gilliardb 06/11/2013
Péssimo
Utilizando superlativos o tempo todo, a autora aborda temas como elegância, etiqueta e regras de conduta de um modo ditatorial. Começa seu livro falando que vivemos em uma época com supervalorização da imagem, da aparência e do dinheiro, o que não deixa de ser verdade, porém, críticas como essa soam contraditórias o tempo todo. Kalil fala que vivemos em um mundo mais igualitário, sem escravidão e em que discriminação dá cadeia. Porém ela ignora o cenário vigente no país, em que todos esses aspectos ainda continuam embuídos na nossa sociedade. Fala que etiqueta e moda estavam a serviço da discriminação, que o burguês se apropriou desses códigos como fator de ascensão social, e que ao contrário de outra época, dinheiro é algo mais democrático do que títulos de nobreza. Mas será que realmente é? Será que as condições para ganhar dinheiro são oferecidas democraticamente a todos? Como se o sistema capitalista neoliberal fosse a coisa mais democrática de todas.
Glória Kalil sente saudades da época em que a mesa era o centro da vida familiar, em que havia a troca de valores e experiências, pois agora, para ela, as regras fazem falta, fica difícil saber o que vestir ou como se portar em determinado lugar. Pois realmente o modelo patriarcal burguês está em decadência e é esse saudosismo sem sentido da autora que incomoda. Saudosismo esse que a faz odiar a década de 2000, nomeando de década da vulgaridade. Vulgaridade pra mim é o descaso do estado, a corrupção reinante, a desigualdade escancarada por onde quer que se passe. A vulgaridade que Kalil se refere pra mim se chama liberdade de expressão, acredito que qualquer um possa e deva fazer o que quiser com seu corpo, sem opressões.
Ela é infeliz em fazer uma analogia entre pessoas de cultura diferente com um restaurante japonês, que no início se estranha, mas que depois se acostuma (!). É machista ao falar que a mulher deve se importar com a opinião do homem e que unhas dos pés descuidadas ou cotovelo encardido derrubam qualquer mulher. Kalil fala mal de pessoas esnobes, mas pratica isso ao querer demonstrar um intelecto superior citando Vivaldi, Kubrick e Victor Hugo e, por fim, é preconceituosa contra todos que não seguem seu padrão imposto.
O livro não é de todo ruim, no meio de tanta besteira ela fala que ‘‘muitas regras de etiqueta, por exemplo, seriam totalmente dispensáveis se cada um de nós prestasse mais atenção aos sinais que os outros dão’’. Fica a dúvida se ela e quem lê realmente pensa isso ou se não está apenas querendo passar uma boa impressão. Aliás, o tom em todo o livro é comedido, fala-se muito no próximo... entretanto, são os detalhes e comentários tacitamente escritos que fazem perceber o outro lado da intencionalidade. Com tantos paradigmas ainda a serem quebrados, noto uma grande vontade de voltar ao passado, um apego à tradição e a valores que oprimem e excluem.