por conta de uma LC de um grupo de bookstans que estou, fez com que eu tivesse o desejo despertado pra ler mais ficções científicas.
comentários(0)comente



Raquel 05/09/2021

A mão esquerda da escuridão
Livro que conta a história de Genly Ai, um enviado das estrelas que tem a missão de convidar o planeta de Gethen, a fazer parte do Ekumen (confederação interestelar da qual 83 planetas fazem parte, incluindo a Terra).

Leitura desafiadora, pela dificuldade encontrada na adaptação com a escrita de Ursula Le Guin, influenciada mais pelo fato dos termos criados serem já inseridos nas primeiras páginas, deixando o leitor muito perdido quanto a mensagem que desejava passar, do que pela parte da ficção científica, que foi pouco explorada. Quanto a primeira parte, um glossário solucionaria fácil, já a segunda, foi totalmente ofuscada e até mesmo se tornou desnecessária, por todas as questões levantadas por essa autora.

Muitos temas são abordados, sendo o principal deles a questão de gênero. A forma como Genly interpreta o "diferente", e o quanto se sente perdido ao perceber que ali, o diferente é o normal, fazem com que sua reflexão, transforme crenças e dogmas do Enviado, conforme suas experiências no livro avançam. Como também, como relações de amizade e companheirismo, não tem fronteiras, nem mesmo entre pessoas de mundos diferentes.

A leitura no início pode ser um pouco difícil para alguns (foi para mim), mas vale a pena insistir.
comentários(0)comente



556 encontrados | exibindo 121 a 136
9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR