Gabriel Rocha 04/12/2022
A Misteriosa Condição da Poesia Enfeitiçada de Mario Quintana
O Aprendiz de Feiticeiro é um acorde dissonante. Diferente de tudo que Quintana tenha escrito antes dele. Sem dispersões fugazes de satirização cínica, pois não apela para o humor, o poeta expõe-se em sua autenticidade, fazendo-o por meio do obscuro. AF é a densidade mágica do "poeta da simplicidade". Simplicidade, não? O mundo sobrenatural é a casa de Mario. Pra ele não teria nada mais simples, nem mais genuíno, nem mais vivaz que a feitiçaria.
O livro é dois: o mundo encantado e descrição sinestésica. A contraparte poética do livro é a repercussão íntima, mas com tessituras sensíveis. Poemas em que ler é encontrar-se imerso na situação descrita, não apenas pela modulação hirta, mas as sentindo em cumplicidade profunda ao poeta. Tendo a alma deslocada pelo proferimento das palavras mágicas, é capaz de sentir-se varrido como uma pista, ou sorrir e sentir vir à boca um gosto de estrelas. Lê-lo é o escuro roçar do seio de um amor desconhecido, cheio de emoção e medo.
Muito acanhado, o título do livro não faz jus ao que é Mario Quintana, um feiticeiro dos mais robustos, pai de um caleidoscópio fantástico. Que não se distancie muito ao lê-lo, mantenha-se sempre certa atenção ante a sedutora tensão, pois se corre o risco premente de se ver, de súbito, ensopado ao relento de um arroio, com o corpo morto em Xangai!
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