spoiler visualizarPâm 16/01/2022
Foi melhor por vocabulário do que por reflexão. Mas é bom.
Um clássico literário conhecido por todos e mesmo assim cativante. Seu enredo, cheio de reviravoltas, foi bem escrito, de forma que continua a surpreender o leitor em diversas ocasiões, mesmo que o maior de todos os mistérios da história: a origem de Hyde e sua relação com Jekyll, seja de conhecimento geral.
O enredo se passa na Inglaterra do fim do século XIX, e ainda que tenha sido escrito na mesma época, o inglês desta edição é de fácil acesso ao falante proficiente munido de um bom dicionário (usei o online de Oxford).
O livro se propõe a ser uma demonstração da batalha entre o bem e o mal no ser humano; no entanto há dois fatores que enfraquecem essa premissa. O primeiro diz respeito ao fato do conto ser narrado na maior parte pelo amigo e advogado de Jekyll, Sr. Utterson, de forma que o leitor não fica próximo dos pensamentos de Jekyll ou Hyde, e toda essa disputa entre as duas personalidades não pode ser vista. De fato, apenas o capítulo final nos trás a perspectiva de Jekyll, mas esta ainda é pouco detalhado, no sentido que aponta muito as dores do personagem com toda a situação, mas não foca tanto nas causas dessas dores. E com isso, vem o segundo fator negativo, que é a falta de uma definição segura e exemplificada do que seria o bem e o mal dentro do doutor. Tudo o que se sabe é que Jekyll, que seria o melhor dos dois, faz frequentes atos de caridade, mas não é dito quais atos, e o próprio Jekyll, no final, age como se os fizesse por pura vaidade, para se sentir bom e melhor do que seus vizinhos. Da mesma forma, quando ele afirma ter desejos inadequados, não diz que tipo de desejos são esse, e assim o leitor fica apenas com os atos violentos de Hyde, que visam machucar, ofender, assuntar ou matar, o que não é uma forma muito criativa de se desejar o mal.
Contudo, vale ressaltar que Hyde seria o mal extremo, o que justifica sua definição de mal pautada em violência bruta e grotesca, ainda que fique estranho o fato de, sendo esse o caso, só terem havido duas vítimas conhecidas ao longo da história. Também, o livro deixa claro que Hyde é a personificação do mal de Jekyll, mas o próprio Jekyll em nada mudou, sendo um ser humano tão bom e ruim quanto antes, de forma que não existem dois extremos, o bom e o mau, como o doutor proclama no livro.
Em suma, o conto de Robert Stevenson possui uma premissa boa e um enredo original, porém, o narrador é distante, escolhido para manter um mistério que a fama tratou de desvendar, o que deixa os questionamentos mais rasos. A disputa entre bem e mal não é profundamente trabalhada, não havendo uma definição dos dois conceitos, que aparecem, na verdade, de forma bem limitada.