Cris 15/01/2024
O literal e metafórico lado a lado.
'O velho e o mar' é o segundo livro de Ernest Hemingway que leio e assim como foi em 'Adeus às armas' emocionou e me fez refletir acerca das escolhas que os seus personagens fizeram ao longo da trama. Este em específico, supera em níveis de reflexões e pensamentos, ele não deixa de ser literal, ou seja, tudo que é narrado está de fato acontecendo, no entanto, o arco metafórico fala e muito, e, de longe foi o que mais amei durante a eitura.
Lançado na década de 50, 'O velho e o mar' conta um pouquinho dos dias do cubano Santiago que sempre ganhou a vida como pescador, porém, a má sorte das redes e dos arpões o acompanham há mais de 80 dias, e, incentivado pelo jovem Manolin decide seguir viagem a fim de mostrar que ainda é capaz de muitos feitos, inclusive, o de pescar um belo e assustador marlim-azul de aproximados 700 quilos.
( ...) Mas, quem sabe? Talvez hoje. Cada dia é um novo dia. É melhor ter sorte. Mas eu prefiro fazer as coisas sempre bem. Então, se a sorte me sorrir, estou preparado.
Sabe aquela história que começa de forma bem lenta e aparenta ser desinteressante? 'O velho e o mar' permeia esse caminho e exige do leitor uma atenção maior, é necessário não somente gostar de ler clássicos, como ter paciência com narrativas mais morosas e introspectivas. Vencidas as primeiras páginas é batata! Arrisco até meia horinha de reflexão assim que tudo for finalizado rs.
(...) Também o peixe é meu amigo. Nunca vi nem ouvi falar de um peixe assim. Mas tenho de o matar. Agrada-me pensar que não temos de matar as estrelas.
Antes de iniciar a leitura, li que o autor ganhou o Nobel de Literatura e esse livro foi citado como justificativa para o prêmio. Também li que foi Scott Fitzgerald de 'O grande Gatsby' que impulsionou a carreira de Hemingway. Bem, lido tudo isso, fui sem medo e deu supercerto embora tenha achado o início um tanto parado. Contudo, a reta final da aventura do velho Santiago se fez valer a pena.
O que mais gostei ao longo da história foi o sentido metafórico que Hemingway tanto trabalhou, foi palpável sentir toda a solidão, o medo, a ganância, a persistência, a força e a inquietude do protagonista ali em mar aberto. Tantos sentimentos complexos transpassados em pouquíssimas páginas. Pode até parecer uma simples história de pescador, mas depois de terminar, o leitor percebe que é muito mais que isso: é uma reflexão sobre a vida em si. É sobre o que o incentivo e a amizade podem fazer, sobre o poder da autoconfiança mesclado com a soberba de provar algo. É sobre a magnitude de uma vida vivida com muita intensidade e dedicação.
(...) Mas pode tornar-se tão cruel e tão rapidamente, que aves assim, que voam, mergulhando no mar e caçando com as suas fracas e tristes vozes, são demasiado frágeis para o mar.