Lavoura arcaica

Lavoura arcaica Raduan Nassar




Resenhas - Lavoura Arcaica


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Paulinho 26/11/2014

Poesia e Transgressão
Faz um tempo que queria ler Lavoura Arcaica. Desde que conheci Milton Houtom (Dois Irmãos) em 2011. Porém são tantos livros... esse ano, mais especificamente esse mês decidi reparar minha negligência. O resultado, o melhor livro que li este ano até agora (26 de Novembro). Primeiro a prosa... a poesia. Escrita de maneira lírica linda, o trabalho de escrita é mágico.

“Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, [...].” NASSAR, Raduan, 1935 - Lavoura Arcaica. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 3ª edição. A Partida. Capítulo 01. Página 07.

A narrativa é um quebra-cabeças temporal. Um labirinto de memórias que vai e volta no tempo, nos tempos. Inicia com a chegada de Pedro à pensão onde encontra-se André. A partir daí a narrativa segue vários tempos, a infância, a adolescência, os transtornos dos pensamentos de André as relações familiares. O pai rígido, a mãe extremante afetuosa, Lula, o caçula, que o admira, Pedro que parece seguir os passos do Pai, afinal é o primogênito e Claro Ana, que mesmo posta ao avesso continuaria a ser o que é como o próprio nome. Em um ambiente tão gris, tão rotineiro, tão hermético é compreensível que André se apaixone por Ana, apesar dela ser sua irmã. Ana é transgressão e movimento, é cor e calor.

[...] e não tardava Ana, impaciente, impetuosa, o corpo de campônia, a flor vermelha feito um coalho de sangue prendendo de lado os cabelos negros e soltos, essa minha irmã que, como eu, mais que qualquer outro em casa, trazia a peste no corpo, ela varava então o círculo que dançava e logo eu podia adivinhar seus passos precisos de cigana de deslocando no meio da roda, desenvolvendo com destreza gestos curvos entre as frutas, e as flores do cesto, só tocando a terra na ponta dos pés descalços, os braços erguidos em cima da cabeça serpenteando lentamente ao trinado da flauta mais lento, mais ondulante, as mãos graciosas girando no alto, toda ela cheia de uma selvagem elegância, seus dedos canoros estalando como se fossem, estava ali a origem das castanholas, e em torno dela a roda girava cada vez mais veloz, mais delirante, as palmas de fora mais quentes e mais fortes, e mais intempestiva, e magnetizando a todos, ela roubava de repente o lenço branco de um dos moços, desfraldando-o com a mão erguida acima da cabeça enquanto serpenteava o corpo. NASSAR, Raduan, 1935 – Lavoura Arcaica. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 3ª edição. A Partida. Capítulo 5. Página 28-29.

Devido a essa paixão proibida, interdita, mas avassaladora, ele decidi partir. Mas não é apenas essa a questão. André também foge do cabresto, do futuro de cartas marcadas, das montanhas que são muros da sua vida. Da sua mentalidade diferente, uma mentalidade forçada pela sensibilidade avançada, pelos momentos de solidão e monólogos internos. Solidão que fomenta a reflexão. Reflexão sobre o tempo, a família, a vida, o amor, o corpo. Por esse sopro de universalidade e por uma prosa em um português magnífico, uma narrativa que exige trabalho mental do leitor, faz desse livro uma obra de extrema relevância para a nossa literatura e porque não? Pela literatura Mundial. Assim que terminei assisti o filme. Soberbo! Mas isso já é uma outra resenha. Já quero reler esse livro.
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Valério 10/11/2014

Fora do comum
Breve história. Forte, densa, tensa.
O protagonista está em conflito existencial.
A história começa com seu irmão mais velho o buscando para que torne à casa paterna. E então, em reminiscências cuidadosamente descritas pelo autor, em desenrolar sucessivo de emoções profundas, o leitor vai sendo inteirado da vida da família até ali.
Ares de drama shakesperiano, questiona os valores tradicionais, com digressões que incluem a retidão e o pecado, Deus e o Diabo.
Paixão, dor, incompreensão, dúvida, enfrentamento, sufocação, ansiedade, luta, nojo. Algumas, mas não todas as sensações contidas e transmitidas pelo livro.
Leitura poderosa. Sem dúvida, um dos maiores clássicos da literatura brasileira e não tem o destaque que merecia.
Contudo, leitura difícil, mais recomendada para quem já adentra mais profundamente o mundo literário.
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Jéssica Férrer 18/06/2014

Prodigalidade, lirismo e tragédia
O romance Lavoura Arcaica é publicado pela primeira vez em 1975, pela editora José Olympio. Narrado em primeira pessoa, conhecido como a ‘parábola do filho pródigo às avessas’, o livro aborda as aspirações e contradições de André, proveniente de uma numerosa e tradicional família. Na fazenda, a tradição, a religiosidade e o trabalho são leis. O protagonista decide partir de casa por duas razões interligadas: primeiro por não suportar mais as duras imposições morais presentes nos preceitos familiares, e, sobretudo, pela paixão incestuosa que ele nutre pela irmã Ana.
A obra está dividida em duas partes: ‘A partida’ e ‘O retorno’. A primeira é composta por vinte e um capítulos, e inicia-se com o personagem já longe de casa, recebendo a visita do irmão mais velho que o vai resgatar. O tempo da narrativa não é linear. A partir do encontro na pensão em que ocorrem os diálogos entre os irmãos, são intercalados capítulos em que estão inseridos flash-backs e analepses de André. Entre outras coisas, ele rememora a infância na fazenda, as festas familiares, os sermões do pai, os cuidados da mãe e a relação incestuosa que ele consuma com a irmã. A segunda parte inicia com o regresso do personagem. Formada por por nove capítulos, narra a volta de André à fazenda, a alegria que sua presença causa aos integrantes da família, o diálogo do filho com o pai, o encontro de André com o irmão mais novo, e, por fim, a festa de comemoração por sua chegada, onde acontece o desfecho trágico.
A linguagem elaborada, predominantemente lírica, é um dos pontos de maior relevo em Lavoura Arcaica. A pontuação e a disposição dos parágrafos também se dão de modo peculiar, principalmente na primeira parte do romance, em que a todos os capítulos são escritos num parágrafo único , acentuando, assim, os fluxos de consciência do narrador-personagem, que são recorrentes na obra e sobressaem pela rebuscada escolha vocabular.
Gildo Henrique 07/06/2016minha estante
Estou terminando Letras/Literaturas de Língua Portuguesa no IFF e terminei hoje de ler o livro de Raduan Nassar (que, aliás, foi tema de tesa de minha professora). Confesso que esperava mais. Acho que estão vendo chifres em cabeça de cavalo. Uma bela narrativa emoldurada de vazios, com uma construção estilística que privilegia vírgulas e parênteses, mas que peca na arquitetura psicológica do personagem-narrador: como explicar a erudição (ele chega a pronunciar "sintaxe") num camponês que nunca saíra das cercanias da fazenda? O filme, acabei de assistir a ele agora: fiel ao livro: aos monólogos repetitivos e prolixos, à chatice das sonolentas e turvas cenas, ao silêncio de uma câmera que busca a pena do escritor pelo cenário. Ainda sobre o filme: crianças acenando para o trem, na zona rural e vestidas de camisa branca...? Tenha dó.




Kyumie 11/06/2014

Uma belíssima de uma bosta!
Pra inicio de conversa, nao tem parágrafo nem ponto final (no meio dos capitulos) é vírgula atras de vírgula!! As vezes sao 5 paginas seguidas só de vírgula (se vc achar um ponto e vírgula vc ta no lucro) Insuportavel de ler, palavroso até o ultimo fio de cabelo, e como se isso ja nao bastasse tem erros gramaticais nada a veeer. Ex: "Te amo Ana" Te amo?? TE amo???? Ô meu querido, é AMO TE, te amo nao existe! O que adianta falar "profusas drosófilas" se chega na hora da gramática comete um errinho besta. E além do mais é nojento, é uma completa bagunça!

Tive que escrever isso, afinal é a minha opinião e é isso que significa resenha. Tava entalado na garganta, somado com a raiva de terem tirado Domcas da lista da federal, mas enfim, pronto falei.
Tiago 14/06/2014minha estante
Isso que você escreveu não é nem uma resenha e belíssima de uma bosta é seu comentário.Nem percebe que a falta de pontos finais dá a beleza no texto e te amo é bem mais usual que amo-te.


Fran 26/08/2014minha estante
Concordo plenamente com você. Só estou lendo por obrigação, porque verdadeiramente o livro é uma bosta! Me surpreende um livro tão ''renomado'', ser tao pobre na linguagem, confuso e com a pontuação do jeito que é. Uma droga.




Livretando 17/01/2014

Resenha: Lavoura arcaica
Raduan Nassar, autor Brasileiro, em seu livro Lavoura Arcaica, utiliza de sua narrativa poética para contar a história de André, filho do meio de uma família de fazendeiros cuja autoridade máxima está no pai, que é tido como o modelo que deve ser seguido por todos os filhos. Narrada em primeira pessoa, a história inicia com André em um quarto de pensão fugido de casa, em uma tentativa de esquivar-se do autoritarismo do pai e principalmente da paixão proibida que sentia por sua irmã mais nova, Ana.

Passado algum tempo após a partida de André, Pedro - o irmão mais velho - decidi ir ao seu encontro para fazê-lo retornar ao lar, onde sua mãe sofre pela sua saída e suas irmãs rezam pelo o seu retorno. Ao encontrá-lo, Pedro conta os acontecimentos que sucederam após a partida do irmão, em uma forma de comovê-lo. À partir deste ponto presenciamos uma série de diálogos muito fortes em que André demonstra sua revolta e a vontade de ficar distante da fazenda onde crescera. Após muita conversa, Pedro consegue convencer André a retornar para casa, mas a grande questão é: Como André será recebido por seu pai? E como ele irá lhe dar com a paixão que sente por Ana?

Percebemos nesta obra algumas referências religiosas, sendo elas histórias encontradas na Bíblia, como a de Tamar e Absalão, e também nos lembramos da parábola do filho pródigo. Além disso, o autor utiliza outros símbolos religiosos para compor o seu texto, como por exemplo, trechos do Alcorão.

Este não é um livro simples de ser compreendido e um dos principais motivos é que em grande parte do texto o escritor só utilizar ponto final para concluir os capítulos, porém encontramos muita beleza e riqueza na sua narrativa, o que faz da experiência de lê-lo algo único. Nassar tem uma forma muito peculiar de escrever e graças a esse estilo ele foi premiado pela Academia Brasileira de Letras com o prêmio Coelho Neto e também foi contemplado com o Prêmio Jabuti, além de receber outras premiações.

A história também foi adaptada para o cinema, dirigido por Luiz Fernando Carvalho e interpretado pelos atores Selton Melo, que vivencia André, e Raul Cortez, o pai. O filme assim como o livro é muito rico e tornou-se uma excelente adaptação que conseguiu captar a essência da história, levando para as telas toda a poesia de Nassar, além de fazer um auxílio na compreensão da narrativa.

site: http://livretando.blogspot.com.br/2012/10/lavoura-arcaica-raduan-nassar.html
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Melo 12/01/2014

Minha inspiração
Raduan Nassar é o autor que, através de Lavoura Arcaica, serviu-me como inspiração total para meus livros (ainda não publicados). Devo dizer que Wanderley Assis apresentou-me tal autor e mal sabe ele o quanto fez-me bem à psique.
A introspecção de André -- revelando todo o lado oco de sua família que é aparentemente muito sustentada sobre si, exibindo além do mais uma narrativa que explora a linguagem, o novelesco, o lírico, o belo, o ser -- é de uma grandeza, uma maturidade de escrita, uma singularidade que eu desconhecia nas escritas julgadas como Contemporâneas.
Lavoura Arcaica é daquele tipo de livro que entra em sua vida e, de tempos em tempos, seu cérebro haverá de pedir-lhe para lê-lo novamente porque você sentirá falta da história chocante-bela, do modo de narrar divisor de águas, da profundidade sentimental de um filho tão padecido de seu amor-pecado, de seu desejo-monstro, que toca a capacidade de Kafka, em Carta ao Pai, de lhe dominar completamente.
Sou um grandioso fã de Raduan Nassar.
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Leonardo 12/09/2013

Um livro sobre desejos reprimidos
Com esse livro, completei a leitura de todos os romances de Raduan Nassar. Além de Lavoura Arcaica, seu outro romance é Um copo de cólera, resenhado aqui. E só. Escreveu alguns contos, publicados na obra Menina a caminho. Aposentou-se ainda em 1984 para dedicar-se à sua fazenda, no interior de São Paulo.
Apesar da obra tão curta, Nassar é admirado pela crítica e seus dois romances viraram filmes também bastante elogiados. Um copo de cólera é uma pequena pérola. Um livro curto, mas arrebatador, que diz muito. Encontrei Lavoura Arcaica no sebo e nem titubeei. Finda a leitura, fica evidente o talento de Raduan Nassar. Lavoura Arcaica conta uma história simples: André foi criado no seio de uma família simples e de valores bem tradicionais, na zona rural. Seu pai é uma figura sempre presente, com seus sermões sobre o tempo e sobre os valores religiosos. André não suporta aquela vida e foge para a cidade. Seu irmão mais velho, Pedro, encontra-o numa velha pensão e leva-o de volta para casa. A história deste retorno é entrecortada com a conversa entre André e Pedro, quando o irmão mais novo conta os motivos que o levaram a fugir de casa.
A maneira como Raduan Nassar conta, entretanto, não é usual. Ele explora muito os sentidos, a intimidade de André, expressando-se sempre por meio de muitas metáforas. O livro todo passa a impressão de ser poesia travestida de prosa, a começar pela primeira cena, que descreve o jovem André se masturbando no chão do seu quarto de pensão.
Os capítulos, apesar de curtos, não têm parágrafos. É como se o protagonista vomitasse tudo, numa torrente inquietante de pensamento. Se, de um lado, a narrativa de André é confusa, não são menos misteriosos (e belos!) os sermões de seu pai sobre o valor do tempo.
Vejam abaixo uma coleção de ais, bem ao estilo bíblico, dirigidos àqueles que não têm paciência, que desafiam a capacidade transformadora do tempo:
“Não se profana impunemente ao tempo a substância que só ele pode empregar nas transformações, não lança contra ele o desafio quem não receba de volta o golpe implacável do seu castigo; ai daquele que brinca com fogo: terá as mãos cheias de cinza; ai daquele que se deixa arrastar pelo calor de tanta chama: terá a insônia como estigma; ai daquele que deita as costas nas achas desta lenha escusa: há de purgar todos os dias; ai daquele que cair e nessa queda se largar: há de arder em carne viva; ai daquele que queima a garganta com tanto grito: será escutado por seus gemidos; ai daquele que se antecipa no processo das mudanças: terá as mãos cheias de sangue; ai daquele, mais lascivo, que tudo quer ver e sentir de um modo intenso: terá as mãos cheias de gesso, ou pó de osso, de um branco frio, ou quem sabe sepulcral, mas sempre a negação de tanta intensidade e tantas cores: acaba por nada ver, de tanto que quer ver; acaba por nada sentir, de tanto que quer sentir; acaba só por expiar, de tanto que quer viver; cuidem-se os apaixonados, afastando dos olhos a poeira ruiva que lhes turva a vista, arrancando dos ouvidos os escaravelhos que provocam turbilhões confusos, expurgando do humor das glândulas o visgo peçonhento e maldito; erguer uma cerca ou guardar simplesmente o corpo, são esses os artifícios que devemos usar para impedir que as trevas de um lado invadam e contaminem a luz do outro, afinal, que força tem o redemoinho que varre o chão e rodopia doidamente e ronda a casa feito fantasma se não expomos nossos olhos à sua poeira?”
E o pai continua seu sermão, que, como é possível perceber, concentra-se muito na pureza e na vigilância em relação à carne. Isso porque André é um sujeito de sexualidade atormentada, nutrindo inclusive um amor incestuoso por sua irmã.
Ler Lavoura Arcaica requer atenção completa, ou você se perde e não desfruta da prosa tão rica. Não é, portanto, um livro fácil. Mas a recompensa é grande.


site: http://catalisecritica.wordpress.com/
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Aninha 02/08/2013

Final arrebatador
Raduan Nassar
Companhia das Letras - 194 páginas

"...Nós nos olhamos e num momento preciso nossas memórias nos assaltaram os olhos em atropelo, e eu vi de repente seus olhos se molharem, e eu senti nos seus braços o peso dos braços encharcados da família inteira..." (página 9)

André sai de casa e se refugia em uma pensão na cidade, pois não concorda com a forma como o pai conduz a vida da numerosa família na fazenda. Além disso ele ama Ana, sua irmã.
Pedro, o irmão mais velho, o encontra na pensão e tenta convencê-lo a voltar, afinal a família toda está sofrendo - e muito!

A partir daí, vemos não apenas o embate de palavras entre os irmãos, mas as lembranças de André, em diversos momentos do tempo.
Finalmente, ele se sente livre para dizer o que pensa: confessa seus medos, seu amor incestuoso e sua inconformidade com a tradição paterna.

O final é arrebatador.

Leitura forte e obrigatória

site: http://cantinhodaleitura-paulinha.blogspot.com.br/2013/07/lavoura-arcaica.html
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Israel145 21/05/2013

“Lavoura Arcaica” foi a primeira publicação de Raduan Nassar e que firmou seu nome como um dos grandes escritores nacionais apesar de sua breve carreira. A fama do autor se justifica pela sua obra. O livro traz uma estética elegante e com uma singular construção do encadeamento do ritmo da história que dá saltos de avanço e saltos de regresso no tempo que vai se afunilando em torno de uma linha que é a trama principal: o crepúsculo de uma família ultraconservadora e claro, arcaica.
André, o personagem principal foi baseado no clássico “filho pródigo”, tema de infinitas parábolas e histórias. Ele é um transgressor e sabe disso. A sua angústia transborda em cada página narrada num ritmo frenético e angustiante num misto de violência e ternura, raiva e amor. Seu pai, um velho fazendeiro da mais alta estirpe patriarcal, misto de pregador e tirano, divide a família em nichos cada qual com sua hierarquia na estrutura para manter sua velha lavoura, o sustento e a razão de viver daquela família. André se opõe a isso. Se opõe ao pai, se opõe a Deus, se opõe à natureza. Nada pra ele é vedado e suas transgressões não tem limites em sua ânsia de justificar seu modo torto de vida. À medida que a trama se desenrola até alcançar o seu final magistral, André também se mostra um câncer que contamina os demais irmãos com seu ódio desmedido.
Infelizmente a obra de Raduan Nassar se resume a 3 livros publicados até seu desligamento dos meios literários. A razão ninguém sabe ao certo, mas pelo menos se tratando dessa obra, o autor figura com certeza entre os mais importantes da literatura nacional e a torna peça fundamental em qualquer biblioteca que se preze.
schmidt 22/05/2013minha estante
Excelente resenha Israel. "Se opõe ao pai, se opõe a Deus, se opõe à natureza". Muito bom.




Vania Carvalho 18/04/2013

Mais do que uma história intensa o livro é poesia, como se confere no trecho:

"É preciso refrear os maus impulsos, moderar prudentemente os bons, não perder de vista o equilíbrio, cultivar o autodomínio, precaver-se contra o egoísmo e as paixões perigosas que o acompanham, procurar encontrar a solução para os problemas individuais sem criar problemas mais graves para os que são de nossa estima, ponderar em cada caso o mesmo tronco, a mão leal, a palavra de amor e a sabedoria dos meus princípios (faz ref. lavoura arcaica . raduan nassar)

depois de ler o livro vale a pena asssitir o filme!
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Pricilla 27/01/2013

Filho pródigo
Lavoura Arcaica é um romance que narra a história de André, adolescente que vive com os pais e irmãos em uma fazenda. Num ambiente marcado pela austeridade do pai, carinho da mãe e simplicidade do lugar, André se apaixona por Ana, sua irmã. Não sendo correspondido resolve fugir dos próprios sentimentos e da vida pacata. Pedro, irmão mais velho consegue que André retorne ao seio da família para felicidade de todos, principalmente dos pais que ordenam a realização de uma festa. Durante o evento Pedro conta ao pai sobre os anseios de André. Ao saber de sentimentos tão pecaminosos o patriarca têm um ataque fulminante e morre.
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Eduardo 06/01/2013

Apesar do início extensamente adjetivado, com relatos de sentimentos analogicamente comparados às experiências do campo, com os instrumentos que o personagem conhecia de sua vida rural, o livro torna-se interessante se, com paciência, soubermos compreender o tolhimento sofrido pela educação patriarcal recebida, e daí tirarmos o que, efetivamente, o autor procurou demonstrar. Leitura extremamente reflexiva, intensamente válida para nossas vidas, a comparar o que vivemos, o que sofremos, o que gozamos, a título de valores morais em conflitos que o que não queremos deles aceitar. Paciência... muita paciência com os períodos extremamente extensos, mas ricos em narrativa! Valeu!
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Gessika 21/11/2012

Arrebatador e ousado
O livro cheira mal e escancara o lado podre das abstrações humanas, mas de uma forma estranha, não se deixa ser abandonado. E imediatamente após a primeira leitura, surge a vontade de ler outra vez e o que se afigura na releitura parece já não ser mais a mesma coisa que tinha sido. É estranho, incrível, revelador.
"Nenhum grão de mais, nenhum instante de menos, para que [...] não encontrasse o desânimo na carência nem na fartura"
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Day 31/08/2012

Lavoura Arcaica - Imprescindível!
"Conversar é muito importante, meu filho, toda palavra, sim, é uma semente."

Raduan Nassar é escritor contemporâneo, de narrativa ímpar, nascido em São Paulo, Pindorama. Filho de libaneses, é escritor contemplado até mesmo pela Academia Brasileira de Letras com seu livro único Lavoura Arcaica, que pode ser considerado e comparado com uma obra de Rimbaud. Quiçá nem haja comparação plausível para o livro Lavoura Arcaica.

Estudou Filosofia, Direito, Ciências Sociais, e o curioso é que na fase do ensino médio, Raduan sofreu ataques de convulsão e ficou com deficiência de memória, o que fez com que o escritor premiado até no exterior ficasse afastado dos estudos por algum tempo.

A estória de Lavoura Arcaica é, no mínimo histórica. Seu irmão Raja, único leitor de seus ensaios pegou seus manuscritos e mostrou para amigos da faculdade de Filosofia onde Raduan e seus cinco irmãos estudaram. Esses manuscritos acabam chegando às mãos de Dante Moreira Leite que os encaminha à editora Olympio. No ano seguinte, a José Olympio publica Lavoura Arcaica.

O livro ganha, em 1976, o prêmio Coelho Neto para romance, da Academia Brasileira de Letras, cuja comissão julgadora tinha como relator o crítico e ensaísta Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde). Recebe, ainda, o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (na categoria de Revelação de Autor) e Menção Honrosa e também Revelação de Autor da Associação Paulista de Críticos de Arte — APCA.

Em 1982 sai a edição espanhola de Lavoura Arcaica, pela editora Alfaguara, de Madri. Segunda edição do mesmo livro pela Nova Fronteira, do Rio de Janeiro. A Editora Gallimard, da França, lança Lavoura Arcaica e Um copo de cólera (outra obra prima do autor) num só volume, em 1984.

Em 1987 a editora Suhrkamp lança o livro Lateinamerikaner über Europa, uma coletânea de ensaios e depoimentos de escritores latino-americanos sobre a Europa, organizada por Curt Meyer-Clason, que inclui A corrente do esforço humano, de Raduan Nassar.

A revista espanhola El Paseante publica, em 1988, os contos Aí pelas três da tarde e O ventre seco (o primeiro seria publicado ainda na Folha de São Paulo em 1989 e o segundo, também neste ano no Jornal do Brasil).

Sai a terceira edição de Lavoura Arcaica, em 1989, pela Companhia das Letras, de São Paulo, hoje em sua quarta reimpressão.
O Livro

Preciso começar pela fantástica estilística de Raduan nesta obra eterna, uma narrativa subjetiva, narrada por André, filho do meio de uma família de camponeses. Este rapaz observa a vida, as tragédias e os sentimentos das pessoas da casa, mas seus olhos se detém em sua irmã mais nova, Ana. Através de um amor livre de qualquer censura ou limite por esta irmã, André vai carpindo o horror analítico das relações humanas, compara o amor a uma aventura diabólica e se pergunta, de forma lírica e desesperada se ir-se embora daquela casa não seria melhor e menos trágico. Fascinante monólogo íntimo onde o leitor se vê um intruso nos sentimentos mais puros que um ser humano pode ter.

Esta novela trágica, merecidamente premiada e lida em todo o mundo, tráz a marca indiscutivelmente sublime de Raduan Nassar narrar a história da vida, as amarguras, os anseios e as dúvidas que habitam as almas em seus recantos mais escuros, guardados em segredo pela ética e moral que o personagem André, de Lavoura Arcaica, questiona do começo ao fim do livro. São cem páginas para serem lidas sem respirar, não procure parágrafo nem muitos pontos finais, pois André está no fim da linha de seus pensamentos, no meio do nada, no meio do mato, em meio a angustiante e complexo amor.

Lavoura Arcaica é livro obrigatório, faz parte da vida de pessoas em todo o mundo e nosso autor é comparado, de certa forma, a Rimbaud que abandonou sua arte para viver como mercenário na África. Mas nosso Raduan Nassar, embora também tenha desistido de escrever para espanto do mundo literário mundial, gosta de ser visto até os dias atuais como escritor, mesmo tendo se tornado um simples criador de galinhas em sua fazenda no interior de São paulo.

Críticos e analíticos da Literatura se perguntam por que Raduan Nassar teria se afastado da escrita, da manipulação do verbo. Muitos especulam que em Lavoura Arcaica, o escritor tenha deixado expor excessivamente seu interior. Quem lê este livro pode entender alguma coisa do que escrevi aqui. É fascinante, fantástico, uma prova de que o homem, o escritor pode desdobrar barreiras de tabus e preconceitos que nós, simples mortais, jamais imaginaríamos. E toda estória é narrada de forma lírica, trágica, incomum e muito bela. Sem igual. Eu li duas vezes e virou meu consultor de vida nas horas de angústia e questionamentos. Emocionantemente belo. E tragicamente lírico.

Infelizmente Raduan Nassar não soube lidar com o sucesso. Resolveu trocar a estética complexa e desregrada do verbo pela mecânica suave e simples da avicultura. Lamentável.
Day 01/09/2012minha estante
Publiquei a resenha (antiga) sem revisar. Perdoem-me, leitores, eventuais erros hehe.




Marcelo 18/04/2011

Gozado, mas também acho o grande protagonista do livro, o texto do Raduan. Tá bom, a história é grandiosa, mas a prosa do autor é vigorosa e apaixonante, daquelas que nos tiram o fôlego e soam como música aos ouvidos.
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