Fabio Michelete 10/06/2012
Cansativo
A proposta do livro é elucidar quem foi Sócrates, uma vez que só se sabe dele pelo relato de outros. O autor então tenta relativizar cada característica do personagem histórico - à luz de Platão, Xenofonte, e outros. Infelizmente, acho que leu muito, abriu muitos campos e não conseguiu fechar.
A sensação é de que entre parênteses e muitos "um disse isso" e "outro disse que não" - não há sínteses. O autor não chega a conclusões. tudo ficou relativo, e o livro não chegou a seu objetivo.
Para quem quiser ler, vai encontrar isso aí pela frente:
"A incoerência da teoria consiste, portanto, no fato de que Sócrates afirma que a virtude é o conhecimento do que é o bem do agente, e também que é o próprio bem do agente, dado que essas duas teses são inconsistentes uma com a outra. Poderia, é claro, ser o caso de que a virtude é o conhecimento do que é o bem do agente, e que o conhecimento é o bem do agente, mas nesse caso o conhecimento que é o bem do agente tem de ser um item ou corpo de conhecimento distinto do conhecimento do que é o bem do agente. Caso contrário, nós temos uma situação em que o conhecimento do que é o bem do agente é o conhecimento de que o bem do agente é o conhecimento do que é o bem do agente, e de que esse conhecimento (isto é, o conhecimento do que é o bem do agente) é, por sua vez, o conhecimento de que o bem do agente é o conhecimento do que é o bem do agente, e assim por diante, ad infinitum."
"A conexão com a ironia no sentido normal parece ser dupla: primeiro, o fingimento de ignorância de Sócrates era, segundo Kierkegaard, uma tática utilizada em sua crítica destrutiva da moralidade convencional; e segundo, o indivíduo irônico não mais leva a moralidade a sério. Ele não pode levar a moralidade convencional a sério, pois explodiu suas reivindicações à objetividade. Mas também, não pode levar a sério a moralidade que ele mesmo escolheu, porque a considera um trabalho ao qual se submeteu arbitrariamente, algo talvez como um hobby ao qual alguém acabou de tomar a decisão de dedicar-se."
".. o retrato tradicional de Sócrates como um precursor do cristianismo passa por uma reviravolta caracteristicamente idiossincrática. A essência do cristianismo é agora vista como subjetividade. Do ponto de vista objetivo da filosofia especulativa, o cristianismo é um absurdo, que pode ser aceito somente pelo salto de fé sem critérios da parte do indivíduo, um salto que não é a aceitação de um sistema abstrato de proposições, ma sum compromisso pessoal com um modo de vida. Esse compromisso subjetivo transcende o conhecimento objetivo, e Kierkegaard afirma que dá acesso a uma forma própria de verdade:uma incerteza objetiva à qual se é fiel, em um processo de aproximação da mais apaixonada interioridade, é a verdade, a verdade mais elevada à qual um indivíduo existente pode ter acesso... A definição da verdade proposta acima é uma expressão equivalente para a fé."
"Assim, Sócrates combina a convicção subjetiva na existência de Deus com a idéia de que objetivamente a verdade da questão é incerta. Dado que essa postura implica um certo desconforto intelectual, é uma mera aproximação da genuína angústia do cristão, cujo compromisso é com verdades as quais, disso tem-se uma certeza objetiva, são absurdas"