tiagonbraz 04/12/2022
Histórias, de Heródoto - Livro IX, Calíope
"A mais cruel tristeza para o homem é ver que o sábio não tem a menor autoridade”.
Findo as Histórias de Heródoto. O último livro, cujo nome é em homenagem à musa Calíope - musa da poesia épica, da ciência em geral e da eloquência e a mais velha e sábia das musas, considerada por vezes a rainha destas -, conta sobre os acontecimentos após a Batalha de Salamina, durante a guerra grecopersa, em que Xerxes abandona a Grécia e volta para a Ásia, deixando Mardônio responsável por tentar conquistar o restante da Grécia. Ele até consegue reconquistar Atenas, mas eventualmente é vencido pelo exército grego - que uniu atenienses, espartanos e outras tantas pólis gregas - na chamada Batalha de Plateia. Com o término desta e a completa expulsão dos persas de território grego, Heródoto ainda conta de uma última batalha, em Mícale, já em território Iônio, em que Samos é libertada do domínio persa.
Livro mais curto que o anterior, traz duas batalhas importantes na história da guerra e coloca um ponto final nesta; no entanto, é inegável que os dois últimos livros, que narram a Batalha de Termópilas e a de Salamina, são mais épicos, instigantes e emocionantes - tanto que ambas as batalhas viraram filmes, com destaque especial à primeira. Ademais, não encontrei o livro IX para comprar em edição física: nem da "Edições 70", editora portuguesa, nem da Edipro, que faz edições belíssimas. Tive de recorrer ao ebook do site Ebooks Brasil, cuja edição recomendo fortemente.
Sobre todos os livros das Histórias: Heródoto iniciou com diversas digressões, começando com o início do expansionismo persa, no reinado de Ciro, o Grande; depois, com Cambises, que talvez era um psicopata; Dario e, por último, Xerxes. Até se pode dizer que é uma história linear, mas recheadíssima de digressões - Heródoto para a narrativa incontáveis vezes para discorrer sobre histórias dos povos, como se sucedeu algo, características geográficas, étnicas e mitológicas dos locais em que as Histórias ocorrem. Por exemplo, num dos livros, o Império Persa conquista o Egito - mas nem de longe a narrativa para por aí, pois discorre minuciosamente sobre a região e história de diversos faraós. É facílimo perder-se no livro; por isso, acredito que algumas dicas podem ser úteis.
Deve-se tentar ler ininterruptamente, sem ler as notas de rodapé. É bem possível que se fique perdido na narrativa caso se prenda a cada uma delas - a história já é difícil de acompanhar, e com sucessivas interrupções, beira o impossível. Sei da tendência em achar que estamos perdendo algo ao não ler as notas, mas o mais provável que ocorra é o contrário: perdermos a experiência da leitura de Heródoto, ao interrompermos a leitura a cada capítulo. Até por este motivo creio que a leitura do Ebook que citei pode ser mais útil para o leitor médio, pois não tem muitas notas. Lê-se numa fluidez maior, e fica mais fácil acompanhar. As edições da "70" e da Edipro são cheias de notas de rodapé - que certamente ajudam para situar o leitor, mas se utilizadas em demasiado podem atrapalhar. Por isso, sou da opinião de que deve-se ler sem recorrer às notas, de maneira geral. Recorre-se a elas caso algo fique realmente obscuro, ou em uma eventual releitura. Algo que também pode auxiliar, durante a leitura, é ter um bom mapa da Grécia e Ásia Menor: algum específico dos acontecimentos das Guerras grecopersas pode trazer mais informações e ser mais útil, durante a leitura, para consultas rápidas.
"Esta é a exposição da investigação de Heródoto de Túrio, para que os acontecimentos passados não sejam extintos entre os homens com o tempo, e para que os feitos grandiosos e maravilhosos, uns realizados por helenos e outros por bárbaros, não fiquem sem glória, e expor os motivos pelos quais guerrearam uns contra os outros."