@tayrequiao 21/08/2021Um texto que merece tempo e cuidado.A primeira vez que eu li Dante eu tinha em torno de 14-15 anos. Eu não tinha sequer maturidade para lê-lo, mas eu estava descobrindo os “clássicos” e eu queria conhecer o máximo possível daquele universo.
Claro que a pouca idade me fez ler o “Inferno” como se um romance fosse. Uma leitura sem qualquer apego aos detalhes, às referências, às entrelinhas. Hoje, alguns anos (e muitas horas de estudo) depois, a Commedia assumiu outros contornos para mim.
A trajetória de Dante pelos círculos do Inferno certamente é uma das histórias mais conhecidas da literatura mundial. E, junto com a sua fama, foi criada uma mística de que Dante escreve apenas sobre pecado, dor, sofrimento e punição.
Em verdade, o Dante do “Inferno” está falando de política, amor, escolhas e sobretudo de perdas. Aqui, ele vai te mostrar o que reserva o futuro para aquele que não segue o caminho correto (em direção a Deus). As cenas super gráficas, os personagens icônicos são só detalhes de um texto riquíssimo em referências políticas, históricas, religiosas e mitológicas.
Ler com esse “novo olhar” me fez suspirar com a relação entre Virgilio e Dante e a forma carinhosa com que ele a escreve.
Uma leitura mais atenta me fez observar as citações indiretas aos textos de outros autores, principalmente Lucano e Ovidio, a quem Dante reverencia.
Ler Dante em um texto bilingue, sendo estudante de italiano, me fez enxergar o brilhantismo do poeta que entrega pausas nos versos originais para demonstrar até mesmo a falta de fôlego dos personagens.
Italo Calvino, em seu livro “Por que ler os clássicos”, nos diz que clássicos são aqueles livros que quanto mais pensamos que conhecemos, mais original, inesperado e inovador se apresenta.
É isso que eu senti (re)lendo o “Inferno”. É essa a riqueza do texto dantesco: nunca ser suficiente.
2021 é o ano em que completamos 700 anos da morte do gênio Dante Alighieri. Leia Dante.
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