Lígia Guedes 12/09/2012
A História de Lula, o filho do Brasil
"A história de Lula o filho do Brasil", Denise Paraná, é baseado no belo trabalho realizado através de pesquisas biográficas em São Paulo e no sertão de Pernambuco, e na tese de doutorado em Ciências Humanas, entitulada "Da cultura da pobreza à cultura da transformação - A história de Luiz Inácio Lula da Silva e sua família". Belo trabalho de pesquisa, tão somente. Como livro que se propôs a ser contado em forma 'quase romanceada', poderia ter sido mais bem elaborado, considerando que a autora tinha a faca e o queijo na mão, isto é, riquíssimo material de pesquisa sobre a vida de Lula e sua família, que é relatada até o ano de 1980. Faltou profundidade se considerado a energia que Lula possui e por consequência, sua trajetória de vida. O livro relata a história de um brasileiro simples, como a maior parte do povo Brasileiro, onde vencer o dia-a-dia através do trabalho talvez fosse a grande vitória da trajetória de vida. Como a vivência deste brasileiro foi construída no compasso da história do país, é fato marcante a história deste grande homem, Lula, atual presidente de nosso país, que venceu as dificuldades que a vida apresentou não com esmorecimento. Lula bem soube vivenciar os momentos que a vida apresentou, avançar ou 'não avançar' como parte do caminhar. Saber ser paciente, uma vitória, pois nem sempre as surpresas do caminho são flores somente. Erguer-se diante da tristeza, sorrir para levar ânimo onde o fio de esperança transparente se faz, isto aprendeu com a força da origem simples, junto a natureza, na infância, no nordeste deste país. É uma história de vida linda, por certo. A narrativa da pesquisadora tem um tom acima do necessário quando fala da vida simples do povo, retratado na vida do Lula. Ser pobre não é sinônimo de ser infeliz, que fique aqui registrado. A beleza da vida está no exterior, refletido do interior. Não gostei do tom que se fez ao patriarca da família de Lula, ou seja, o pai de Lula. O problema do alcoolismo não é retratado com a ênfase e seriedade necessárias. Problema social num país em que o pobre é o bêbado problemático, inconveniente, muito longe das bebidas finas servidas em ambientes fechados. O pai de Lula foi um homem ausente, por certo, mas foi no valor do trabalho que ele tanto pregou aos filhos, embora não o soubesse como, que ficou marcada a trajetória do filho do Brasil, Lula; não tão somente captado através da presença amiga da mãe de Lula. Por sinal, uma mulher lindíssima, com um belo sorriso mostrando que a vida é alegre, independente de bens materiais, pois antes que tudo, o amor conduz a nobre patamares de vivência. Soube perdoar até a quem a magoara, por conhecer que somos todas vítimas sociais e reconhecer na mãe do filho de seu marido também um ser humano falho. O livro não perdoa este ponto, tratando, infelizmente, a doença ,por vezes, como um 'castigo' imputado as pessoas. Triste, pois que seríamos todos doentes? O que de certa forma não deixa de ser verdade, sendo a terra o hospital geral. O amor ao próximo, certamente, Lula aprendeu das lições de vida da mãe. Tom desnecessário enfatizado no livro se fez quanto ao ato de procriar. Na forma como se apresenta o livro parece tudo muito desprazeroso, com a mulher com o triste papel de apenas aceitar tudo, como se não fizesse parte de sua história, que por certo é difícil, sofrida, mas o que é a vida se não momentos de prazer, dor, felicidade. Por sinal, parir também é um ato muito interessante (eu tive 4 partos normais). A mulher do interior pode e é feliz na difícil vida que leva pois não pede muito, não gasta muitos recursos da natureza, o que também é um lado extremamente importante neste mundo de carências. Só para complementar esta questão de filho do Brasil, digo que não é feio não. O filho do Brasil pode ser lindíssimo. Pobre, batalhador e lindo. Falando em lindo, linda foto de Lula e um sobrinho, quando jovem. As crianças pobres do interior do país, apesar da vida difícil podem ser felizes, tanto ou quanto mais que aquelas criadas com todo conforto nas cidades, mas que desconhecem o contacto com a natureza que lhe proporciona olhar acima e adiante. O tom dado as crianças pode ser um alerta para a situação que o país apresenta para as questões do interior, entretanto, este foi um pouco exagerado. Outro ponto a ser reforçado é a presença da esposa de Lula, D. Marisa em sua trajetória política, que por certo foi além do que apresentado. Guerreira, batalhou junto, ajudou Lula a ser quem é e como toda mulher, acaba por ficar apagada em cena (não me refiro ao filme, ainda). Tem um tópico entitulado 'Mulheres e Política' que não ficou bem esclarecido. Não há em nenhum momento, no texto referente a este tópico um nome sequer de mulher. Seria exatamente esse o objetivo da autora, deixar esta pegadinha para o leitor, fica aqui a reflexão. Outra curiosidade (vi a foto no livro): a soma dos números da matrícula na prisão é o número 13. Ponto positivo para o livro por conta do relato quanto a questão dos registros de nascimento em cartório no Brasil que acaba por ocasionar inconsistências quando de preenchimento (nome, sobrenome). A título de exemplo, meu pai, por engano, quando do registro de nascimento foi omitido o 'Silva' no registro da certidão de nascimento, o que ocasionou menos uma família 'Silva' no Brasil (pelo menos registrada). Não é fácil para um simples trabalhador analisar este livro pois o mesmo entrecruza com a história de tantas vidas. Vidas que constroem este país com o suor das mãos e a certeza de que poderiam, podem e poderão muito e muito mais. Confesso que não acabei de ler o livro. Apenas li algumas partes e vi certamente as belas fotos familiares que o compõem.
O filme, assisti, talvez volte e conte.
Aviso: apesar de parecer realidade, todos os fatos relatados aqui são ficção.
"Verão do século XXI, noite de lua clara, como sol de meio-dia.
Querido,
Olhar esta lua-sol e não pensar em ti é praticamente impossível...
Tantas mudanças tem ocorrido que estas poucas linhas jamais acompanharão o ritmo dos acontecimentos. Fica a tentativa dessa proximidade que nossos corações tão bem necessitam como forma de compensar (recompensar? - pesquisar depois) esta quase infinita distância. A oportunidade esperada surgiu. Não sinto que a palavra possa ser pronunciada com veemência: 'empregada' embora, certamente, com alegria o é. É o que se apresenta e estou feliz. Estranho mesmo pronunciar (escrever) a palavra salário quando o trabalho é ajudar o outro a pesquisar. É de extrema responsabilidade esta tarefa, bem o sei. Ficará registrado o parece do outro que deverá ser o mais verídico possível. Escrever uma crônica, um conto é muito diferente, sabe? O resultado deste trabalho (teoria é o nome) é como um retrato tirado naquele momento da pesquisa. Se o retrato for mal tirado, ficará eternamente registrado. Já consigo ver tuas sobrancelhas e expressão pensativa:
'o que estará aprontando desta vez...' Nada, como sempre. O caderno está acabando e a lua linda demais... Encerro com um beijo no coração de batata doce (assada!).
P.s.: não vou passar a limpo desta vez pelo motivo acima... assim que tiver novidades, escrevo. "
(Maria Brasileira)
"Verão do século XXI, noite de lua, nuvens rosas em correria.
Meu xuxu ('s' ou 'ch'? - pesquisar depois) amado,
Continuando o assunto da vovó, pois sim. Não é que ela tinha razão...Oportunidades, como nuvens em correria, não passam duas vezes. Noto já antecipadamente que o desafio se faz grande se for medido pelo número de formulários a preencher. Não tive muito tempo para esclarecimentos junto a pesquisadora e optei por não fazer perguntas inúteis pois de perguntas já bastam as da pesquisa. Não que elas sejam muitas, nem inúteis, entenda, muito pelo contrário, são de extrema simplicidade, fato que até traz certa preocupação em que as respostas fiquem parecidas. Cá estou a decidir pelo melhor caminho denominado de 'campo'. 'De' e não 'no', observe. Pois serão consultados os filhos da terra (na cidade). É lá que se concentram. O mais aleatoriamente e abrangente possível (a pesquisa), está escrito em letras grifadas, em observação. Motivo este que faz com que o campo seja incluído, acabo de decidir. É isto, campo e cidade. Até pensei em mandar um formulário para ti mas não sei se é correto. Espero que tudo esteja caminhando. Não precisa acompanhar meu ritmo de escrita que será mais intenso pois que já iniciei esta empreitada não posso interromper...sei que morreria de curiosidade e como não tenho caixa de correio, tuas cartas solicitando novidades acabariam com a ampla paciência que todo carteiro tem. Beijo saudoso."
(Maria Brasileira)
"Verão do século XXI, dia, estrela dalva no claro céu.
Acordei cedo. Com três folhas para cada um dos noventa e nove respondentes, sigo esperançosa, otimista. A tua parte já encaminhei, devolva assim que puder. Beijos.
P.s.: Capricha!
(Maria Brasileira)
"Verão do século XXI, sol de meio-dia, escaldante.
Querido,
Enquanto faço um rápido lanche, escrevo estas poucas linhas para informar ter recebido o teu formulário preenchido. Surpresa não tão agradável se fez ao ler o conteúdo. Fato que leva a uma desordem total em relação aos passos já concluídos. Como pode ter surgido este contraponto, estou a questionar. Explico: quando você respondeu que 'não assistiu ainda o filme', a questão toda veio à tona. Em algum momento foi informado no formulário que a pesquisa se refere a algum filme? Como você é um ser humano que pensa e teus pensamentos podem coincidir com de outros tantos seres, imagino que estarei recebendo os formulários distribuídos com a possibilidade de que também este entendimento possa ter sido uma realidade. Sem tempo, no momento, para prosseguir. Acabou o horário de 'almoço'.
Beijos, cabeça de coco rachado! Saudade apertada!"
(Maria Brasileira)
"Verão do século XXI, árvore-nuvem, fim de dia.
Retornava de um longo dia quando avistei a mais linda árvore que já vira. Uma nuvem passara calmamente naquele ponto elevado, exato da seca árvore, descansando como copa branca. Momento mágico, paisagem única. Imediatamente lembrei de ti e o fiudiDeus se fez presente. Compreendo tua sugestão mas há de convir que o 'filho do Brasil' é também um 'fiudiDeus' e se assim é, que diferença vai fazer mudar de 'filho do Brasil' para 'fiudiDeus'. É tudo filho mesmo. No mais, já conclui a entrega dos formulários. Não como imaginado, entrevistando em ponto-de-ônibus, comércio, filas e em tumultos surgidos naturalmente em praças, sinais-de-trânsito. Quem está em férias não para e quem está em trabalho menos ainda. Foi aí que surgiu a idéia da carta-resposta. Coloquei tudo nos envelopes e entreguei a quem surgisse. Prático, fácil. Só aguardar. Encerro com um abraço de nuvem branca...
P.s.: A questão do cinema preocupa...
(Maria Brasileira)
"A vida do viajante
Minha vida é andar por este país
Pra ver se um dia descanso feliz
Guardando a recordação
Das terras onde passei
Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei.
Chuva e sol, poeira e carvão
Longe de casa sigo o roteiro
Mais uma estação e a saudade no coração!
Minha vida é andar por este país
Pra ver se um dia descanso feliz
Guardando as recordações
Das terras onde passei
Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei.
Mar e terra, inverno e verão
Mostro o sorriso, mostro alegria mas eu mesmo não
E a saudade no coração..."
LUIZ Gonzaga do Nascimento Júnior
Composição: Luiz Gonzaga e Hervê
"Verão do século XXI, noite, chove.
Meu querido, continuo cá a escutar música e a pensar em ti. Falando em pensar, foi melhor ter entregue via carta-resposta a pesquisa pois com este tempo chuvoso, como trabalhar nas esvaziadas ruas? Sem mais, beijo saudoso!
P.s.: Não tenho recebido cartas tuas."
(Maria Brasileira)
"Verão do século XXI, tempestade.
A tempestade acalmou. Muito antes abri a porta. Nada visto, névoa cinza. Engoliu a cidade e tudo nela contido. Leveza, somente os respingos no rosto de quem tenta espiá-la amparado por uma porta ou fresta de janela. O mais, silêncio. Noventa e oito círculos, acabo de contar. Alguns com anéis internos, tons de verde, laranja, lilás. Grudados na capa deste caderno como a querer sentir a emoção do que ainda não foi escrito. Curiosos do tê tê tê que aqui se faz. Recordo as cartas não recebidas e o efeito devastador que só uma carta não recebida pode gerar. Começo a me certificar que o mundo não funcionaria sem a presença de um carteiro. Encontrei um pacote junto a porta. Um livro e um curto bilhete: "leia, faz parte". Assinado pela pesquisadora, que neste momento já se encontra fora do país, em férias. Novidade, somente o ingresso acompanhando o livro, para o filme. Nem preciso dizer que se trata do filho do Brasil. Tua pergunta continua a martelar minha mente dia e noite: "quem é o filho do Brasil, não seria melhor 'fiudiDeus'?" Começo a matutar de arregaçar as mangas, tirar duzentas cópias, suficientes para livro e filme e iniciar um árduo trabalho. Desta vez seguindo os transeuntes mas não os deixando escapar. Fica adiada a minha ida aí, pois que o trabalho nem começou e o tempo não espera. A chuva está passando... Beijos com respingos de chuva branda. Aiai."
(Maria Brasileira)
"Verão do século XXI, manhã nublada.
Acabo de tropeçar em inúmeras cartas na porta. A curiosidade se fez maior e impediu minha saída. A primeira carta aberta, as respostas não atendem as perguntas encaminhadas, o que já nem é uma surpresa. Noto que a maneira como foi feito o processo de pesquisa falhou, por culpa exclusivamente minha. Traz um simples relato. Por ser sincero, de suma importância. Não será eliminado. Resolvi que será registrado na tabela disponibilizada para a coleta dos dados. Mudei o título da tabela para 'fiudiDeus'. Até mais ver."
(Maria Brasileira)
"Verão do século XXI, tarde (não tenho olhado a natureza).
Querido, recebo neste instante tuas cartas atrasadas e nem preciso responder pois que já deve estar a par dos acontecimentos daqui. Infelizmente não poderei relatar os detalhes das cartinhas, mas não significa que não possa passar a ti a impressão de minhas percepções (sentimentos, entenda). A primeira carta-resposta quem a escreveu é um doce de pessoa. Destas que dá vontade de trazer para fazer parte da família. Lembrou muito de ti. Pessoa de personalidade, firme em seus propósitos. Coração de manteiga que quase se deixou vencer pelas adversidades, não no sentido de quem desiste, mas de quem reconhece que se o caminho tomado não é o mais correto, muda logo a direção do rumo, da vida. Linda mesmo. Ama intensamente a vida, a natureza, seu semelhante. É feliz, não como quem resolve ser feliz pois que se resolve ser feliz é porque nunca se conheceu a felicidade, pois não... Ou se é ou não se é. Felicidade não é conta que se faz, igual a número, que se procura acertar. E ele é feliz a sua maneira, com os sentimentos que seu coração pode alcançar. Lógico que vez por outra ele dá seus esbarrões como também a vida lhe sacode, pois ele sabe que "se temos que errar sempre, pelo menos que sejam erros diferentes" (li esta frase em algum lugar). Sabe mas não o pratica. Normal. Percebe como é ser um humano neste mundo diDeus. Como um fiudiDeus. E relata exatamente isto, a história de outro filho do mundo. Já fiz o resumo da historinha. Bem (e não meu bem, veja bem), encerro com um simples mas não menos caloroso abraço. Inté!
Afinal, todos tem uma história para contar...
(Maria Brasileira)
Primeiro fiudiDeus: Zé (zeca).
Carta número um: Zé (zeca).
"Horas antes, à beira-mar, contemplava a paisagem prateada, reluzente. Distante neste momento como um sonho. Agora, ali, frente a frente com ele naquele ambiente de bar apinhado de gente. O som alto das músicas já não incomodava as pessoas que gargalhavam, batiam copos na mesa. O calor insuportável tornava os rostos de um brilho incomum. Ele, alegre, nem parecia aquele de momentos antes. "Tudo por minha conta hoje", gritara enquanto retornava do balcão. Face a face. Nem assim notara minha presença. Estava agitado demais para observar algo além da mesa de seus colegas que gritavam: "Zé", "Zecaaa!". Minha mão segurava a peixeira inativa da frustrada pescaria onde já começava a acreditar que o destino programara aquele encontro. Por mais que o encarasse, parecia transparente diante dele. Talvez tudo em um segundo se resolvesse. A eternidade, entretanto, se fez. Com a intensidade com que mudam as paisagens no céu, a resposta veio nítida, tanto quanto as cenas e a pergunta se fez: 'quem é o filho do Brasil?' Antes tudo tivesse ocorrido em um beco escuro, onde sombras se confundem mesmo aos atentos olhos. Em passeio aberto, sol escaldante, retornava da praia. Desistira de pedalar. O caniço pesava o ombro. Empurrava a bicicleta. O quente ar tornava tudo confuso quanto a cena que surgiu diante de meus olhos. Um homem, alto, forte, sem dúvida. Segurava e sacudia um esquelético braço. O corpo do homem não deixava vislumbrar aquele que não tentava reagir, mas, ao contrário, disputava com o braço solto algo que não conseguia identificar. Briga desproporcional. Nenhum deles estava disposto a desistir do objeto almejado. Tentara alcançar o local mas a distância ainda era grande. Consegui avistar naquele segundo antes que a bota do homem a esmagasse: uma coxinha de galinha. Aparentemente podre, possivelmente tirada da lata tombada que estava próxima ao jovem que fora empurrado e já se encontrava caído. A fuga foi rápida. Com a leveza que seu corpo permitia, se distanciava, em oposição ao pesado homem que tinha as costas totalmente suadas. Nada a ser feito, me distancio o mais lentamente possível sem forças diante do escaldante sol. Retornara à cena, acordado pelos gritos "Zeca!". Então ele tinha nome comum, Zé, vulgo Zeca. Foi neste instante que avistei sobre seu ombro esquerdo aquela imagem que me encarava. No alto da parede do bar, um Santo me observava. 'Ele é filho como tu', parecia ouvir a voz que saía sem som dos olhos da imagem. 'Aprendeu apenas isto na vida, é sua tarefa', continuava a voz. A decisão surgiu sem que o pensamento agisse. Rápido, o forte e estrondoso grito evidenciava que acertara o pé dele. Zeca, é ele o 'filho do Brasil', salvo por uma estátua de Barros's, isto posso afirmar. Pronto, está respondido a pergunta que me traz este formulário e que mantenho guardada comigo. No mais, fora tudo rápido. Diante de mesas caindo, garrafas quebrando e alguns 'deixa disto', 'o homem é de trabalho', fora arrastado para fora do bar. Sem saber como, estava diante do portão de minha casa. A bolsa de pesca sumira na confusão, não sem motivo. Ouvira a doce voz que tentava abraçar meu pescoço enquanto perguntava: "esqueceu a sandalinha de couro na praia?" Notara que estava apenas com um pé calçado. Antes da resposta, nova pergunta me tonteava: "não trouxe peixinho hoje não?" "Não, deixei a sandalinha lá." "Hoje só tinha peixe feio, muito feio. Outro dia volto prá pegar a sandalinha e um peixinho lindo, prateado, só prá você filhinha." Fora minha resposta enquanto pedia: dê cá o melhor abraço do mundo."
"Verão do século XXI, noite escura.
As cartas trouxeram beleza acompanhada de uma sensação que não sei definir bem. Não que sejam tristes, são até animadas, cômicas algumas. Estou estranhando mesmo é saber que as palavras dos depoentes estarão como objeto de análise. Pior: ganhar através de seus relatos. Certo que o ganho é metade do mínimo possível. Agora é tarde! Preciso destes resultados. É o pouco que me falta, neste momento. Tá bom, vai lá, prá você falo: sinto ciúme de minhas cartas. Queria mesmo não entregar este material a pesquisadora. Desaparecer antes do retorno dela. Quem já se viu, pesquisar gente. E quase te incluí nesta, deve estar pensando. É tarde, melhor ir dormir. Beijo grande."
"Bom dia! Nada como uma boa noite de sono. Acordei com uma idéia que parece boa. Aproveito a mesma carta para acrescentar que estou pensando em distribuir os formulários (aqueles 100 para o filme e 100 para o livro) colocando como endereço de destinatário adivinha quem...: a pesquisadora. Assim, ela obterá o material de pesquisa (grande material) e poderá ela própria dar a interpretação que o desejar. Hum, não parece ruim, parece? Ela poderá aplicar a teoria que quiser pois que de teoria ela deve entender bem. Mas ainda acho estranho uma pessoa fina entender de gente simples, isto lá é estranho mesmo. A gente entende de gente é convivendo. Dia-a-dia, respirando mesmo ar. Ah, não sei responder a tua pergunta se ela está fazendo pesquisa com gente lá no exterior. Acho que não, uma mulher inteligente que nem ela trabalhar nas férias, vai... Não sei daonde que andou tirando estes pensamentos. Vai que vira moda. Beijinho, ora ora."
"Verão do século XXI, dia, céu azul, nuvens esparsas.
Tudo resolvido. Já entreguei os formulários (100+100+100+100). Foi um trabalhão só. Mas estou satisfeita, muito. Cem formulários com o título de 'Filho do Brasil - livro', cem com o título de 'Filho do Brasil - filme', conforme já tinha aqui, mais cem extras entitulados 'FiudiDeus - pode ser você' e cem 'FiudiDeus - qualquer um, você decide'. Todos com resposta para a pesquisadora. Ela vai ficar satisfeita, tenho certeza. Até fico emocionada de imaginar aquela nuvem de cartas chegando todo dia na casa dela. Entregando ou não minhas, já já ela vai ter as dela também. Estou pensando mesmo em tirar uns dias de férias tão logo termine de organizar as coisas por aqui, afinal também sou diDeus. Vou ler o livro que já cá estou é ficando curiosa. Quem sabe nos veremos antes do que imagina. Abraços."
Segundo fiudiDeus: Luiz
Carta número dois: Luiz
"Aeh, então é isto. Responder esta pergunta por demais de fácil. Fácil, fácil. Deixa comigo, brother. Oh, tava até desconfiado que eu ia ser abordado assim por causa desta história de cinema. Mas tava mesmo. Até avisei. Mas como ninguém presta atenção do que falo. Coisa mais que estranha. Nunca dão nada de graça. 'O livro, carece de ler com pressa não'. Tinha tempo, falou ela. Sabe como é que é, né? De férias, um cineminha então vai bem. Foi aí que ela teve a idéia de me dar esse ingresso. Deve que foi. "Difícil como estão as coisas, vai perder o ingresso não". Mas quase perdi. Tava lá no maior lero no msn, quando bem na hora 'h' ela surgiu. 'Então, tá na hora, o filme tá indo embora e você parado aí'. 'Vai já pro cinema'. Olha, que dificuldade. 'Troca lá a roupa, menino', continuava ela. Tive que colocar o par de tênnis, camisa, encerrar o lero no computador e aquele sol quente coisa e tal. Bus cheio, suor. Lá pelo início da noite tava lá na porta do cinema. Mas cada filme difícil até de escolher qual. Lógico que fui pro 'Avatar'. Aí a surpresa se fez. "Luiz, o filho do Brasil, este ingresso é para a outra seção", disse a jovem atendente. Quase dei um pulo. Atendimento super ultra personalizado. Só não gostei do 'outra seção'. Isto significava me deslocar novamente. "Sim, sou eu, Luiz, nascido aqui mesmo nesta terra." Foi quando ela um pouco agitada, coitadinha, ali em pé o dia inteiro, disse: "Ótimo, tudo certinho, Sr. Luiz. Pode se retirar então que a fila precisa andar. " Foi aí que notei pequena confusão começando. Tinha gente vaiando, levantando braço na fila. Como por acaso, passei o olho no ingresso e o que vejo: uma família e o título do filme. Tinha que ser minha mãe, aeh tinha. Inconformado, fui para a seção ao lado e se não fosse o horário adiantado, até desconfiaria, pois que não tinha nem fila. Não que não tinha interesse de ver o filme. Isto não. Mas a gente, sabe como é que é, não gosta de ver assim indicado. Indicação não. A vida é uma conquista, sabe? Mas fazer quê, voltar prá casa que não. Dindin só a conta pro bus. Até que acalmei e pensei: vou lá conferir mesmo, ver se esse negócio de medo, esperança coisa e tal não é viagem dela. Conferir se tudo batia com a vida assim real, essa que a gente vive todo dia. E fui prá seção ao lado. Uma sorridente morena perguntou: "Ingresso?" "Ingresso! Respondi. Desta vez vai, pensei. Ela fez cara estranha e a pergunta que me tirou do sério: "Quem te deu este ingresso do filho do Brasil?" Imagina a situação. Lógico que não ia assim mentir pra moça, mas responder assim na verdade que não ia não. O livro, a resposta veio na mente facilmente. Como não pensara nisto? "O livro: A História de Lula; O Filho do Brasil" respondera à jovem. Notara leve sorriso em seu rosto. Parece que esse negócio de cultura é excelente resultado para situações de crise. Foi então que ela segurou o ingresso e entrou pelo corredor escuro do cinema dizendo que já voltaria. Aguardava, enquanto isto a frase íntima não poderia deixar de vir em minha mente:
"É só teimar, meu filho, vai lá e teima."
(continua)
Terceiro fiudiDeus: Helena
Carta número três: Helena
"Meu nome é Helena, com 'H'. He-le-na. Gosto que fique tudo muito bem esclarecido. E é por esclarecer que gosto de lembrar a história da Helena, com 'H' também, só que lá da Tróia. Tróia é a cidade da outra Helena. Prá falar a verdade, nem conheço bem a fundo a história dela, que dizem que tá nos livros importantes. Esses livros que a gente simples nem chega a conhecer. E a história dela chegou assim na família não foi por livro não. Foi por conversa de prosa bem proseada mesmo. Prosa que chegou até os dias de hoje e a gente fica sabendo assim de tudo. Mas queria mesmo é ter um livro da Helena. Só prá conferir se a história é assim mesmo como contam. Mas de uma coisa eu sei. Que deve ser muito diferente da minha história isto deve de ser. Mas o nome foi assim mesmo por causa da Helena da história da Tróia. História que o avô de meu avô gostou. Não ele, que a Helena é muito mais antiga que o avô dele também. Assim que tivesse uma mulher nascida na família ele pediu (exigiu prá ser mais verdadeira) que se chamasse Helena. Mas cê sabe que quando a gente quer muito uma coisa, aí que ela não acontece. Foi aí que não nasceu mais mulher na família por um bom tempo. E quando veio eu mas foi uma festa tão grande, tão grande que não teve como eu não ficar sabendo a história dela, a Helena da Tróia. Mas minha sorte ficou marcada por muito diferente da dela, sabe?" (continua)
"Verão do século XXI, tarde, tempo abafado.
Meu querido, estou trancada aqui lendo o livrinho e organizando as cartinhas quando uma surpresa se fez: recebi um telex. Um telegrama. É um documento que chega rápido na mão da gente. O carteiro vem correndo entregar. Chegou suando, esbaforido. Nem queria ir embora, ficou meio que aguardando. Queria ver se eu ia abrir logo. Não entendi porque pois se eu não ia responder mesmo. A única pessoa que tenho urgência em falar é contigo e estas cartinhas bem nos atende. Tranquila esbocei um sorriso e agradeci a gentileza. Ele disse: "Agradecer? Agradecido estou eu, pois que se depender de ti nunca acaba emprego prá carteiro." Sorri novamente e fechei a porta, ora veja. E lá entendo eu de emprego. Se nem minha tarefa consegui concluir. Mas não é que o telegrama era da pesquisadora, surpresa boa. Dizia que eu parasse com a pesquisa IMEDIATAMENTE. Assim mesmo, em maiúsculo a palavra. Precisava de férias, estava escrito no telegrama. Que estava satisfeita com o esforço, mas que interrompesse o trabalho. Férias! Não imaginava tanto. Considero como um prêmio estas férias apesar de não entender porque logo agora, visto que a pesquisa começava a ir de vento em popa. Preciso passar no cinema para ver o filme. Esta, primeira atividade das férias. Beijo grande."
"Verão do século XXI, fim de tarde, nuvem de pássaros.
Começo sem um boa tarde para não atrasar nossa prosa pois sei que deve estar com teu segundo maior defeito quase em total evidência. Já quase retornando a 'lua nova' sem cartas por aí fico daqui a imaginar teu estado onde também teu primeiro maior defeito já deve ter eclodido (depois explico o significado desta palavra) sem saber tu das novidades que aqui se fazem. Inversamente proporcional a tua ausência de cartas, multiplicado por quase quatrocentas vezes aqui se faz a realidade. Bem sei que a ausência das cartinhas pode ter deixado esperança de minha presença o que quase ocorreu pois a mão quase já estava a segurar a mala, se assim o desejasse. Felizmente não o fiz. Melhor assim. Calma, não se zangue. Mala é bondade e maneira de falar pois tu bem sabe que do jeito que andam as coisas, chegará a hora em que um simples saco de pão servirá para colocar todos pertences de um indivíduo com folga. O que não deixa de ser um ponto positivo, ainda mais se for um saco de papel reciclado. Vou ao ponto (não de ônibus pois felizmente graças a um carteiro o mundo corre normal), ao assunto, ao que interessa. Não sei se esta é a melhor expressão, na verdade, 'vou ao ponto' pois se não estou indo te ver, na verdade, não estou indo a parte alguma. Como não estou indo, nosso objetivo comum, encurtar a distância através do encurtamento das cartinhas (tanto na distância de recebimento quanto de encaminhamento) não tem ocorrido. O não recebimento delas por minha parte pode ser considerado um bom sinal, caso minha presença se fizesse em substituição das mesmas. Como isto não ocorreu, aqui estou a tentar relatar essa boa surpresa (minha ausência). A boa surpresa refere-se a um fato ocorrido e que ainda não terminou de ocorrer totalmente. Explico: as tão amadas cartinhas, nossas aliadas, estão por nos afastar. Elas chegam como em bando de andorinhas ensaiando para o pouso final em grande árvore. Embolam, esticam, embolam, esticam. Sempre há, logicamente, as que se separam do grupo podendo não chegar ao destino final ou chegar com muito atraso e é exatamente por estas que aguardo. Fato que faz com que minha ausência tenha sido efetiva. É nestas que ainda não chegaram que minha concentração é maior. Sem esta certeza de resgate de todas não há como haver movimento para onde quer que seja. Prefiro acelerar nossa saudade a perder uma única cartinha que seja. Não posso esquecer que você está incluso, é um fiudiDeus um tanto trabalhoso, agora perdido em meio a quase quatrocentos outros fiusdiDeus. Pronto. Descobriu. É isto. Só pode ser prêmio a pesquisadora confiar assim suas cartinhas extras. Tenho agora comigo mais quase quatrocentas delas que chegam em grupo de dez, quinze, e até vinte em um único dia, igual as andorinhas antes de formarem nuvem. Você sabe que gente é igual a bando de andorinha no céu. Quanto mais espanta, mais aparece. Digo isto por olhar de vista própria. A medida que as árvores foram escasseando (não se preocupe com esta palavra, é simples, simples, significa sumindo) elas ao invés de desaparecerem tiveram efeito contrário. Se juntam perdidas no céu e acabam por encontrar árvore pra morar. Uma só prá aquele bando de andorinhas que de início era até considerado pequeno a médio. Mas o tempo passa prá tudo na vida, até prá pássaro sem galho. E não é que elas juntas, lá apertadas naquela árvore, só mesmo é aproseando prosa de andorinha bem aproseada pois o tempo prá andorinha também tem é que passar e quando se vê tem é ninho prá tudo é que é lado. Rendem, e acabam por parecer nuvem de gafanhotos no céu... Vão mesmo é ficando exibidas. Fazem coerografias feito escola de samba em avenida em desfile final de carnaval (coisas que o povo da cidade gosta de ver - eu como não tenho tv nem tempo). Elas espalham, juntam, espalham, juntam e quando tá na hora horinha de descer mesmo prá se acomodar que o sol já está se indo, feito pintura de Deus no céu em quadro por terminar, o sinal final é quando elas juntam muito. Olhando daqui debaixo não dá prá notar muito não, mas se eu fosse uma andorinha naquele tumulto olha que ia ver andorinha dando cabeçada em andorinha, ia ter aquelas mais abusadas que se não houvesse um rápido desvio, na confusão olha que sobrava prá asa de andorinha parada (parada não que se parar cai). Melhor dizer asa fraca. Isto. Andorinha de asa fraca. Lógico que na vida tem andorinha de tudo que é jeito e dá mesmo é gosto de olhar aquelas que estão lá bailando no ar, brincando em meio aquela bagunça toda. O segredo é não prestar muita atenção nessas mais afoitas, ou seria desastradas e se concentrar em voo bonito, de andorinha alegre, leve, livre no ar. Mas que esse assunto de andorinha sem galho rende, rende igual ao barulho que fazem prá conseguir árvore pra todas. O barulho vai crescendo, crescendo que um dia a gente nota a presença delas sem ao menos precisar olhar pro céu. Basta escutar o barulho delas prá sentir que já chegaram. O barulho denuncia a falta de árvore que não foi visto antes, aí cresceu, cresceu feito bando de andorinhas e difícil é não notar. Não precisa mais ter olhos para ver, o ouvido já escuta. Quanto mais espantam, mais aparecem. Tem gente que diz que não vê. Mas duvido é muito que o dia que passarem embaixo daquela única árvore concentrada de andorinhas em dia de festa, todo arrumado, cheiroso, atrasado não notar aquele 'spracht', carimbo certo nas costas, quem sabe no cabelo engelsado (não é engessado, explico depois). Hehe, acontece. Pior é quando é ovo de andorinha. Mas ovo mal terminado, daqueles que tem metade matéria de ovo e metade matéria de filhote de andorinha que não vingou, então aí é que as andorinhas vão ser mesmo é notadas por um bom tempo. Já vi acontecer muitas e muitas vezes. Tem até música pronta prá contar estas coisas. Mas lógico que não vai ser sucesso mas nunca nesta vida, em nome de andorinha voando no céu. Por quê, deve estar se perguntando. Porque se fizer sucesso ai das pobres andorinhas que todo mundo vai querer olhar, fotografar, filmar e aí aparece a turma que vai fazer processo prá acabar com as andorinhas no céu, novela de andorinha, de tudo... e quando a gente notar, cadê as pobres? Hum, já tava era com falta de escrever procê, seu cabeça de andorinha, voando, voando.
(Maria Brasileira)
Quarto fiudiDeus: Sr. Soneca
Carta número quatro: Sr. Soneca
"Minha filha (posso chamar assim, né?), eu ia arresponder este formulário teu não. Mas como levei prá casa, jogar fora é que não ia pois de papel perdido o mundo tá é cheio. Foi aí que pedi prá netinha (sou eu aqui!) arresponder prá mim mas com minha palavras tudo igualzinho a que eu falo e tô aqui neste momento nesta luta com as letras mas com este papel que deve de ser importante não vou fica não. Devolvo prá senhora dar um destino nele. Meu nome é... Ah, que importa meu nome agora nestas alturas da vida já vivida. Mais ou menos vivida, sabe. Mas vivida, isto é que importa. Apois, acho mesmo que o mundo tá assim adeprimido é por farta de beijo. Explico, apois. O povo não quer mais beijar. Só ficam é com os olhos grudados nas telas do tar do computador. Como é que pode o mundo ir prá frente assim. Não que eu seja um bejoqueiro assim de primeira, é isto não, senhora. É que sonho muito, isto sim, confirmo, sou um sonhador de primeira. Só que sonho falando. E tem gente que escuta isto tem. Mas prá dizer a bem da verdade, quem escuta mesmo é minha mulher, minha senhora. Até que eu trocava meus sonhos por um bom ronco. Apois, a senhora minha esposa escuta e conta tudo no outro dia. Na verdade ela fica é prestando assim muita atenção prá ver se eu falo alguma coisa assim diferente. Mas o sonho é sempre igual. Beijo, beijo e mais beijo. E beijo muito de bom que deve ser. Mas cá entre nós (desculpa esta maneira de falar que não sei outra) o tar do beijo é coisa amelhor desta vida. Se as pessoas abeijassem mais tinha tristeza neste mundo não. Tava era todos mundo feliz. Agora tô aqui com meus quase 90(anos) e continuo sonhando. Então finarmente vou responder a pergunta da senhora. O filho do Brasil é o bejoqueiro. Seja ele quem for. Se o sujeito gosta de beijo, é um bom sujeito. Um beijo, filha, mas com todo arrespeito do mundo. Depois conta se minha cartinha asserviu prá alguma coisa.
Só Deus.
(Maria Brasileira)
"Outono do Século XXI, Estrela Matutina."
Acordei bem com uma estrela matutina a me espiar. Ficamos nos olhando até perder de vista e guardar somente a lembrança no meu coração que hoje tá nada de bom. Porque será que nestas horas o primeiro fiudiDeus que lembro é de ocê. Vontade hoje foi de pegar tua cartinha e ir inté aí te dar aquele abraço apertado que só nós mesmo sabemos de dar e depois partir à procura dos outros tantos fiudiDeus, cada qual com seu sonho e devolver estas cartas todas mas acompanhada é de um abraço bem mais apertado ainda, soh, olhar fundo nos olhos deles, dela ou o que seja (desde que não seja animal que tem gente que pensa que animal é gente, ora) e dizer assim: olha, ocê é o fiudiDeus mais importante que já vi em toda minha vida, ocê é super ultra especial e tudo que disse é por demais de importante, mesmo que não tenha importância alguma prá ninguém nesta vida porque ocê é um fidiDeus e isto já é por muito mais demais importante que tudo na vida. Vai ser feliz oh homem, vai ser feliz oh mulher. Com ou sem agruras, criatura, vai lá e encara a vida de frente. A vida é bela! Tá bom não adianta esta prosa toda prá disfarçar, vou ter que responder a tua pergunta. Vou tentar: 'que bagunça é esta que tô fazendo aqui e ainda chamo isto de trabalho.' Bom, tenho duas teorias prá escolher a teu gosto: a primeira é que se isto tudo é bagunça e se esta bagunça toda pode dar certo e a segunda teoria é que tudo pode não dar certo e isto está quase certo de ocorrer mesmo, isto é, pode ser uma possibilidade e por certo mais rapidamente estarei aí prá te ver. Por certo que não estará torcendo para que tudo dê errado só prá me ver mais rapidamente. Disto sei e te conheço bem. Impossível ficou agora olhar aquela estrela e não recordar a canção que bem expressa tua tênue (fraca) luz:
"Seu coração é uma estrela matutina
De suave luz que clareia e ilumina
Olhe prá dentro de você
Descubra o brilho do amor
Acenda a sua candeia
E faz nascer uma nova manhã
E faz nascer uma nova manhã"
Beijo, simplesmente!"
Autoria: procurar na rede depois
(Maria Brasileira)
"Verão do século XXI, lindo e brilhante céu azul.
Carta. Carta. Cartas e mais cartas. Não sei mesmo o que está ocorrendo por aqui. É carta que não acaba mais e não param mesmo é de chegar. Já está virando corrente de carta. Corrente, igual a rio e igual as que as gentes da cidade fazem quando estão muito desesperadas, ou por falta de, ah, falta de tudo, acho. Espere aí, vou atender ao carteiro. Aaaai! Carteiro. É ele novamente! Voltei. Não falei? Era ele e ainda trazendo um ajudante. Iniciando o trabalho hoje, pois o volume de trabalho (não quis falar a palavra carta) aumentou muito. Sei não, estou gostando disto não. Agora só fiquei com a opção de sair por aí entregando mais e mais cartas. Pensando melhor, não. Isto pode gerar um batalhão de carteiros. Acho mesmo que vou é virar carteira. É isto. Aproveito e levo o carteiro prá me substituir. Pronto. Resolvido. Assim a pesquisadora terá um eficaz colaborador (palavra nova que aprendi). Mas estou é desconfiada que foi ele, o carteiro, só pode. Ele deve ter distribuído cópia da pesquisa. Como conseguiu um formulário em branco é que são elas. Tudo é possível nesta crise de emprego. Pois que ele que continue com esta pesquisa. Melhor assim. Quase resolvido, pois a parte mais difícil é ter coragem de me separar das cartinhas. Tá bom, tá bem, e escrever prá ocê também.
Abraço e esperançosa que não me escreva tão cedo. Aiai.
(Maria Brasileira)
Quinto fiudiDeus: Um anônimo
Carta número cinco: Um anônimo
"Aquela pergunta não saira de minhas recordações: "O Pai Nosso ainda é o mesmo?" Naquela mesa simples, as pessoas se portavam com extrema elegância. Com gestos delicados o pão era passado de mão em mão. O silêncio era a prova de que a atenção a cada movimento do grupo que agitado servia à mesa era total. A pergunta fora repetida: "O Pai Nosso ainda é o mesmo?" Pela demora na resposta notava-se que as pessoas foram surpreendidas. Um simples 'sim' não bastaria como resposta. Tampouco um 'não'. A pergunta exigia um raciocínio além da pergunta anteriormente gerada: Quem pode fazer o 'Pai Nosso'? Responder uma pergunta com outra pergunta é de fato estranho. Talvez o locutor estivesse perguntando: o 'Pai Nosso' ainda será o mesmo Pai amoroso, que acolhe, que abraça antes que julgar, que essencialmente ouve? Mesmo pai amoroso que permanece, que escutava independente de saber se tenho amigos, família, recursos. Se estou em sua trilha ou dela me afastei. Sim, o 'Pai Nosso' seria o mesmo. Necessário saber quem é o 'Pai Nosso'. Saber se ele mudou. Só assim estaria aquele senhor autor da pergunta confiando se sua oração seria ouvida, se Ele estaria ainda lá, ouvindo, atento, àquela singela oração. 'O Pai Nosso' ainda é o mesmo, alguém respondera. Ele está no mesmo lugar de sempre. Ele ainda é AMOR. Diante da resposta, fora iniciada a oração, com a certeza de que o 'Pai Nosso' estava presente naquele senhor que acabara seu singelo café da manhã ao lado de tantos outros naquela mesa onde o alimento era mais que físico, onde a luz brilhava naqueles rostos sem nome, mas com um único "Pai celestial" a escutar a oração feita a todos: 'Pai Nosso, que está nos céus...' Fora iniciada a singela e mais bela oração que já ouvira. Aquela voz ressoa ainda nítida: "Santificado seja o Teu nome". O Filho do Brasil é ele. Uma face qualquer, sem nome, mas que acredita ser possível um caminhar seguro pois confia em Sua capacidade hoje e SEMPRE.
(Maria Brasileira)
"Pai Nosso..."
(Maria Brasileira)
Sexto fiudiDeus: (Silva)
Carta número seis: (Silva)
Acostumara àquele som inquietante. Mesmo nos momentos entre um intervalo de jornada e outro, onde rápido cochilo poderia ser feito na humilde cama naquele depósito, habituara a confiança depositada nos amigos de jornada que o despertavam sempre para o retorno ao trabalho, onde o cansaço não permitiria que o sono fosse superior às tarefas que necessitavam ser cumpridas, base de seu sustento. Levantara sonolento. Naquela época do ano o trabalho aumentara consideravelmente, assim como o ritmo das máquinas. Alcançara seu equipamento de trabalho. Suas mãos, automaticamente, acoplavam a parte que lhe cabia naquela máquina que parecia mais acelerada que seu ritmo poderia acompanhar. Sabia perfeitamente que se desistisse dessa conexão seria facilmente substituído. Procurava afastar tais pensamentos e se automatizar ao sistema, pois disto dependia seu bom desempenho. A mão começara a tarefa com pouca agilidade mas facilmente acompanhava o ritmo, estimulado pelo forte som: straccht, vumpt, straccht, vumpt,... à medida que o ritmo aumentava, o som era repetido com menores intervalos: straccht, vumpt, sschsss, straccht, vumpt, sschsss, straccht, vumpt, sschsss... Os pensamentos vagavam pois o corpo já não mais o pertencia, entregue àquele equipamento. Straccht, vumpt, sschsss, straccht, vumpt, sschsss, straccht, vumpt, sschsss... Retornara à infância. Naquele riacho de águas claras brincavam, corriam, banhavam-se. Straccht, vumpt, sschsss, straccht, vumpt, sschsss. Como aquele som, as águas por vezes aumentavam o volume, especialmente se houvesse chovido em dia anterior onde a terra úmida, fresca ao redor do riacho era convite a novas brincadeiras. Straccht, vumpt, straccht, vumpt, sschsss, sschsss,... Brigaram na rua, a ajuda rápida viera dos irmãos o suficiente para deixar o opositor caído ao chão. Straccht, vumpt, straccht, vumpt, sschsss, sschsss,... Ofegantes, novamente no riacho estavam, sem que o ponto de encontro fosse anteriormente combinado. Straccht, vumpt, sschsss, sschsss, sschsss,... Sem palavras, arrancaram as camisas sujas, ensanguentadas, fizeram exatamente como visto em dias anteriores pelas lavadeiras que ali frequentavam: straccht, lavaram as camisas, vumpt, bateram de encontro a pedra (mesmo sem saber o sentido disto), sschsss, sschsss, sairam do riacho e encontraram um local seco onde deitados as observaram, alternando com a ampla visão do céu. Ficaram um bom tempo somente com o som do riacho em suas mentes: sschsss, sschsss. Aguardar...sschsss, sschsss... a secagem da roupa, sschsss, sschsss, o tempo, sschsss, sschsss, o retorno à casa, sschsss, vumpt, possivelmente pelo atalho. Sschsss, sschsss, selar o silêncio como forma de sobrevivência àquele dia. Straccht, vumpt, sschsss, sschsss,... Observara um pássaro fazendo voos no ar, vumpt, vumpt,..., o pássaro se aproximava e ficara a observá-los estranhando aquele grupo. Straccht, vumpt,... o pássaro se afastara sem interesse ou por reconhecer aqueles rostos. Como estaria aquele menino, caído ao chão, a estas horas? STRACCHT, VUMPT! A máquina parara. Inúmeros colegas o observavam após ampla corrida em sua direção. O som habitual fora interrompido simultaneamente ao barulho brusco por outro som não identificável: PLAAAFT! Alguém arrancara a tomada àquela que gerava o som a que estava acostumado. Um colorido surgira junto às engrenagens daquela que era base de seu suor diário. O produto por certo não fora finalizado naquela etapa. Ao redor, pela correria, a prioridade não estava em produtos, naquele momento. Somente então percebera que sua mão fora a causa daquela interrupção naquele processo. A partir daí, somente em casa, junto à família, poderia recordar com detalhes como tudo ocorrera. Somente ali o choro fácil, idêntico ao daquele menino que ficara ao chão, naquela rua. Chorava certamente mais pelo outro que por si mesmo. Seu nome é Silva, entre tantos, que diferença... O filho do Brasil é aquela criança que não teve oportunidade de ir ao riacho naquele dia e em brincadeiras ali permanecer. Concluir aquele dia onde o som era somente um leve e incessante sschsss, sschsss, sschsss... ".
(Maria Brasileira)
"Chiiiii..."
(Maria Brasileira)
Sétimo fiudiDeus: (João)
Carta número sete: (João)
Não sei quem é este filho do Brasil não, é tanta gente, sabe? Tenho visto tanta coisa pelo mundo afora. Ouvi até dizer que tem um livro que conta a história de um homem que não tinha sapato. Esta eu acredito mesmo pois sem sapato fiquei até meus quase vinte anos e foi mermo por isso que eu saí de minha terra, lá no alto do país e me desemboquei por estas estradas afora pois como é que ia ficar um homem sem sapato, prá arranjar namorada, constituir uma família. Tinha é que trabalhar. Não que eu fosse um preguiçoso, isto não. Mas conto disto já já. Mas gosto de lembrar destes tempos não. Só do tempo que corria nas estradas empoeiradas fugindo de boiada em correria. Pulava cerca de ralar joelho e ficar assim dias sem lutar na terra. Mais tinha seu lado bom que descansar um pouco todo mundo precisa mesmo. Mais tinha o lado nem tão bom assim que a gente deixava de correr pelos campos, subir em árvore prá pegar fruta, e ficava mesmo é se alimentando pouco pois "pedra que não rola, cria limo". Vou escrever outra carta pra continuar este meio de vida, pois é grande demais. Por hora vou contar uma coisa muito esquesita que passei em minha vida mais já lá pro final mesmo. Mais foi um problemão que arranjei pra resolver. É que o patrão disse que eu tinha me tornado o tal do operário padrão. Fiquei assim até satisfeito pois imaginei que isto queria dizer que eu tava era parecido com ele, homem bom mermo, importante mermo. Se fosse só isto até que tava por demais de bom. Só que a questão complicou quando eu tive que ir lá comparecer para pegar o tar do papel que dizia que eu era o tal do padrão do patrão. Mas foi difícil por demais. Imagina, a famia toda queria ir lá e prá arrumar a gente toda. Era ropa prá comprar pra mulher e crianças. E o pior é que o tar da solenaidade era em outra cidade, lá na capital. Foi arrumação por mais de mês. Só foi tudo assim resolvido que tava perto do final do ano e o décimo aterceiros saiu. Mas só não aitendi que no dia o patrão não foi não. Mas também acoitado, a turma dele é por demais de grande e lógico que ele ia ter acondição de arrumar a turma toda. Vou ficando por aqui com os votos de felicidade. Se puder, responde contando se está tudo por certo nesta cartinha que a outra já mando depois.
(Maria Brasileira)
"+ Carta!"
(Maria Brasileira)
Oitavo fiudiDeus: (Informildo)
Carta número oito: (Informildo)
Agora estou sem colocação. Logo eu, que sou top de linha em informática. Possuo pós-graduação e estava por iniciar um mestrado na área. O filho do Brasil pode ser um profissional da área de informática mas tenho que pesquisar pois do jeito que as mudanças ocorrem vai que não é ele. Afinal, parece mesmo que a gente trabalha é para se aperfeiçoar e como a área de conhecimento é infinita, haja conhecimento por adquirir. A velocidade é vertiginosa e quem não acompanha lógico que estará rapidamente fora do mercado. Vou contar um pouquinho só de minha história para que possa ir iniciando teus caminhos pela fácil área informacional. Não precisa de muita grana não. Digo isto por capacidade própria. Vai lá, consegue um computador com internet que tem tudo lá. Tem curso de fazer cachorro-quente a pesquisa científica que vai ser inventada no fim dos tempos, que por sinal está muito longe. Mas o objetivo de contar esta história é que fique registrado que nem tudo fica assim 100% conectado se não houver um intercâmbio 100% na área de comunicação. Esta sim, é o 'x' da questão. Sem boa comunicação, não há tecnologia que avance. Vamos ao ocorrido. Tem um recurso informacional que se chama 'Power Point". É quando as figurinhas ficam assim mudando de posição na tela do computador. Mas isto ocorre quando o apresentador está assim exibindo. Exibindo a apresentação. Seja para ele ou para os outros. Lógico que quando há um auditório grande, ele estará exibindo muito (a apresentação). Lógico que poderá se exibir também, mas isto fica a critério dele. Normalmente o ato de exibir vai depender da segurança na apresentação, isto é, nos recursos de informação que ele possa ter. Se casar dele ser um bom exibidor e a exibição da apresentação for longa, olha, é exibição que não acaba mais. Mas vamos a praticidade, que nesta área a praticidade é que interessa. Como consegui ficar assim desempregado nesta área ainda não processei mas posso adiantar um pouco o ocorrido. Foi um pequeno incidente de troca de informação, ou seria de comunicação, tanto faz. Seguinte: estava trabalhando em uma apresentação que o colega com um nível + elevado ia fazer em um seminário (seminário explico oportunamente que é complicada esta área para minha pessoa inexperiente). Tudo pronto, tudo preparado. Ele foi conferir, lógico que faltando horas para a apresentação que quanto mais elevado o nível menos tempo para o trabalho. Tudo perfeito. Só que o digníssimo colega foi testar a apresentação. Não entendeu muito o que estava sendo proposto. Ficamos lá, almoçamos junto (almoçar é maneira boa de dizer que comemos dois chocolates e dois 'club social'). Após duas horas de troca de idéias ele continuou sem entender. A culpa por certo não é dele. Esta área é assim mesmo, ou se conhece e se corre bem dela ou se engatinha. Foi quando ele teve a idéia de me levar junto. Disse que eu ficaria e passaria as orientações caso ele necessitasse. Colocaria um conector e ficaria igual a apresentador inexperiente de TV que ficam ditando tudo o que tem que dizer. E se o cara é surdo e inexperiente por certo que nunca será um apresentador. Mas voltando a apresentação, sugeri o seguinte: duas telas de computador. Ele sentado na mesa, abriria os arquivos simultaneamente. Um teria a apresentação original e o outro um power point contendo cópia similar, com todas as orientações possíveis. Explicações, digo melhor. Se tudo desse correto, até autorizaria minha ida ao mestrado para me especializar neste novo recurso. Muito bom mesmo. Perfeito. Dispensou a idéia do conector e montei a segunda apresentação. Estávamos lá. Auditório cheio. Veio profissional de tudo que é renome. Ele, tranquilo. Confiante no meu trabalho. A apresentação começou a ser projetada em um telão última geração. Iniciou bem. Cada imagem maravilhosa. Até estava comecando a me emocionar (estava começando a perder conecção com o ambiente, imaginando meu mestrado) quando notei no telão que algo não ia bem. Tarde demais. Ele já estava na parte mais importante da apresentação. Tentou abrir o programa, uma, duas, três,... Tentei ajudar, subir ao palco, fui impedido. Liguei para o celular dele, fiz sinal, mas ele nem notou. Ficou aquele barulhinho... 'poim', 'click', 'poim', 'click', 'poim'. Tudo indicando que ele tava era abrindo a tela que fiz o 'Print Screen'. 'Poim', 'poim',..., ficava a setinha tentando abrir o programa. Hahaha, agora que estou mesmo desempregado, fico até com vontade é de rir, mas no dia foi um suador. As pessoas começavam a se levantar e ir saindo. Lógico que eu me adiantei e saí também mas esperei ser o último pois nesta hora, não adiantava muito explicar prá ele a diferença entre um power point, um print screen. Mas diga aí. Se surgir nesta pesquisa alguma oportunidade para um profissional ultra especializado em informática, escreva, por gentileza, que preciso muito concluir meu mestrado. Mas aviso: sem power point. Fim.
(Maria Brasileira)
"Nada de apresentações, hehe"
(Maria Brasileira)
Nono fiudiDeus: ()
Carta número nove: ()
Parecia imóvel. A respiração, fraquinha. Nada, ninguém se aproximava. Passaram-se horas, dias. No início a curiosidade levara muitos a se aproximar atraídos não somente pelo choro contínuo que já não chegava a incomodar. A mão que acalentasse seria a que cuidaria daqueles bracinhos, pezinhos que neste momento já não se agitavam. Aplausos, escutara aplausos. Retornara à ampla sala atraído pelos ruídos, vozes. Recebera a notícia com indiferença: "A criança ficou lá. Vamos partir. Se souber de alguém que se interesse...". Partiram. Ficara somente a presença da palavra 'criança' que ganhara forma confusa, aparecendo nos momentos de sonho, quase um pesadelo. Momento houve em que levantara, abrira a porta, respirara o ar noturno e o profundo negro céu estrelado. Retornara a tentativa de dormir, simplemente. Falhara. Passada a primeira mal dormida noite agradecendo o nascer de um novo dia ao canto do primeiro galo. "A criança ficou lá." Então a criança teimara e nascera. Tentara mudar a rotina para esquecê-la ou quem sabe prolongar a luz do dia. A noite retornara e só fortalecera as lembranças anteriores que retornavam com maior lucidez. Sabia da impossibilidade de terem alcançado a pobrezinha. Pensara 'pobrezinha'. Logo ele. Não, não podia ceder, afinal recomeçar naquela idade era quase impossível. 'Quase'. Que estaria ocorrendo. As palavras teimavam em aparecer sem serem convidadas na mente que desejava apenas não pensar. Um vazio. Um nada, apenas. Simples e distante daquela longa noite.
(volto já - encerrar com final feliz)
Décimo fiudiDeus: (Otávio)
Carta número dez: (Otávio)
A manhã correra mais rápido do que o esperado. O papagaio da visinha já anunciava o que era evidente: "sem água", "sem água", "não demore no banho", "não demore no banho". Não sabia se agradecia ou não ao fato de ser tão comunicativo. "Margaridaaaaaa", continuava o bicho, parecendo um rádio-relógio. Tinha seu lado positivo, afinal, já perdera as contas de quantos depertadores comprara no camelô. Era nestes momentos que tentava tirar a idéia da dona de ensopá-lo no jantar em noites de inverno. Também, quem sairia nestes dias para vender geladinho onde o vento faz a curva, como já dizia a própria. "Hoje este papagaio morre", pensara. Destas idéias até chegar a este prato fulmegante, foram longos dias de dispensa vazia acompanhadas por longas tempestades. Em época de crise há que se economizar até palavras: s/ água!
Décimo primeiro fiudiDeus: (um alguém)
Carta número onze: (um alguém)
Cheguei a conclusão que todas as escritas são espirituais. Se a matéria por si só é inanimada, como afirmar que o que minhas mãos desenham no papel em forma de letras possa ser procedente apenas de um ato material? Se um indivíduo nascesse na floresta, criasse seu próprio vocabulário para se comunicar, ainda assim lá teria se utilizado das lições que a natureza lhe proporciona e nada do que tivesse a trasmitir poderia ser chamado de mensagem 'dele', singular. Se a aprendizagem se faz através da apredizagem do outro, ininterruptamente, deixo de ser uno para ser coletivo. Meu pensamento é coletivo, meu viver é coletivo. Só através do outro me complemento em idéias. Sou uma peça desse quebra-cabeça chamado vida. A construção final dessa imagem só ocorre através da união de todas as peças. Como responder a uma pergunta tão individual? Resposta vasta, ampla. Não tenho capacidade para responder a tão profunda pergunta, nem que passe o resto de minha vida a refletir. Sinceramente, um alguém.
"Um?"
(Maria Brasileira)
Décimo segundo fiudiDeus: (Fê)
Carta número doze: (Fê)
Fê da sombrinha. Veja bem. Fê da sombrinha e não fé da sombrinha e nem fé na sombrinha (se bem que uma sombrinha hoje em dia anda rara). Não que eu não seja de fé, muito pelo contrário. Se não tivesse fé esta historia da sombrinha não tinha sido como foi e não estaria aqui contando. Equilibrar sombrinha em dia de tempestade não é para qualquer um não. É igual a andar de moto, tem que ter um molejo. O vento vem de direita, tu equilibra prá esquerda e assim vai, até passar a tempestade. Se tu fica duro, reto, sem tomar posição de que lado quer ir, agarrado na sombrinha por certo que ela quebra. Igual quando se anda de moto. Joga o corpo prá esquerda se a curva é de direita, sempre do lado contrário da corrente. Equilíbrio, sabe, é assim que se mantém em pé. E se economiza sombrinha. É diversão só. Aprendi por acaso, como se aprende tudo na vida. Tava saindo daquele hospital sem solução, toda furada nas veias prá tudo que é lado, aquela tempestade do lado de fora, pior que lá dentro, quase dei a volta prá trás e pedi prá ficar por lá, cama quentinha, atendimento (um pouco fraco mas tinha) personalizado. Mas não aceitariam não, nem no corredor cheio. Foi demais, encarar a tempestade logo naquele dia que tava era dengosa. Pensei: nada de moleza, a questão é virar especialista em equilibrar sombrinha. Foi assim que o curso surgiu e tá assim é expandindo pois com esta crise e pela quantidade de tempestade que anda por aí. E os cestos de lixo agora tão tudo é vazio, porque ficavam lá, de pernas pro ar, cheios delas (as sombrinhas). E as perguntas respondo sim, passa aqui no endereço que segue que enquanto faz o curso vou respondendo. A vida é assim, uma mão lava a outra e as duas se secam. Boa tempestade!
"Quê chuva!"
(Maria Brasileira)
"Outono do Século XXI, fria manhã de sol.
Sou eu. Sei que pode estar desconfiado com estas letras muito iguais, muito certinhas. Explico tudo: comprei uma máquina que escreve. Só que por ser máquina lógico que vai ter as escritas todas iguais, assim sem criatividade. Tudo padronizado. É, significa tudo arrumadinho demais, mas que nem sempre funciona, sabe como é? Máquina é máquina e gente é gente, tu sabe disso. A máquina ela não faz distinção de gente. E pra que comprei esta coisa doida deve estar se perguntando. Ora, é que ela tem lá suas vantagens. Precisava mesmo era organizar esse material de pesquisa que tomou rumo e volume próprio. Assim, vou datilografando, é o nome correto para bater nas letras e elas aparecerem no papel. Voltando às cartinhas, pois bem, vou datilografando e organizando as perguntas que é pergunta que não acaba mais. Não que as respostas sejam da mesma quantidade que as pergutnas pois tem pergunta que não acaba mais e de tudo que é jeito. Nem sempre as respostas casam com as perguntas certas e vice versa. Explico: cada cartinha tem três perguntas sendo que as duas últimas abrem em mais três respostas possíveis , ou seja, a possibilidade de mais três alternativas e a coisa cresce que nem bolo em forno com defeito. Tem hora que aumenta muito o bolo de um lado mas do outro o bolo fica é muito murcho. Seriam sete respostas, deve estar pensando. Errado. Sete é um número estranho que todo mundo desconfia dele. Nunca gostei dele. Mas vamos deixar de preconceito com os números, afinal, são todos iguais, tanto faz um ou outro. Mas a questão das perguntas é que tem gente que só responde uma pergunta do que foi perguntado, outra, duas das três e já outras as três das três sendo que às vezes dão respostas demais, além do que foi pedido e já outras dizem que não tem nada a ver com esta história. Fazer? Lembra de tua resposta, que não tinha visto o filme, se nem de filme tinha pergunta. No momento estou é matutando para organizar tudo por aqui, mas tá fácil não. Beijos com votos de um feliz dia."
(Maria Brasileira)
Décimo terceiro fiudiDeus: (?)
Carta número treze: (?)
Pensar, pensar...
(Maria Brasileira)
"Outono do Século XXI, fim de tarde, nuvens douradas feito asa de anjo."
Mel. Aqui estou com esta palavra que teima em não sair da mente. Fui comprar, aqui pertinho. Ele, corpo arquejado, parecia abraçar o chão a cada passada. Mais atencioso que de costume, falando baixinho: "A garrafa é maior." "Sim, qual a diferença, perguntei." "Nenhuma. Leva o melhor mel, fava garantida, do meu uso."Neste momento observei a garrafa: 'Kovack'. Melhor mel, garrafa maior. O motivo busco sobre a pia naquela garrafa, dose diária. Mais, excesso."
Beijos de mel.
(Maria Brasileira)
Décimo quarto fiudiDeus: (Olhar teatral)
Carta número quatorze: (Olhar teatral)
"Do ângulo que me encontrava podia ver: finos, na maioria. Poucos baixos, alguns médios. A estatura acompanhava o tamanho dos mesmos. Os mais altos para as mais altas. Os médios e baixos para as mais baixas. Excessão para os masculinos que somente os bem baixos ousavam arriscar um pouco mais alto. Cores e forma variadas, inquietos, não paravam no lugar. Pareciam mesmo dançar sem música. O principal de todos os olhares não era visto, mas pela estatura dela em contraponto a dele, possível que baixo fosse, escondido naquela branca roda. O frio apertara. Na falta de um daqueles cada vez mais imobilizado permanecia e um pouco feliz por aquele momento em que o tempo podia passar sem pensar no ar gelado, nas entranhas geladas, mesmo com a possibilidade de ser pisoteado. O último som de batida de porta evidenciava que partiram. De fato, iniciados os intermináveis minutos de silêncio constatando a longa noite a lembrar que o sonho de uma possível felicidade se fizera para alguns. Ruídos de pneus encostaram na calçada. Silêncio. Esqueceram algo? A porta já fechara, nem o coroinha permanecia. Quietos. A discussão se travara pela expressão das faces, pela agitação dos lábios. Dois tênnis rústicos, masculinos, rápidos se aproximaram. A voz resolvera silenciar. Sentira pesadas mãos a cobrir meu corpo. Passos rápidos naquela chuvosa noite. Houve tempo de ouvir o 'Amém' meneado pela cabeça que se distanciava em maior velocidade que a chegada se fizera. Estranheza somente o eco de minha voz que anteriormente emitira o som a anos não pronunciado: "Deus lhe pague." Noite proveitosa: um cobertor e um punhado de arroz (pena que cru)."
"Obs.: texto como sugestão de uma peça de teatro. 3 atos: mendigo, saltos; conversas de roda, saltos, noiva; cobertor aquecendo a noite. Cenário: sem faces (saltos, pernas, mendigo tapado)!"
(Maria Brasileira)
"Teatro, vixi, continue esperando!"
(Maria Brasileira)
(em construção)
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A história de Lula: o filho do Brasil/Denise Paraná. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. (1+3+9) páginas