spoiler visualizarRaissa.Guerreiro 27/01/2023
A sonata
Como mulher, relato que ler esse livro é mais do que difícil, pois algo difícil você tende a superar com esforços ou tentar, esse livro não, não é algo que você possa superar. Se eu fosse escolher uma palavra, como mulher, para defini-lo, escolheria torturante, pois a tortura não acaba mesmo após o seu fim, permanece na pessoa acometida pelo ato violento, perenemente. Digo tais palavras em face do seu apogeu, a tal cena de feminicídio. A forma como Tolstói descreve a cena, seu detalhamento e construção, é tão instigante que embrulha o estomago, a sensação que se tem é justamente de imprevisibilidade, mesmo diante de tudo que é colocado sobre o Pozdnychev, o tal criminoso.
Esse é o terceiro livro de Tolstói que me arrisco a ler, quando digo que me arrisco é porque tal leitura sempre me desafia, tremendamente, por ser tão atual que nos coloca cara a cara com seus personagens. O livro foi publicado em 1989 e consegue se relacionar com vários temas que fervilham na atualidade, como a visão do casamento com uma ferramenta do patriarcado, o Machismo estrutural e o Próprio feminicídio.
Consegui relacionar o Livro com outro clássico maravilhoso no que diz: "Vi que, das duas naturezas que guerreavam no campo de minha consciência, mesmo que se pudesse dizer acertadamente que eu era uma das duas, era apenas porque eu era radicalmente ambas.(...) A maldição da humanidade era que aqueles dois feixes incongruentes estavam ligados - que no útero agoniado da consciência, esses gêmeos antagônicos devessem lutar continuamente. Como podiam, então, ser dissociados?" ? O médico E o Monstro.
Haveria, realmente, um lugar de equilíbrio entre ambas as naturezas
Raissa Guerreiro