clandestini 03/08/2011Um livro que nasceu de um roteiro. Assim surgiu Elvis & Madona [uma novela lilás]. Luiz Biajoni foi convidado pelo cineasta Marcelo Laffitte para escrever um livro a partir do roteiro para o filme homônimo (que eu ainda não assisti). Biajoni topou e daí nasceu esse livro que é um libelo pela tolerância, pura diversão e um texto para reflexão.
Eu recebi esse livro na minha casa porque ganhei numa promoção no twitter d’O Pensador Selvagem. Demorei um pouco para ler porque a fila é grande, mas quando resolvi começar não parei mais. E a experiência foi super bacana porque li ao lado do Ju numa viagem de trem. A viagem terminou e o livro não. Sem problemas, nos aninhamos na cama com nossa gata e continuamos a leitura. E nos divertimos muito.
Elvis & Madona é um livro pra se ler assim, de um gole só (no nosso caso foram dois goles, mas que valeu por um só), porque ele te prende do início ao fim. A narrativa é dinâmica, cheia de diálogos e os personagens são carismáticos e te conquistam logo de cara. A novela de Biajoni trata de um caso de amor diferente, entre a travesti Madona e a lésbica Elvis. O cenário? Copacabana. Uma Copacabana diferente daquela que estamos habituados de ver e ouvir nas novelas e canções da bossa nova. Uma Copacabana decadente, suja, cheia de personagens marginais e muito, muito mais interessante.
Madona é uma travesti rodada, já fez programa, filme pornô, apresentações em casas de show, teve alguns companheiros e o último deles, João Tripé, levou tudo que ela tinha para pagar dívida de droga. Sem nada ela começa a trabalhar em um salão de beleza para juntar grana e realizar seu grande sonho: criar e interpretar em show transformista. Elvis é um guria miúda que sai do interior de Minas Gerais porque sabe que não se encaixa nos padrões de lá. Ela é lésbica e pensa que em Copacabana poderia viver sossegada e realizar seu sonho: trabalhar em um grande jornal. Enquanto esse dia não chega, ela faz bico fotografando books para adolescentes e entregando pizza.
Elvis e Madona se conhecem em uma situação bastante complicada na vida de Madona. O traficante João Tripé retorna depois de muitos anos para atormentar a vida da travesti. Ele faz juras de amor para ela e a engana mais uma vez. Rouba todo o dinheiro de Madona e a deixa num estado deplorável. Elvis a encontra assim, descabelada, chorando na soleira da porta, inconformada. Estava indo entregar pizza no apartamento dela e acaba ficando para consolar a travesti. A “sapata” conquista a travesti e eles – ou elas – ficam muito amigas. A amizade evolui para uma vontade de estar sempre juntos.
Nesse caso de amor as diferenças não importam. Eles, ou elas, se amam e vivem um lindo caso de amor que supera qualquer rótulo. E é a abordagem delicada e tolerante acerca da sexualidade de Biajoni que faz desse livro um grande libelo pela tolerância (como o autor assinou no meu livro). E talvez seja essa a maior importância desse livro, o respeito às diferenças, a tolerância e o não estranhamento desse relacionamento. Elvis e Madona não forma um casal peculiar, eles são um casal e ponto. Eles se amam, querem estar juntos e assim o fazem.
Biajoni narra toda essa história de amor, que tem uma pitada de romance policial, de forma leve e divertida. Usa uma linguagem popular sem forçar a barra e adiciona muitos diálogos à narrativa. A leitura rápida não deixa de ser profunda e de abrir caminho para uma reflexão sobre o temas abordado no livro: o amor, a amizade verdadeira e a tolerância às diferenças. Ademais, Biajoni consegue fazer com o leitor se sinta em Copacabana durante a leitura do livro, é possível sentir o calor carioca, ouvir o chiado na fala dos personagens, capturar a atmosfera do lugar. Prefiro muito mais a Copacabana de Biajoni do que aquela das novelas ou da bossa.
Elvis & Madona é uma narrativa inusitada, contemporânea e seus personagens podem ser seus vizinhos, amigos, seu cabeleireiro, o entregador de pizza de toda sexta. Ou até mesmo você pode ter sido desenhado naquele quadro tão natural e urbano. Elvis & Madona é verdadeiro, não que fosse baseado em uma história real, nada disso, é porque pode acontecer com qualquer um. Minha primeira vez com Biajoni me fe querer ler imediatamente suas outras obras: Sexo Anal – Uma Novela Marrom, e Buceta – Uma Novela Cor-de-rosa, além de Virgínia Berlim – Uma Experiência. Se todas forem assim, tão gostosas de ler, ficarei imensamente feliz. Biajoni é mais um dos autores contemporâneos que dá gosto de ler.
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