SouDulce 26/10/2024"O tempo não passava, como ela acabara de admitir, e sim dava voltas redondas ".Em Cem Anos de Solidão, escrito por Gabriel García Marquez, acompanhamos a história dos Buendías, uma família de solitários por várias gerações, que confunde-se com a história de Marcondo, um vilarejo fundado por eles, uma cidade no meio da América Latina e um retrato de tantas cidades perdidas.
Ler Cem Anos de Solidão é uma experiência de mergulhos em imaginação, surrealidade, fantasmas e, sobretudo, melancolia. O perigo de se perder nesse labirinto de histórias, que não é contada de forma totalmente linear, mas sim em pinceladas de uma boa oralidade (onde estamos aqui falando sobre o passado desse Buendía aqui e já pincelamos algo que está no futuro e depois voltamos ao presente), juntamente com vários nomes repetidos na família (a árvore genealógica ajuda, mas a bela construção de personagens salva) é grande. Além dos belos personagens, ainda temos a Marcondo, esse vilarejo, que parece um personagem a parte que cresce e morre junto aos Buendías.
Não é uma experiência fácil de leitura, principalmente se não está familiarizado com esse tipo de narrativa, o risco de se perder é enorme, mas se conseguir ficar vai poder experienciar uma saga épica sobre como estamos fadados a repetir o passado quando não guardamos na memória esse passado, e como é difícil nos libertar da nossa bagagem familiar.
Por outro lado, o Marquez compõe esses personagens de maneira tão fenomenal que a gente acaba nos apegando as suas trajetórias, parece uma ótima novela com suas tragédias, desilusões e amores. É impossível não querer saber como aquele personagem que estamos acompanhando no momento, vai acabar.
Contudo, Cem Anos de Solidão é muito mais que isso, ali encontramos a surrealidade de viver a vida na América Latina onde estamos fadados a vivermos o mesmo ciclo, como a família Buendía. O realismo mágico acaba servindo de contraponto aos momentos reais convergentes com a história da Colômbia que parecem mais surreais que o mágico apresentado.
É daqueles grandes clássicos que merecem ser lidos.