Jaqueline 10/06/2011Se você considera a série vampiresca “House of Night” ruim, não leia “Deusa do Mar”, obra da autora americana P.C. Cast que foi lançada no Brasil pela editora Novo Século no mês passado. Excêntrico, divertido e irregular são alguns adjetivos que definem bem este livro, primeiro volume da série “Goddess”.
Tudo começa no dia do aniversário de 25 anos de Christine Canary, a nossa protagonista. Depois de duas garrafas de champagne, um telefonema frustrante de seus pais e uma seção do filme “As Bruxas De Eastwick” (clássico trash dos anos 80 com Cher e Susan Sarandon no elenco), ela decide que quer magia em sua vida - o porquê disso não fica esclarecido no livro. Após um ritual feito na varanda de seu apartamento, ela se torna uma das filhas de Gaia, a deusa da Terra, e passa a portar a magia dentro de si. Quando ela morre em um acidente de avião no dia seguinte e cai no mar (e não, isso não é spoiler), acaba trocando de corpo com Ondina, uma verdadeira beldade em um corpo de sereia que é filha legítima de Gaia.
Até este ponto a história agrada, apesar da motivação etílica da protagonista em descobrir “a deusa” dentro de si e da seqüência verdadeiramente estapafúrdia dos fatos. O que Chris não sabia é que Ondina era constantemente ameaçada de estupro por Sarpedon, seu obcecado (e tarado) meio-irmão, filho de Lyr, deus dos mares - sim, existem partes na anatomia de um tritão que eu nunca havia pensado existir, mas elas estão em plena atividade neste livro!
Assim que se transforma em sereia, Chris é atacada por seu parente, descobrindo que nem todas as criaturas marinhas são amigáveis. Contando com a “ajuda” de Gaia, ela consegue se refugiar na terra em uma forma humana, tendo que retornar ao mar a cada três dias para assumir sua forma de sereia sob o risco de perder sua vida. Ela só não esperava se apaixonar por outro tritão, o sensível e apaixonado Dylan, se envolvendo assim em uma história de amor (quase) impossível.
Ninguém cita a motivação mesquinha de Ondina em trocar de corpo com Chris, assim como não é trabalhado no livro o que a sereia original faz com o corpo da humana. São pontos de pouca relevância até, mas que fazem falta no quadro geral da história.
Imaginar cenas de sexo entre uma sereia e um tritão foi o exercício criativo mais bizarro que fiz nos últimos tempos! Apesar da narrativa fraca e inconstante, marcada por passagens de gosto duvidoso, a leitura é agradável e até mesmo divertida – me peguei rindo do livro diversas vezes ao longo da semana em que o li. Fiquei sinceramente surpresa ao ver uma autora com mais de 10 milhões de livros vendidos com uma narrativa tão fraca em certos momentos: sargento da Aeronáutica que tem medo de avião se torna filha da deusa da Terra, morre em um acidente, troca de corpo com uma sereia, é ameaçada de estupro pelo príncipe dos mares, se apaixona por um tritão e acaba com uma falsa identidade de princesa viking em plena Grã-Bretanha do século XI! Oh, Gosh...Alguém divulga por aí que P.C. Cast é uma grande fanfarrona?
>> Resenha previamente publicada em www.up-brasil.com