Rodrigo1001 24/09/2019
Conteúdo excelente, edição deplorável (Sem Spoilers)
Tratado Sobre a Tolerância foi escrito pelo filósofo iluminista Voltaire e publicado em 1763 com uma obra de repúdio a um caso verídico acontecido em Toulouse, na França. Na época, Jean Calas foi injustamente acusado da morte do próprio filho e executado com requintes de crueldade. Até o fim, Jean alegou sua inocência, que, enfim, seria provada e sentenciada postumamente pelo Tribunal de Paris em 1765. O caso inflamou a opinião pública francesa, severamente poluída pelo fanatismo religioso, e se tornou emblemático na alteração de medidas jurídicas unilaterais.
250 anos depois e cá estamos lidando com os mesmos temas. A sociedade se modernizou, a medicina avançou, chegamos a lua, descobrimos novas espécies, novos medicamentos, reduzimos as distâncias, chegamos em Plutão. Diante disso, esperava-se uma sociedade mais humana, mais evoluída. Em parte, isso aconteceu, porém, há ainda uma minoria que interpreta a religião de forma belicosa e literal, espalhando, justamente, o contrário do que ela prega.
Eu poderia discorrer sobre isso por inúmeros parágrafos, mas vou parar por aqui, pois o objetivo é analisar a obra e não cair na polêmica. Então, caro leitor, posso te dizer que o conteúdo do livro é fantástico. Assim como em Cândido ou O Otimismo, esse livro de Voltaire é uma bálsamo aos olhos. Suas ideias e seus conceitos atravessam os anos e levantam questões válidas sobre nossas crenças e nosso papel como seres racionais.
É muito bacana ver a contemporaneidade do assunto e o importante recado que deixa pra gente. Em uma época marcada pela disputa entre religião e religiosos, o tema não é só relevante, mas absolutamente necessário.
Enfim, conteúdo à parte, gostaria de alertar a todos contra essa edição da editora Lafonte. Erros ortográficos crassos, erros gramaticas e semânticos, um festival de horrores em uma edição paupérrima. Capa e contracapa em papel de péssima qualidade, áspero ao toque, uma desgraça sem fim.
Me sinto lesado em procurar a iluminação nas palavras de Voltaire justamente em uma edição tão miserável.
Voltaire, com certeza, merecia mais respeito. E os leitores também.
Sugiro que procurem a obra em outra edição, ok?
De volta ao livro, leva 4 de 5 estrelas.
Passagens interessantes:
"Temos religião suficiente para odiar e perseguir e não a temos suficiente para amar e ajudar" (pg. 23)
"O direito da intolerância é, portanto, absurdo e bárbaro; é o direito dos tigres, e realmente horrível, porque os tigres não dilaceram senão para comer, enquanto nós nos dilaceramos por causa de alguns parágrafos" (pg. 42)