Marcele 24/03/2013
O livro vítima dos 50 tons de citações equivocadas
Nota: Cinco estrelas (e zero para as comparações sem sentido que a E.L. James fez entre as personagens do Hardy e as dela mesma)
Avaliação: Considero sempre extremamente difícil avaliar qualquer obra dos autores por quem passei a nutrir admiração sem igual; Thomas Hardy com certeza é um deles. No entanto, se decidi transcender tal dificuldade e me esforçar para compor esta resenha, um dos motivos reside no fato revoltante de o escritor haver tido o conteúdo dessa obra totalmente distorcido nas muitas citações (levianas) que o best-seller Cinquenta Tons de Cinza fez a ela. Vim aqui, portanto, tentar comprovar com a análise do enredo que a senhora E.L. James só pode ter sofrido de algum analfabetismo funcional quando na leitura de Tess (of the D’Urbervilles). Vamos aos fatos!
Publicado ainda no século XIX, na Inglaterra de 1881, Tess of the D’Urbervilles (ou apenas Tess no Brasil) parece ter sido o último romance do escritor Thomas Hardy, o também autor de “Judas, o obscuro” – o seu sucesso anterior. Isso porque, graças à grande polêmica que repercutiu da trama, a pressão social sobre o Hardy foi tão grande que ele decidiu se voltar apenas para a composição de poesias depois dela. Imaginem vocês, agora, o que é abrir mão da sua carreira em nome de uma mensagem e, séculos mais tarde, ser ela totalmente deturpada por uma história de valores duvidosos? Como fã do gênio que foi o Thom, eu acho um completo absurdo! Tomara que vocês concordem no final, após conhecerem um pouco mais sobre o trabalho dele…
Comprometido com a missão de retratar o contexto social da zona rural inglesa daquela época, Thomas Hardy ambientou a sua história nas redondezas de Wessex; o condado onde moravam os Durbeyfield e mais uma quantidade considerável de trabalhadores campestres. Conhecido como um autor de perspectivas pessimistas, é através das desventuras da virginal e inocente Tess que ele vem denunciar uma série de hipocrisias defendidas pela sociedade em que viveu. E, acreditem, apesar de toda a sutileza das suas linhas, o tapa na cara foi com força, mesmo que em luva de pelica… Meio mundo se roeu com a publicação!
Filha de John e Joan Durbeyfield, dois pais imaturos, Tess é enviada à casa de seus supostos parentes ricos para pedir ajuda financeira quando um vigário revela a John a sua descendência nobre. Acontece que, por conta de uma colher de prata com o brasão da família, restou comprovado de modo irrefutável que os Durbeyfield, na verdade, faziam parte da linhagem D’Urberville; uma família poderosa que, como muitas outras, foi à falência com o tempo. Não era o caso do núcleo dela que ainda habitava a cidade vizinha, no entanto; o jovem Alec e a sua mãe enferma.
Recebida pelo suposto primo, Alec D’Urberville (com quem Mrs. Durbeyfield sonhava em casá-la), Tess é empregada como serviçal no casarão e pouco a pouco assediada pelo maior carma da sua vida: a subjugação da mulher perante o homem. Pecaminoso, instigante e sedutor, Alec investe todo o seu poder de arrebatamento contra a moça e, após ser rejeitado incessantemente, decide criar a primeira virada surpreendente da história: ele a desonra (contra a vontade… estupra, “seduz”, o termo que vocês preferirem)! E só de lembrar a forma magistral como o Thomas Hardy escreveu essa parte da trama em especial, eu tenho vontade de esganar a E. L. James por embasar a relação doentia dos seus protagonistas com uma coisa como essa! Leia melhor as suas citações, minha senhora!
Ao contrário do que qualquer leitor da Saga 50 tons palpitaria, no entanto, (Para continuar lendo, acesse: http://www.marcelecambeses.com.br/2013/03/resenha-tess-of-the-durbervilles/ )