Valaleitor 07/06/2020
Ciência como ela é
Uma das primeiras coisas a me incomodar quando entrei na academia científica, foi ver quantos cientistas consideravam-se arrogantemente superiores por acreditarem e utilizarem o método científico. O que nunca ficou claro, era qual é exatamente esse método científico, além das cartilhas do ceticismo propagado na divulgação científica em geral.
Esse livro respondeu muito bem a essa questão. Afinal, o que é a ciência e o método científico, e como isso se difere de outras opiniões?
O autor parte de um "indutivismo ingênuo", que é o padrão na comunidade científica, de considerar que a ciência é realizada pela observação e, a partir dela, a indução. Três capítulos iniciais são realizados apenas para apresentar esta ideia e por que ela não funciona. Um dos argumentos mais importantes pra demonstrar a falha do indutivismo é considerar, de forma positivista, que o Universo não necessariamente é aquilo que se é observado.
A partir disso, o autor apresenta uma alternativa, o falsificacionismo de Popper. Outra ideia de lugar comum na comunidade científica, essa é a noção de que a verdade nunca pode ser verdadeiramente alcançada (como prevê o indutivismo), mas que pode ser constantemente aproximada. Assim, uma ideia é verdadeira até que se prove o contrário, até que algo a falsifique.
Apesar do falsificacionismo ter sua validade lógica, ele é limitado para explicar o que é registrado no desenvolvimento da ciência. Assim, o autor apresenta as alternativas de programas de pesquisa, em especial de Lakatos, a princípio, e posteriormente de Thomas Kuhn. Estas teorias dizem que a ciência não é feita através da evolução de enunciados, mas de adequação à programas (ou modelos) científicos.
A partir daí o autor entra num debate mais filosófico entre o realismo e o racionalismo, e posteriormente um debate entre o objetivismo e o individualismo.
Como última teoria a ser analisada, o autor fala sobre o anarquismo de Feyerabend, e sua ideia de que a ciência não é privilegiada em relação a outras formas de pensar, apenas é mais adequada à sociedade ocidental capitalista.
Por fim, o autor volta ao debate filosófico, dessa vez distinguindo entre diferentes visões do realismo.
O livro, no fim das contas, parte de uma simples pergunta ("o que é ciência, afinal?"), e ao tentar responder isto, chega a diversas outras perguntas, muitas delas sem resposta definitiva. De fato, não há uma visão comum do que é ciência. Cada filósofo da ciência trata essa questão de forma diferente. O que o autor faz, no livro, é apresentar essas diferentes perspectivas, sem dar uma resposta afinal à pergunta.