Andréa Bistafa 18/09/2014www.fundofalso.comSabe aquele livro que você já cansou de ver por ai, mas nunca pega para ler de fato, pois algo não te chama a atenção o suficiente? Sim, então você o lê e se pergunta, poxa porque demorei tanto tempo para me render?
A Bandeja é o primeiro livro da escritora brasileira Lycia Barros, foi lançado a aproximadamente três anos atrás, e agora republicado pela editora Arqueiro, que fez um trabalho impecável.
Trata-se de um romance evangélico. A base da estória se encaixa na crença evangélica, em questões de sexo, drogas e atitudes em geral. Eu preciso ser sincera ao dizer que esse fato sempre me deixou ressabiada com a leitura, não gosto de livros que exploram demais religião. Acredito que cada um tenha a sua e isso não seja algo discutível. Pelo menos não em um blog literário. Mas o grande diferencial dessa obra é exatamente mostrar ao leitor a religião sem forçar, mostrar que mesmo pessoas que foram criadas no caminho podem errar, e errar feio.
"Minha vida toda fora monitorada por meus pais e eles falavam de casamento como algo tão puro que chegava a ser entediante. Eu não sabia que poderia sentir algo assim, uma desenfreada vivacidade." Pág. 52
Nossa protagonista, Angelina, morou toda sua vida em Petrópolis, criada por pais evangélicos dentro da religião. Uma família de bem. Aos 18 anos seu maior desafio será sair da proteção dos seus pais para a faculdade, no Rio de Janeiro, em um campos. Aberta para um mundo totalmente novo.
"- É isso que acontece quando se tem atenção demais da família, ela passa a ser como o ar, algo que se desloca constantemente ao seu redor, mas você nunca nota de fato. Até que ela falta." Pág. 165
Bem, morar longe dos pais já é algo assustador para quem nunca experimentou, e quando você descobre que sua colega de quarto usa drogas e vive em festas regadas à álcool e sexo fica ainda mais complicado.
A vida de Angelina segue, não parece ser tão ruim, consegue manter o foco nos estudos, bem ela achava que sim até conhecer e se apaixonar perdidamente por Rico.
Rico será seu professor no ano letivo, é dez anos mais velho e carrega fardos que talvez Angelina não seja capaz de lidar.
Angelina é uma personagem muito bem construída, com atitudes condizentes, e que está experimentando pela primeira vez uma droga que pode acabar com sua vida: a paixão. A paixão quando usada com exagero, faz com que nos deterioremos, nos faz deixar de viver nossas vidas para viver o do amado. O ciúmes nos afoga e tira a noção de realidade. Angelina terá de chegar ao fundo do poço para perceber que talvez o que ela sinta não seja amor.
"- Doente de amor... Sabe quando você está apaixonada e parece que tem uma manta protegendo seu coração? Pois é, arrancaram minha manta." Pág. 101
Quase tudo que Angelina vai viver aqui nesse livro eu já vivi quando era até mais nova que ela, talvez por isso tenha me identificado muito. Ela é extremamente real. A família dela é real. Rico é o que mais encontramos por ai. E nossa, Deus está tão bem representado, sem forçar a barra!
A narrativa da autora é gostosa, trata de um assunto forte de forma leve, até mesmo divertida em seu momento certo.
Um ponto interessante da trama, que acho que vale a pena comentar aqui (sem liberar spoilers) são os sonhos que Angel tem. Sonhos que seriam como revelações. Talvez uma forma de Deus Lhe falar. Os sonhos chegam a arrepiar, são bem descritos, a ponto de conseguir sentir o cheiro da relva que se encontra na situação. Talvez por eu acreditar nesse tipo de revelação, ficou ainda mais real para mim.
"Mas os sonhos também podem ser perturbadores e ruins, pois, neles, reagimos sem pensar. Nos sonhos, tomamos atitudes que não teríamos tomado se estivéssemos acordados, mas que provavelmente estão ligados aos nossos desejos mais íntimos." Pág. 95
Sei que esse livro tem uma continuação e espero de todo coração que a editora Arqueiro a publique!
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