psykloz 18/06/2020Já fazia algum tempo desde que lera um Paulo Coelho e havia esquecido-me do quão fantástica é a maneira como ele coloca dimensão humana em seus personagens místicos e a noção de que, na realidade, todos somos iguais com nossos desejos e inseguranças, independente do papel desempenhado na vida.
Eu não sou capaz de ler um livro dele sem pausar para fazer rápidas pesquisas sobre algumas referências que ele traz à história. Desde certos termos, contexto cultural, datas até lugares no mapa. As passagens são repletas de substância, de pequenos aprendizados, citações e por vezes até conteúdo histórico - o que faz com que questionemos se será apenas ficção ou se aquilo em específico entrou nos parâmetros da realidade.
Apaixono-me pelos ensinamentos e perspectivas da existência que ele adquiriu ao longo da vida e partilha no decorrer dos seus romances. Admiro imenso a fé que ele possui na continuação da vida para além daqui. Paulo Coelho inspira-me positivamente a nível que nem sou capaz de descrever. Há muita coisa dita que eu já conhecia indiretamente, mas há muito poder nas palavras quando colocadas da forma correta e direta e ele o faz. Acho importante colocar o pensamento e o conhecimento em palavras porque isso traz imensa força e significado.
Vejo que muitas das críticas que fazem à escrita dele são referentes à gramática que ele usa. Percebo o que querem dizer, embora eu acredite que ele se interesse em conectar-se com os leitores mais do que preservar o formalismo do português. Penso que a principal ideia seja trazer intimidade à história e não fortalecer o muro que separa o "brasileiro comum" da leitura. Não posso dizer por ele, mas eu acredito que seu objetivo principal seja trazer identificação do leitor com seus livros, e isso não aconteceria se a linguagem que ele usasse não fosse o nosso português coloquial informal (e muitas vezes errado) do nosso dia-a-dia. Inclusive nota-se pelo imenso alcance e sucesso que ele teve com suas publicações. As pessoas não querem ler Paulo Coelho para aprenderem regras gramaticais: querem lê-lo a abordar sobre a ponte entre o Visível e o Invisível que ele sabe fazer de forma tão natural quanto necessária.
Um pequeno parêntese de desabafo sobre isso: Não é culpa do Paulo Coelho ou de outros escritores que escolhem essa abordagem gramatical. Infelizmente, no Brasil, nós aprendemos tarde o português formal e correto - próximo à epoca dos vestibulares, quando somos obrigados a ler os clássicos cujo português é escrito de forma a ser percebida como se fosse uma língua estrangeira, tamanho abismo que há entre essa versão e o que aprendemos durante toda uma vida na escola, em casa ou na rua. Toda uma vida no coloquial, não nos identificamos com essa linguagem que até então é completamente nova e estranha. Não ouvimos o português correto nem do professor de português. Eu percebo a diferença que há entre Brasil e Portugal nesse aspecto, porque vivo em Portugal há alguns anos e vejo o quanto as crianças daqui sabem usar os pronomes, as ênclises, os tempos, os advérbios - coisa que no Brasil até os adultos sentem dificuldade. Vejo que é uma questão de ensino mais rígido do idioma presente desde a alfabetização. Aqui não há meios termos. Já nós, brasileiros, inventamos palavras e expressões quase a tempo integral, e o português acadêmico acaba por passar longe durante grande parte da vida, sendo custoso abraçá-lo tardiamente.
Brida é um livro que fala sobre amores no plural e em simultâneo. Os livros do Paulo Coelho sempre abordam a temática da alma gêmea de forma intensa e magnética - através do ocultismo, sobrenatural e divino que transcende o tempo e as encarnações. Ele sempre narra o amor e o desejo sexual de um homem muito mais velho por uma moça muito mais nova - o que me faz pensar que talvez ele tenha sua sexualidade mal resolvida (reprimida), encarnando-se no homem maduro da história que fica com a moça.
De menos positivo sobre este livro, achei que faltou maiores descrições de algumas cenas, dos vestidos, do que as pessoas pensavam ou diziam em determinadas situações. Em alguns momentos eu me senti a ver a história de longe, como se estivesse sendo recontada por outra pessoa que não a criadora da história, ou seja, faltando certos elementos que foram esquecidos.
Por fim, indico Brida ao público que se interessa pelos mistérios do Universo e do sobrenatural, pelo amor, pela fé de quem nunca desiste de buscar o seu Dom e a sua missão.
Um trecho:
"Nunca deixe de ter dúvidas. Quando as dúvidas param de existir, é porque você parou em sua caminhada. Então vem Deus e desmonta tudo, porque é assim que Ele controla os seus eleitos; fazendo com que percorram sempre, por inteiro, o caminho que precisam percorrer. Ele nos obriga a andar quando paramos por qualquer razão - comodismo, preguiça, ou a falsa sensação de que já sabemos o necessário. Mas tome cuidado com uma coisa: jamais deixe que as dúvidas paralisem suas ações. Tome sempre todas as decisões que precisar tomar, mesmo sem ter segurança ou certeza de que está decidindo corretamente. Ninguém erra quando está agindo, se, ao tomar suas decisões, mantiver sempre em mente um velho provérbio alemão, que a Tradição da Lua trouxe até os dias de hoje. Se você não esquecer este provérbio, sempre pode transformar uma decisão errada numa decisão certa. E o provérbio é este: 'O diabo mora nos detalhes.'"